Jornalista brasileira relata histórias de anônimos durante a Primavera Árabe

Sáb, 11/10/2014 - 12:25
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Histórias de quem viveu e lutou nas revoluções da Primavera Árabe, com o cuidado de não reproduzir estereótipos acerca do Oriente Médio e seus habitantes. Entre reportagem e literatura, “Sobre jasmins, bombas e faraós”, de Carolina Montenegro, retrata o sofrimento dos refugiados sírios no Líbano, aborda os desafios da democracia na Tunísia pós-revolução e avança até a situação das mulheres no Egito.

Um dos aspectos que mais chamou a atenção da autora foi a participação ativa de tunisianas, sírias e egípcias na Primavera Árabe. Jovens, estudantes, donas de casa, mães de família, médicas, afirma Carolina, uniram-se em protesto pelas ruas com o intuito de mudar a realidade ao redor delas. “Após o movimento na Tunísia, muitas se envolveram com a vida política, fundaram ONGs; na Síria, algumas se juntaram aos rebeldes, pegaram em armas e muitas se exilaram com suas famílias em países vizinhos ou na Europa; no Egito, as mulheres fizeram suas vozes serem ouvidas na Praça Tahrir mesmo sob constante risco de assédio masculino, depois debateram o tema em TV aberta e seguem lutando por seus direitos. Fiquei muito impressionada com a força das mulheres árabes”, ressalta.

Refugiados sírios no Líbano

Outro ponto destacado por Carolina é a situação dos refugiados sírios no Líbano. Eles não vivem em campos, mas as condições, segundo ela, são terríveis. “Faltam moradias, alimentos, escola, renda, emprego. A assistência fornecida pelo governo e pela ONU é precária e, quando existente, apenas sobre algumas necessidades básicas.”

A autora ressalta que o que dificulta no caso do conflito na Síria é que este já dura mais de três anos. Isso gera uma série de problemas para as famílias sírias abrigadas no Líbano. “Se no início foi possível para muitos sírios chegar ao Líbano de carro e alugar uma casa, com os anos e o desemprego, muitos passaram a depender totalmente de alimentos e assistência distribuídos pela ONU e organizações internacionais”, diz.

Ela menciona o preconceito e o descontentamento dos libaneses em abrigar esses refugiados, que formam um terço da população do Líbano hoje e aumentam a cada dia. “Há casos de episódios de violência, discriminação e até de comunidades que têm proibido sírios de abrirem negócios próprios ou trabalharem no comércio”, destaca. O medo da concorrência e da insegurança, segundo ela, também é grande entre os libaneses. “O Líbano já vivia uma situação econômica difícil e com uma delicada estabilidade política, após 15 anos de guerra civil e ocupação militar síria.”  

Carolina afirma que o governo libanês tem acolhido os milhões de refugiados sírios. A burocracia, no entanto, complica a situação. “Os sírios refugiados não têm direito à cidadania libanesa ou ao voto e muitos bebês sírios ainda não têm nacionalidade reconhecida por nascerem no Líbano. É uma geração em risco de se tornar apátrida, sem acesso a direitos e serviços básicos.”

Experiência marcante

De tudo que experimentou durante a construção do livro, Carolina destaca momentos e cenários completamente distintos que teve a oportunidade de conhecer e que a marcaram profundamente. Ela visitou as pirâmides no Egito e os campos improvisados de refugiados no vale do Bekaa. Foram, conforme relata, dois momentos chocantes, por motivos opostos.

“As pirâmides deslumbram e fascinam, são monumentos que remetem às eras faraônicas de um Egito milenar. Você inspira a história da humanidade naquele lugar, o passado grandioso do Oriente Médio. Já as tendas dos refugiados sírios no vale do Bekaa compõem um cenário desolador da realidade atual da região. São milhares de famílias vivendo em situação extremamente precária, sujeitas ao frio e à fome. Por conta de um conflito terrível na Síria que já matou centenas de milhares de pessoas e se prolonga diante dos olhos impassíveis do mundo. As pirâmides e os campos de refugiados são duas situações extremas, opostas: que refletem o melhor de que a humanidade é capaz e seu pior”.

 

Sobre jasmins, bombas e faraós

Carolina Montenegro

Editora Record

288 páginas

Formato: 14 x 21 cm

Preço: R$ 35,00

 

Lançamento em 18 de outubro, sábado, às 16h

Onde: Livraria da Vila - rua Fradique Coutinho, 915

Te. 11 3814-5811