Projeto de Niemeyer em Trípoli foi tema de palestra na FAU

Qui, 06/05/2010 - 11:28

Fotos: arquivo pessoal de June Kosimar e Joseph Nasr

Na próxima segunda-feira ocorre na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), na capital paulista, a palestra “A Feira de Exposições de Trípoli, no Líbano: projeto de Oscar Niemeyer (1960)”. O tema será apresentado por June Kosimar, professora da Ryerson University, emToronto, e Joseph Nasr, professor associado da American University of Beirut.

Em entrevista para o ICArabe os dois pesquisadores contam porque decidiram estudar o complexo arquitetônico construído por Oscar Niemeyer, em Trípoli, no Líbano, criado para ser um espaço de exposição permanente voltado a mostras internacionais de diferentes áreas. “Nós tínhamos muita curiosidade sobre este trabalho inicial que  prenunciou os elementos mais tardios que vemos nos projetos mais famosos de Niemeyer”, dizem eles.

Por que a Feira de Exposições de Trípoli foi construída?
A Feira foi criada para ser um espaço voltado diversos tipos de exposições: comerciais, culturais, artísticas, etc. Trípoli é a segunda cidade mais importante do Líbano e sempre foi marcada por problemas econômicos e urbanos. Assim, a construção desse espaço teve o objetivo de trazer um grande e proeminente projeto para a cidade, melhorando sua imagem.  

Quando o projeto foi construído?
O design dos prédios e o planejamento do espaço, caracterizado por uma área bem vasta, foi feito em 1962, antes de Niemeyer deixar o Brasil e ir morar França. Ele foi ao Líbano com dois assistentes - um arquiteto brasileiro, Sr. Camargo, e um escultor francês, Sr. Dimanche - por cerca de três semanas para preparar sua proposta para a construção da Feira de Exposições. Depois partiu. A construção foi muito lenta. Em 1975 o projeto estava quase pronto, mas foi interrompido durante a guerra civil no país, sendo retomado e finalizado após o conflito, no início da década de 1990. 

Que caminhos vocês seguiram para pesquisar esse projeto?
Pesquisamos em jornais, publicações científicas e livros libaneses, brasileiros e onde mais pudéssemos encontrar fragmentos da história desse projeto e do papel de Oscar Niemeyer em seu desenvolvimento. Nós também entrevistamos diversas pessoas que estiveram diretamente envolvidas no projeto.

Vocês chegaram a conhecer Niemeyer pessoalmente?
Sim, tivemos a grande felicidade de entrevistá-lo no verão de 2007, especificamente sobre a Feira, um projeto pelo qual ele diz ter enorme apreço. Ele contou que sua ideia ao realizar o projeto era de ter um edifício longo, onde todos os países expositores pudessem compartilhar o mesmo espaço. 

Qual é a sua análise sobre este projeto?

A primeira questão que tivemos foi por que o governo libanês escolheu um brasileiro para este projeto tão importante. A resposta não é simples. O embaixador do Brasil no Líbano era amigo do ex-presidente brasileiro Juscelino Kubischek, então essa era uma conexão. Além disso, as imagens notáveis da modernidade que se projetaram no Brasil pelas mãos de Niemeyer, como a Pampulha e Brasília, chamaram a atenção de todo o mundo. Diversos elementos que passaram a ser usados regularmente por Niemeyer como parte de seu “vocabulário” arquitetônico foram pela primeira vez testados na Feira de Exposições de Trípoli. Os clientes libaneses respeitaram tanto suas ideias que quando ele pediu que o terreno fosse mudado de um formato retangular para um oval, o governo comprou uma área extra para atender à requisição. 

Que impacto o projeto de Niemayer causou no Líbano?
A Feira, como espaço de exposição, não teve sucesso no que pretendia. Nunca funcionou de maneira séria. Era pouco conhecida internacionalmente apesar de ser uma dos mais significantes projetos de Niemeyer. No Líbano e no mundo árabe também não é famosa, mesmo tento mudando a forma urbana da cidade de Trípoli. Hoje o design dos prédios chama mais a atenção do que o objetivo do espaço. O local se transformou em um bonito parque com grandes esculturas interessantes, em lugar de um verdadeiro espaço de exposição, ativo. 

Para que o espaço é então utilizado atualmente?
Cada prédio da Feira foi criado para desempenhar uma função específica, como um teatro, um museu, um pavilhão permanente do Líbano, entre outros. Exceto o teatro, nenhum dos prédios é hoje usado para o que foi construído originalmente. Às vezes, o espaço recebe pequenas exposições, como feiras de livros, ou ocorrem concertos no teatro. Existem propostas para transformar o complexo em um parque de diversões ou em uma universidade.  

Por que vocês escolheram esse projeto para pesquisar?
Nós tínhamos muita curiosidade sobre este trabalho inicial que  prenunciou os elementos mais tardios que se vê nos projetos mais famosos de Niemayer. Além do fato de um projeto dessa magnitude ser tão pouco conhecido, sendo apenas mencionado até mesmo nos livros oficiais sobre o arquiteto.  

Quais são as expectativas de resultados dessa pesquisa?
Esperamos que os resultados dessa pesquisa façam a Feira de Exposições de Trípoli ser reconhecida como o primeiro grande projeto realizado por Niemeyer fora do Brasil.

A foto

A imagem apresenta o reflexo de June Kosimar e Joseph Nasr na janela do principal hall de exibição da Feira de Exposições de Trípoli. O reflexo arquitetural integra o vocabulário utilizado por Niemeyer em seu trabalho. 

 

Serviço:


Data:
10/05/2010

Moderador:
Prof. Dr. Rodrigo Queiroz

Coordenação:
Prof. Emílio Haddad (AUT)

Local: Faculdade de Araquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) - Sala 812 - Rua do Lago, 876. Cidade Universitária. São Paulo - SP.

Horário:
13h

Telefone para contato:
Setor de Eventos - 3091.4801/1603