“É importante que nós, artistas árabes, possamos apresentar ao público brasileiro nossa realidade, afirma o argelino Nabil Asli, dos filmes “O Arrependido” e “Normal”, na 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema

Seg, 26/08/2013 - 08:43
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Dirigido por Merzake Allouache e vencedor como Melhor filme do Doha Tribeca Film Festival de 2011, no Qatar, “Normal!” é um misto de ficção e realidade. Aborda momentos após os movimentos de dezembro de 2010 e as primeiras marchas do início da Primavera Árabe na Tunísia e no Egito. Ao mesmo tempo, fala da desilusão de jovens atores que procuram expressar suas ideias artísticas. “Não tenho certeza de como os brasileiros veem o mundo árabe, então esta oportunidade de apresentar o filme para vocês é muito importante”, disse o ator.

Nabil conta que o governo da Argélia não libera recursos e muitas vezes não autoriza a realização dos projetos. Para levar adiante os trabalhos, os artistas e produtores encontraram uma saída nas coproduções. “Isso abre as portas para que os filmes vivam por mais tempo e para que participem de mais festivais como este.”

É o caso de “Normal”. Dividido em duas partes, teve sua primeira, que custou U$ 10 mil, paga pelo diretor, que o inscreveu no Festival do Doha - do qual saiu vencedor - e avisou que precisava de verba para terminá-lo, conseguindo o financiamento  do Qatar. O valor do prêmio foi de R$ 100 mil.

Parte do dinheiro foi usado na produção de “O Arrependido”, que também tem Nabil Asli no elenco e ganhou o prêmio FIPRESCI (Féderation Internationale de la Presse Cinematographique) no 17º Festival de Cinema de Kerala (India). O longa conta a história de um lutador jihadista que deixa seu esconderijo nas montanhas e se reintegra à sociedade após o governo oferecer anistia aos rebeldes que depusessem suas armas na guerra civil do país. “Nosso filme fala sobre uma época muito delicada da história da Argélia. Um momento no qual todos os argelinos eram considerados terroristas. Esse filme mostra o que realmente se passou lá.”

O ator revelou descrença na transformação do mundo por meio de seu trabalho como artista. “Tenho consciência que meus filmes não vão mudar o mundo, mas continuo fazendo isso, sensibilizando as pessoas”. Esta visão “realista” deve-se à condição política e social de seu país. A questão da Argélia, segundo Asli, vai além da censura. As pessoas não assistem aos seus filmes, há poucas salas de cinema e poucas produções. Isso porque o governo segue a fórmula “diga o que quiser, insulte o Estado, mas nada vai mudar”.

Nabil acredita que não tem qualquer influência sobre o pensamento dos argelinos. “Não sou sonhador neste sentido. Sei que nós, artistas, não temos essa força frente ao governo que tem o poder e os aparelhos para nos impedir”. Para ele, os donos do dinheiro e das armas é que têm oportunidade de mudar o mundo.

Segundo ele, a maioria dos artistas de seu país não está engajada em produções com sentido social, porque é “uma geração que já está cansada”. Mas também está surgindo outra com novas ideias. Ele entende que é uma necessidade humana manifestar-se por meio da arte, mas “a revolução só tem sucesso pela ação física, com métodos eficazes de evitar a manipulação.”

Asli afirma que é um pensamento equivocado achar que “os árabes vão ter uma democracia em dois anos. É preciso passar por muitas etapas para alcançá-la.”