10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema: no CCBB Belo Horizonte, público conversa com Nirah Shirazipour

Seg, 31/08/2015 - 15:42
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Música, pintura, dança e poesia despertando sensações e sentimentos. O diálogo entre  todas essas formas de arte tem como resultado o filme produzido por Nirah Elyza Shirazipour,“Marte ao amanhecer”. Inédito no Brasil, o filme foi exibido no dia 28, no CCBB Belo Horizonte, e o público presente participou de um bate-papo com Nirah. 

Com a sala lotada, o debate, que faz parte das atividades integradas da 10º Mostra Mundo Árabe de Cinema, abordou questões que vão desde o porquê da escolha do título até assuntos mais profundos, como as dificuldades de filmar e transitar na Palestina. “O ‘Marte’, do título toca a questão desse amanhecer que acontece em quem produz arte”, explica Shirazipour. Sobre os patrocínios e apoiadores do filme, a cineasta defende que o filme foi apoiado por pessoas corajosas de Israel e da Palestina, entre outras.

Para a produtora, a obra é resultado de anos vivendo e trabalhando na Palestina. O projeto também deu origem a outros dois documentários. Nirah afirma que, embora seja ficção, com script e atores, os envolvidos no trabalho não concebem o filme desta forma. "É realidade. Nós decidimos avançar no inconsciente, na imaginação, em formas alucinógenas que muitas pessoas têm quando estão em processo de libertação. São conflitos com sua alma, com seu espírito”, enfatizou Nirah.

Dirigido por Jessica Habie, o filme surreal e não linear desperta sensações do início ao fim. A narração do conflito entre dois artistas frustrados que residem em lados opostos das fronteiras militarizadas de Israel mostra a dualidade do ser humano e dos sentimentos que transcendem em um processo de libertação. Resultado de uma combinação de seis anos de filmagens e documentários sobre vários artistas na Palestina, Nirah Shirazipour sentiu que “havia uma história que precisava ser contada nesse formato da ficção, que extrapolasse os documentários, que desse conta de sentimentos e emoções detalhadas  e espalhadas que estavam no documentário, embora seja ficção. Nada ali foi inventado, foi tudo recolhido, sensações e sentimentos que o documentário não expressava”.

A mineira doutora em cinema Myriam Nogueira afirma que foi à Mostra assistir a “Sotto Voce”, de Kamal Kamal, e se encantou com o filme e a ideia de uma Mostra de Cinema Árabe e já garantiu seus ingressos para os próximos dias. Sobre ‘Marte ao Amanhecer’, Myriam se interessa pela temática e por abordar a história de dois artistas. “A Faixa de Gaza é sempre um assunto interessante, eu vejo muito filme de temática israelense, é bom assistir o outro lado também”. Ela ainda destaca a importância do filme não ter uma linearidade: “Hoje eu gostei muito do filme: há o viés surrealista, a cineasta aprofundou as questões através da literatura, da poesia, da pintura, da música, da dança. Aprofunda muito mais do que um documentário. Particularmente gosto mais de ficção do que de documentário, e esse tipo de ficção surreal que ela usou, eu achei muito interessante. Não fica uma coisa pesada”, argumenta a espectadora.

Para a professora universitária Maiara de Carvalho, a oportunidade da Mostra em Belo Horizonte e o espaço para o debate são incríveis. “Vim quase todos os dias, desde a abertura, eu gostei muito da Mostra. Nunca tinha participado de uma mostra de cinema árabe no Brasil”. A professora afirma que esse foi o único filme de ficção que ela pode ver na Mostra. “Senti o filme extremamente real e fiel, mesmo sem a linearidade, com expressão de sentimentos muito clara, não no sentido de óbvia, mas  no sentido de palpável, e sensorialmente você se sentia naquilo. Eu achei que essa demonstração que a Mostra teve foi uma vivência muito positiva do que é o conflito, tanto nos documentários como nos próprios filmes”. 

Nirah ressalta que o fato de ser uma cineasta mulher retratando a região conflituosa da Palestina é algo normal e ela acha curioso que as pessoas considerem isto algo exótico. “Eu acho que o filme é um instrumento poderoso no resto do mundo árabe. Um instrumento forte para colocar luz em lugares sombrios”, defende a produtora. 

Para conhecer a programação completa da Mostra, acesse 

http://www.mundoarabe2015.icarabe.org/inicio