Design e comunidade

Sex, 05/04/2013 - 12:42
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Para Paula Dib, a formação em design, por sua abrangência, possibilita o desenvolvimento no aluno de um olhar global ou holístico acerca do ser humano. “Como disse Adélia Borges, ‘o design é uma profissão social por natureza’. O arquiteto cria a casa e nós criamos todos os objetos que se relacionam diretamente com o homem. Com o passar dos anos esse nosso mundo foi se enchendo de coisas e objetos e naturalmente foram surgindo questões e considerações sobre o ciclo de vida dos produtos, a geração de lixo. Passamos a considerar os materiais com mais atenção e hoje este olhar criativo e curioso do designer não se atém apenas ao desenvolvimento de objetos”, ressalta.

Esta capacidade do olhar do designer de perceber oportunidades e transformá-las de forma criativa e inusitada gerando não só mais produtos, mas ativando uma cadeia que termina por beneficiar muitas pessoas,
transformando o designer de produtos em um designer de processo, construiu um caminho natural à criação comunitária. “É assim que venho desenvolvendo o meu trabalho. Atuo em diversas localidades, ativando o que este lugar tem de potencial transformador. Neste processo são consideradas as pessoas, suas histórias e habilidades, a história do lugar e os materiais disponíveis, entre outras coisas. Daí surge uma solução que está de acordo com a vocação deste lugar e de quem está envolvido. Certamente é um trabalho embasado em valores humanos que levam em conta aspectos ambientais e sociais.”

Entre alguns trabalhos que destaca está o desenvolvido em uma escola em Londres, onde construiu com toda a comunidade escolar uma intervenção arquitetônica bi-dimensional, trabalhando a unidade na diversidade com intuito de reduzir a crescente onda de violência entre alunos de diferentes etnias.

No Brasil, Paula trabalhou no Sertão do Ceará no projeto Caboclo. “Reativamos a produção dos mestres sapateiros, resgatando valores e qualidades e reposicionando-os no mercado. O trabalho que começou com um artesão hoje conta com 23”, comemora.

Por enquanto, os produtos são vendidos apenas fora do país, principalmente para Europa. No mês passado, o grupo fez a primeira exportação para o Japão. O projeto nasceu embasado em uma técnica artesanal preciosa que é passada de geração em geração, mas que hoje, frente à modernidade, havia se perdido. “Existe uma frase do escritor Antonio Lino que diz: rumo ao futuro, faça presente o melhor do seu passado. Este é o valor que conduz o trabalho no sertão. É a vontade de gerar sandálias e sapatos feitos a mão e com muitas histórias pra contar.”

Outro momento importante de sua carreira aconteceu em Moçambique, na África. “Em um cenário de escassez total foi preciso desenvolver um olhar para abundância e ensinar educadores do vilarejo Impire a desenvolver brinquedos e materiais pedagógicos com materiais encontrados localmente. Foi maravilhoso ter a chance de transformar bambus, palha de milho, argila, fio de pneu entre outras coisas, em uma coleção de brinquedos e ver educadores multiplicando as técnicas em outras vilas na região.”

Em 2006, Paula Dib recebeu o prêmio Jovem Designer Empreendedor do Ano, na Inglaterra, por conta de seus trabalhos desenvolvidos junto com comunidades de artesãos. É um prêmio que congratula a trajetória dos artistas. “No meu caso, a minha abordagem no design foi considerada muito inovadora pelo júri. Eles ficaram surpresos de ver o design sair de um plano material e estético e seu ampliar o repertório e atuação. Certamente foi um momento muito importante na minha carreira. Receber um prêmio internacional quando estamos desenvolvendo um trabalho inovador endossa e dá credibilidade. Foi um grande impulso.”

O Projeto "Caboclo", junto com os Sapateiros do Sertão, segue em frente. A experiência bem sucedida no Nordeste brasileiro virou um filme documentário, dirigido por Paula e outros diretores, chamado "Sandália de Lampião", que em breve será exibido na TV Brasil.

Sua mais nova empreitada é a criação do Laboratório de Inovação Social e Sustentabilidade. “Quero dividir estas práticas e desenvolver outras novas junto a universidades, me interessa muito contribuir na formação dos jovens.”