Morre aos 87 anos José Saramago

Sex, 18/06/2010 - 18:10
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Escritor português faleceu no dia 17 de junho na Ilha de Lanzarote, onde vivia desde os anos 90.O escritor português José Saramago, de 87 anos, morreu em consequência de falência múltipla dos órgãos, depois de um longo período com a saúde fragilizada. Ele estava na Ilha de Lanzarote, uma das Ilhas Canárias, onde vivia desde os anos 90.

Prêmio Nobel de Literatura em 1998, o autor sempre deixou clara suas posições políticas de esquerda e julgou com dureza as injustiças sociais em seu país e no mundo. Suas obras criticas à religião católica estiveram em constate conflito com a Igreja. Saramago era filiado ao Partido Comunista Português, tornando-se um dos mais distintos militantes até à sua morte. Também era conhecido o seu apoio solidário à causa Palestina e repúdio explícito pela ação política-militar de Israel.

Veja abaixo um texto escrito por Saramago sobre a questão palestina: 

 

Gaza

A sigla ONU, toda a gente o sabe, significa Organização das Nações Unidas, isto é, à luz da realidade, nada ou muito pouco. Que o digam os palestinos de Gaza a quem se lhes estão esgotando os alimentos, ou que se esgotaram já, porque assim o impôs o bloqueio israelita, decidido, pelos vistos, a condenar à fome as 750 mil pessoas ali registadas como refugiados. Nem pão têm já, a farinha acabou, e o azeite, as lentilhas e o açúcar vão pelo mesmo caminho. Desde o dia 9 de Dezembro os camiões da agência das Nações Unidas, carregados de alimentos, aguardam que o exército israelita lhes permita a entrada na faixa de Gaza, uma autorização uma vez mais negada ou que será retardada até ao último desespero e à última exasperação dos palestinos famintos. Nações Unidas? Unidas? Contando com a cumplicidade ou a cobardia internacional, Israel ri-se de recomendações, decisões e protestos, faz o que entende, quando o entende e como o entende. Vai ao ponto de impedir a entrada de livros e instrumentos musicais como se se tratasse de produtos que iriam pôr em risco a segurança de Israel. Se o ridículo matasse não restaria de pé um único político ou um único soldado israelita, esses especialistas em crueldade, esses doutorados em desprezo que olham o mundo do alto da insolência que é a base da sua educação. Compreendemos melhor o deus bíblico quando conhecemos os seus seguidores. Jeová, ou Javé, ou como se lhe chame, é um deus rancoroso e feroz que os israelitas mantêm permanentemente actualizado. 

Por José Saramago 

 

Pequena biografia

Filho e neto de camponeses, José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro de 1922. Seus pais emigraram para Lisboa antes que ele fizesse dois anos. Fez estudos secundários que, por dificuldades econômicas, não pôde prosseguir. Publicou o seu primeiro livro, “Terra do Pecado”, em 1947. Trabalhou durante doze anos numa editora, onde exerceu funções de direção literária e de produção. Colaborou como crítico literário na revista Seara Nova. Em 1972 e 1973 fez parte da redacção do jornal Diário de Lisboa, onde foi comentador político, tendo também coordenado, durante cerca de um ano, o suplemento cultural daquele vespertino.

Entre Abril e Novembro de 1975 foi diretor-adjunto do jornal Diário de Notícias. A partir de 1976 passou a viver exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro como tradutor, depois como autor. Três décadas depois de publicado “Terra do Pecado”, regressou ao mundo da prosa ficcional com “Manual de Pintura e Caligrafia”. Publicaria depois “Levantado do Chão” (1980), no qual retrata a vida de privações da população pobre do Alentejo. Dois anos depois surgiu “Memorial do Convento”, livro que conquistou definitivamente a atenção de leitores e críticos. De 1980 a 1991, o autor publicou mais quatro romances “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra” (1986), “História do Cerco de Lisboa” (1989), e “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991). Nos anos seguintes, publicou mais seis romances: “Ensaio Sobre a Cegueira” (1995); “Todos os Nomes” (1997); “A Caverna” (2001); “O Homem Duplicado” (2002); “Ensaio Sobre a Lucidez” (2004); e “As Intermitências da Morte” (2005). Os últimos romances publicados foram “A Viagem do Elefante”, 2008, “Caim”, 2009.

Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou o Prémio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa. Era casado com Pilar del Río.
Em 1990, estreou no Teatro Alla Scalla de Milão a ópera Blimunda, com libreto do músico italiano Azio Corghi, baseado no romance “Memorial do Convento”.