Plínio Freire fala sobre a influência da cultura persa na tapeçaria em ciclo de palestras do Icarabe e da Livraria Martins Fontes

Qua, 01/06/2016 - 00:05
O escritor Plínio Freire foi o palestrante, na última segunda-feira (30) na Livraria Martins Fontes, em São Paulo, do Ciclo de conversas sobre Cultura Árabe e Islâmica, parceria do Instituto da Cultura Árabe – ICArabe com a livraria. Plínio abordou a tapeçaria persa e a história dos tapetes como obra de arte na conferência “O pavão, a rosa e a trama – a tapeçaria persa”, a segunda da programação do ciclo, que tem coordenação de Heloisa Abreu Dib Julien, secretária geral do ICArabe, com apoio de Yasmin Fahs, Natalia Nahas Carneiro Maia Calfat e Jamile Abou Nouh, membros da Diretoria do Instituto..

“A arte do tapete tem origem desconhecida, visto que estão sujeitos a todo tipo de degradação. Nós possuímos fontes literárias, mas não os tapetes originais”, explicou Freire. Segundo o escritor, a peça era usada na antiguidade como forma de proteger a intimidade em tendas e para separar os alimentos do chão, por exemplo. “O tapete é o elemento estratégico útil para diversas circunstâncias.”

Os persas foram responsáveis por tapeçaria de destaque na época. “Embora possuíssem tapetes esplêndidos, eram considerados bárbaros (por não falar grego). Mas o tapete persa, entre os gregos, era um presente chique”, disse.

Freire mostrou imagens de tapetes como o Pazyryh, datado de V a.C. “Este aqui é nada menos que o tapete mais antigo conhecido. Neste caso, a degradação não atuou. Pazyrik é uma caverna onde ele ficou em estado de congelamento. A origem dele é provavelmente persa.” 

O tapete possui um fundo vermelho, característica da tapeçaria persa, assim como a repetição e entrelaçamento de imagens. A peça mostra a imagens de antílopes que, vistas de perto, mostram o desenho de seus órgãos internos, uma alusão à morte depois da caça. Também há imagens de caçadores. “São dados fundamentais para entender a lógica do ornamento”, ressaltou o palestrante.

O estudioso ainda mostrou imagens de pinturas ocidentais de inspiração católica romana, nas quais estão presentes tapetes persas. “Isso acaba com o mito de que o oriente é anticristão. Você coloca um tapete persa abaixo da Virgem Maria para mostrar a sua dignidade.”

Em entrevista ao site do ICArabe, Freire afirmou que a lógica de uso da tapeçaria é diferente da encontrada no Brasil, por exemplo. “A gente herdou da Europa esse costume do uso de tapete, mas, para a gente, ele é puro ornamento. No Oriente, usar o tapete para pisar é a menor utilidade.”

A agente imobiliária Angela Mencaroni, que assistiu à palestra, gostou do conteúdo. “Eu gostei dos detalhes e da riqueza. Cheguei à conclusão de que os meus tapetes não são nada”, brincou. “Está tudo ligado à cultura.”

Para a coordenadora do ciclo e diretora do ICArabe, Heloisa Abreu Dib Julien, a sequência de palestras e a conferência de Freire são importantes para divulgar a cultura dos países árabes e os demais que possuem a cultura islâmica. “É uma oportunidade de mostrar ao mundo os povos que não são mostrados.”

A próxima palestra do Ciclo será realizada dia 8 de junho, com o escritor Milton Hatoum.

Veja a programação dos encontros:

08/06, quarta-feira, das 19h30 às 21h30

Ficção, Memória e História - Milton Hatoum

21/06, terça-feira, das 19h30 às 21h30

Literatura Árabe e suas traduções no Brasil - Safa Jubran

18/07, segunda-feira, das 19h30 às 21h30

Cinema Árabe na atualidade - Geraldo Adriano Godoy de Campos

22/07, sexta-feira, das 19h30 às 21h30

O véu e o conflito da visibilidade -Plinio Freire

 

Curso sobre a Pérsia

Plínio Freire também ministrará, a partir de 8 de junho, o curso “Pérsia Antiga – uma civilização clássica no Oriente”, na Martins Fontes, outra atividade integrante da parceria entre o Instituto e a livraria (veja abaixo mais informações sobre o curso). “A minha preocupação com essa cultura está no subtítulo do curso”, afirmou o estudioso. “Estudamos muito pouco os persas, praticamente apenas em relação às Guerras Médicas. Os persas são vistos como ameaças à nossa civilização (com herança grega), quando havia uma intensa troca cultural (entre a Pérsia e a Grécia).”

Freire também está organizando uma viagem ao Irã, local da antiga Pérsia. “É uma história de 2.500 anos. É fundamental entender essa história para ir ao Irã.”

 

Confira a programação do curso:

PÉRSIA ANTIGA – UMA CIVILIZAÇÃO CLÁSSICA NO ORIENTE

1.       A encruzilhada centro-asiática – 08 de junho

Zoroastro, profeta do monoteísmo. Tesouros de Ziwiye - Saqqez. Arte proto-aquemênida. O platô iraniano e o expansionismo babilônico.

2.       A fundação do Império: Ciro, o Grande – 15 de junho

A unificação entre persas e medas. A era dos grandes dinastas: Ciro, Xerxes, Dario. A primeira declaração de direitos. As cidades rituais: Pasárgada e Persépolis. 

3.       Aberturas mediterrânicas – 22 de junho

As províncias ocidentais e a rivalidade com Atenas e Esparta. A guerra e a derrocada na Ásia Menor. A invasão de Alexandre. O reino Greco-Bactriano (250-125 a.C.): sincretismo helenístico-iraniano.

4.       Civilização persa: a consolidação – 29 de junho

A rivalidade com Roma. O tabuleiro cultural asiático: Armênia, Índia, China. Partas, sassânidas e o retorno das tradições iranianas. Do zoroastrismo ao advento do Islã.

 

Serviço

Curso PÉRSIA ANTIGA – UMA CIVILIZAÇÃO CLÁSSICA NO ORIENTE

Quando: de 08 a 29 de junho, às quartas-feiras, das 14h30 às 17h

Onde: Auditório da Livraria Martins Fontes - Av. Paulista, 509 – fone 2167-9900 (metrô Brigadeiro)

Convênio com estacionamento: Rua Manoel da Nóbrega, 88 ou 95

Informações e inscrições: secretaria@icarabe.org

Investimento:

R$ 250,00 para o público em geral

R$ 200,00 para membros do ICArabe, estudantes e aposentados (estudantes devem