Obama e o petróleo do Iraque

Qui, 21/01/2010 - 18:00
Com a eleição de Barack Obama acreditava-se que algo mais concreto poderia acontecer para que fossem aplicados os planos de paz para o Oriente Médio já estabelecidos e as dezenas de tentativas de implementa-los. Qual o quê. A Casa Branca não consegue, ou não tem interesse, em pressionar Israel a aceitar qualquer tipo de negociação.

O gabinete do primeiro-ministro Beniamin Netanyahu, com Avigdor Lieberman como ministro das Relações Exteriores de Israel, radicalizou as posições mais sectárias de Israel. Não admitem um estado palestino, não cessam de aumentar as colônias na Cisjordânia e Jerusalém, estão varrendo os palestinos de suas casas em Jerusalém, cercando sua mesquita sagrada, continuam estendendo a construção do muro de isolamento de palestinos na Cisjordânia, que já tem mais de 600km de extensão ocupando mais 10% dos territórios palestinos.

Nada em relação a situação da volta dos refugiados expulsos, não abrem o bloqueio de Gaza, ao contrário, fecham mais, ridicularizam as posições de Mahmud Abbas, laico conciliador da OLP/Fatah, enfrentam a diplomacia americana e europeia com rodeios e evasivas, interromperam as conversações com a Turquia em relação ao Golan ocupado, continuam sobrevoando o sul do Líbano, continuam com incursões de ataques mortais a palestinos do Hamas, continuam impedindo a entrada de observadores, jornalistas e ajuda humanitária a Gaza.

Enfrentam a oposição internacional a esta política belicista, expansionista e genocida com artimanhas diplomáticas e declarações ilusórias de modo a justificar estes atos como auto defesa do Estado de Israel e não expansionismo e limpeza étnica. Os EUA, a Europa e o resto do mundo nada podem fazer para dar continuidade de solução a qualquer plano de paz mínimo. Israel não arredará um centímetro de suas posições, ao contrário, está cada vez mais agressiva e expansiva. Já pensam em construir outro muro no Sinai, fronteira com o Egito.

Enquanto não mudar a correlação de forças militar e política no Oriente Médio não haverá paz. Enquanto o Egito, a Jordânia e a Árabia Saudita forem aliados incondicionais dos EUA esta correlação de forças não vai mudar. Só a Síria e o Irã apoiando a luta dos palestinos não são fortes o suficiente para peitar Israel com seu exército espetacular.

Em 28 de Dezembro de 2009 completou um ano da terrível matança e destruição de Gaza. Houve manifestações no mundo todo em protesto contra a continuidade do bloqueio e o abandono da reconstrução da cidade. Ainda existem mais de 15.000 desabrigados por moradias destruídas vivendo em tendas improvisadas. Crianças sem assistência e sem escola. Fome, miséria, condições sub humanas para um milhão e meio de pessoas. O mundo todo ignora esta tragédia, inclusive árabes e muçulmanos aliados aos EUA e portanto indiretamente a Israel.

Um comboio com 150 veículos e mais de 1.000 pessoas não puderam entrar em Gaza para prestar solidariedade. Foram barrados no porto de Aqaba no Mar Vermelho pela diplomacia egípcia aliada dos EUA e Israel. Essa comitiva, chamada de “Linha da Vida III”, foi organizada por Gerge Galloway, deputado inglês da Casa dos Comuns, que juntou voluntários, intelectuais ativistas de ONGs de direitos humanos da Europa e do mundo árabe para levar víveres, medicamentos e assistência humanitária. Foram obrigados a atravessar toda a Síria até o porto de Lataquie e de lá embarcar em navios turcos e aviões cedidos pela Turquia e Síria para atingir o porto e o aeroporto de Al Arish no Sinai e daí poder entrar em Gaza.

A hegemonia americana no mundo um dia termina. Sua economia não pode suportar despesas de guerra, de combate e vigilância “anti-terrorismo” no mundo todo. Eles têm tropas no Iraque, no Afeganistão, na Somália, no Iêmen, na Colômbia, na Ásia e África, bases militares ao redor da Terra inteira. Seus problemas econômicos internos aumentaram após a recente crise. Estimativas do FMI apontam que até 2014 a dívida pública americana pode atingir 112% do PIB.

Na Ásia, a China e a Rússia se uniram em 2009 para formar o bloco regional independente da Europa e EUA. A União Europeia também sabe que sua economia não pode mais depender totalmente da americana. A África, América Latina e o Sudeste Asiático possuem blocos econômicos regionais operando e se desenvolvendo. O Japão está se voltando mais para a Ásia do que para a América do Norte. Em inúmeros contratos e negociações no mundo o dólar não é mais a moeda de troca.

Todo império um dia se acaba. Vale lembrar o verso do poeta persa Omar Kháyyám: “Olha o céu e contempla a lua, quantas civilizações ela já viu morrer?”. Israel e as monarquias árabes, sem o apoio militar e econômico americano, não serão as mesmas.

Entre 11 e 12 de dezembro de 2009 o Iraque promoveu a segunda rodada do leilão para renovação dos contratos de exploração de suas jazidas. Este país, invadido pelos EUA em 2003 a pretexto de remover Saddam Hussein, possui 10% das reservas mundiais conhecidas, ficando atrás da Arábia Saudita e Irã. Apesar de todos os riscos e inseguranças, 44 empresas do mundo acorreram ao leilão. Após 35 anos fora do Iraque os cartéis do petróleo enviaram seus “majors” para esta grande rodada mundial no novo “El Dorado”. O preço médio do barril no mercado internacional gira em torno de US$75,00. O objetivo iraquiano era não pagar mais de US$1,50 por barril extraído, condicionando a concessão a um aumento gradativo da produção até que, em conjunto o Iraque, possa atingir 12 milhões de barris/dia até 2016, encostando na Arábia Saudita, maior reserva e maior produtor mundial.

Resta saber o que o governo fantoche não-representativo iraquiano irá fazer com tantos petrodólares. O país continua ocupado pelas forças americanas e a sustentação deste governo no poder depende dela. A reconstrução do país está parada em função das guerrilhas e dissidências. Sabe-se da corrupção interna e do interesse de empresas americanas e internacionais participarem do bolo da reconstrução e do desenvolvimento tutelado. Estes dólares certamente não seguirão para atenuar a miséria do povo nem para o apaziguamento interno promovendo a retomada da identidade nacional. Tampouco para reconstruir o país e seu acervo cultural e moral destruído pelos bombardeios americanos. Toda riqueza do fino petróleo iraquiano está de volta às mãos do cartel, como sempre acontece.

“ Em qualquer lugar do mundo onde eclodir uma revolta ou guerra sempre se encontram envolvidos o petróleo e os dedos do cartel”. (Jacques Bergier)