Síria: Procuram-se quatro generais

Seg, 02/04/2012 - 10:41

 

Boatos dizem que quatro generais do regime de Assad teriam desertado, porém nada se sabe sobre eles. Seria uma tática para afirmar a força de seu regime, ou uma amostra de que seu governo está enfraquecendo perante os conflitos na Síria?

 

Sob o título “Perguntas sobre as supostas deserções de generais na Síria” o jornalista do Estadão Gustavo (Guga) Chacra, relata que “No sábado, a Anatolia (agência estatal turca) divulgou a informação de que quatro generais sírios teriam desertado. [...] Passados cinco dias, não aparecem informações desses generais (basta dar uma busca no Google e todas as notícias relacionadas a eles são do sábado). Ninguém os entrevistou e os nomes ainda são um mistério. Obviamente, uma hora destas o regime de Assad já saberia quem são eles, ”Dono de espírito investigativo, qualidade de bom jornalista que falta a muitos, Chacra diz quais são suas dúvidas: “Estes quatro generais realmente desertaram? Se sim, onde estão e por que ainda não apareceram? Se não, quem criou a mentira? Membros da oposição, para tentar mostrar fraturas no regime? Ou o próprio regime para, posteriormente, dizer internamente nas TVs sírias que os opositores mentem como já cocorreu no passado? [...] Pediria aos leitores que, por favor, me ajudem com estas respostas”.

Fiz algumas pesquisas e respondi a Chacra dizendo: suas dúvidas são as minhas; sem tirar nem pôr. As notícias que aqui chegam oriundas da Al Jazira, ou BBC, ou AFP, ou EFE ou Anatolia e outras e estão todas fora da Síria e, por esta razão, se apenas um general, não necessariamente quatro generais, estivessem fora da Síria, já saberíamos quem são e a Al Jazira já teria entrevistado e divulgado por todo o planeta. Um vice Ministro desertou e sabemos seu nome, conforme noticiado na imprensa mundial. Na imprensa libanesa não há qualquer notícia. Acabo de perguntar em Beirute e ninguém sabe dos Generais. Não encontrei quem geralmente me informa em Bagdá. Na Turquia não tenho ninguém em quem confiar.

Todas as fontes que temos vêm das agências noticiosas interessadas em derrubar o regime. Continuei em minha resposta: Hoje mesmo, pela manhã, Lourival Santana estava falando pela rádio Estadão-ESPN e ele informou que estava num campo de refugiados na fronteira turco-síria-síria e quando lhe perguntaram se era verdade o que se divulgava sobre as torturas na Síria ele respondeu que conversou com um rapaz que ficou crucificado 15 dias.

Veja só dois pontos: que há tortura na Síria ninguém duvida e não é necessário o depoimento de um desconhecido, um único, mas isto vira verdade e é divulgado pelo mundo inteiro. Ainda na Estadão-ESPN, acrescentei ao Chacra, a Roxane Ré outro dia me perguntou quando Bachar al-Assad seria apresentado ao Tribunal Penal Internacional, isto porque alguém leu uma notícia. Ainda na mesma estação, ontem perguntavam numa enquete se cabia a comparação entre o regime ditatorial militar no Brasil e na Síria quando se sabe que no Brasil não havia interferência direta de países estrangeiros arregimentando, financiando e armando rebeldes, como na Síria, mas mistura-se tudo.

Voltando ao assunto da pergunta disse também: transfira isto para quatro fantasmagóricos generais e está divulgada uma notícia que ninguém confirma. Não acredito que a oposição síria tenha capacidade de manipular a opinião pública síria e internacional e a notícia só pode ter sido criada por organização que domine esta técnica exatamente para mostrar fraqueza do regime e a força da oposição. Aí, chega-se à grande resposta: em minha opinião, o regime tem a capacidade, os meios, o interesse e tudo o mais de, por seu lado, criar casos para desmoralizar os opositores e quem os apoia. Esta não será a primeira vez.

São mentiras divulgadas através do planeta e ninguém se dá ao trabalho de procurar outras agências de notícias isentas ou redes de informação não comprometidas. Elas estão aí e basta alguém se dar ao trabalho e as encontrará; mas só vale para quem é pescador e tenha paciência de pescador.

Comecemos por perguntar quantos entre nós têm em mente que o povo sírio votou recentemente e aprovou alterações profundas na Constituição e que foi publicada uma bateria de leis importantes entre as quais a legislação dos partidos políticos e a das eleições gerais. O governo marcou a data das eleições legislativas para o dia 7 de maio deste ano.

Nos termos da nova legislação, já se registraram seis partidos e três outros estão na fila de registro. É digno de nota que as eleições ocorrem um mês após o Congresso do Partido Nacional Baath o qual, igualmente de acordo com a nova Lei terá tratamento igual ao de qualquer outro dos novos partidos políticos.

O representante das Nações Unidas e da Liga dos Estados Árabes, Kofi Annan, tomou conhecimento de tudo isto enquanto ouvia a resposta do presidente Bachar al-Assad às propostas de cessar fogo e abertura de novos horizontes para uma solução política da situação na Síria que completa um ano na quinta-feira 15/03/2012. O governo sírio, com toda propriedade, comunicou a Annan que pedir o cessar-fogo não poderia ser unilateral.

Se Assad, em nome do governo e, na verdade, igualmente em nome do Baath e dasForças Armadas, aceitou negociar com Annan e este achou normais as colocações do dirigente sírio, inclusive a promessa de cessar-fogo, o que declarou, de seu lado, o chefe da oposição a não ser que continuará a lutar e não cessou de pedir ajuda de forças internacionais! Isto significa que aqueles que o chamado Ocidente apoia, arma e financia com a desculpa de estabelecer a democracia na Síria não se dispõem a obter a mudança do regime através do voto popular.

O regime mostrou ontem, sua força no dia em que se completou um ano desde quando começaram as perturbações à segurança que causaram milhares de mortes entre civis, militares e grupos armados, nas grandes cidades sírias: Damasco, Alepo, Sueida, Lataquia, Hassakja, Deraa, Deir Elzor, enquanto Kofi Annan apresentou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas o seu relatório preliminar relativo à seus esforços para uma solução para a crise reafirmando que “a porta das negociações continuam abertas” com Damasco que respondeu com firmeza e de forma objetiva e “sendo este o interesse sírio” no quadro da missão do representante das Nações Unidas e da Liga Árabe. Com base neste passo preliminar as Nações Unidas enviará um número não revelado de seus técnicos para se juntarem aos esforços humanitários conduzidos pelo governo sírio nas cidades atingidas pelos acontecimentos, a partir do início da semana.

A tentativa de estabelecer uma zona ocupada pela oposição, imitando o que aconteceu na Líbia, para até mesmo estabelecer “um governo” por aqueles que os países que se dizem democráticos elegeram como “representantes legítimos do povo sírio” fracassaram com a retomada das cidades onde se pretendia executar a aventura cínica e ilegal e os rebeldes fugiram. Será cedo para perguntar se o movimento terminou?

Finalmente, peço aos leitores três favores: o primeiro, se alguém encontrar os quatro generais por aí que me diga, ou que arrolem esta informação junto com todas as mentiras que cercaram a tentativa de derrubada do regime sírio; segundo, se alguém sabe com segurança quem são, ou eram, os rebeldes que o diga para informar a todo o planeta ansioso por saber; e, .terceiro, quando saírem os resultados das próximas eleições que me digam se eu previ acertadamente ou não que se o Baath ganhar o chamado Ocidente vai repetir a façanha das eleições palestinas que elegeram o Hamas.