Mostra Mundo Árabe de Cinema debate controle israelense sobre Gaza

Ter, 23/08/2016 - 15:01
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A 11ª Mostra Mundo Árabe de Cinema promoveu no último sábado (20) o debate “Cinema, ruínas e territórios”, que tratou da dificuldade de palestinos deixarem as regiões controladas por Israel. Falaram sobre o tema o documentarista e diretor de comunicação do ICArabe. Arturo Hartman, e a jornalista palestino-brasileira e mestra em estudos árabes pela USP, Soraya Misleh. O debate ocorreu após a exibição dos curtas “Operação Condon Lead”, “Apartamento 10/14” e “Gaza 36mm”.

Operação Condon Lead” e “Apartamento 10/14”, dirigidos pelos palestinos Tarzan e Arab Nasser, mostram o cotidiano de um casal em Gaza. O primeiro filme coloca a tentativa de o casal fazer amor ao som do barulho dos bombardeios que assustam o seu filho e, o segundo trata do aniversário de um dos protagonistas.

“A Faixa de Gaza tem uma autoridade que dá uma atmosfera de normalidade, a ANP (Autoridade Nacional Palestina), mas a população vive um estado de ocupação, um bloqueio assassino”, denunciou Soraya. A jornalista comentou a dificuldade das pessoas da região deixarem os locais. “Dos 22 atletas da delegação de refugiados das Olimpíadas, três não obtiveram a autorização para vir. As pessoas dependem da autorização do colonizador, que é Israel”, afirmou.

O debate estava inicialmente previsto para ocorrer com a presença do diretor palestino Khalil Al-Mozayen, responsável por “Gaza 36mm”. O cineasta havia deixado Gaza e ido para Hamala, cidade da Argélia, de onde ainda não havia obtido autorização de Israel para se dirigir à Cisjordânia, onde pegaria o avião. Evento extra será promovido pela Mostra caso o diretor obtenha a autorização.

“Ou seja, para sair do controle israelense, ele tem de ter uma permissão de Israel. Foi importante manter a sessão, pois as políticas de controle de Israel querem exatamente isso”, afirmou Arturo Hartmann. “Evitar e trocar o debate, você está se entregando e permitindo que as políticas de Israel sejam bem sucedidas em relação não só à discussão política, mas aos outros entrelaçamentos que a Mostra busca, entre política, cultura e outras formas de arte que possam discutir questões sociais”, declarou.

Religião e geopolítica

Arturo e Soraya também falaram sobre a necessidade de separar a questão religiosa da geopolítica. “É uma construção feita para blindar um Estado de apartheid, de opressão, ao se colocar Israel como Estado defensor do judaísmo”, declarou Soraya. “É um projeto imperialista e colonialista que está (presente) nas mídias. É lamentável Israel se colocar como porta-voz dos judeus e fazer a barbaridade que faz. Existe lá uma minoria não sionista”, disse ela, cujo pai foi expulso da Palestina na Diáspora de 1948.

“A gente sempre acaba lendo pela questão do Islã”, afirmou Hartmann, em relação ao filme “Gaza 36 mm”, que trata da perseguição em Gaza ao teatro e cinema por movimentos fundamentalistas. “O Hamas é um movimento político e é preciso encontrar as suas contradições como movimento político”, disse.

Para Soraya, é necessário discutir os filmes árabes no Brasil, como “Gaza 36 mm”, para não contribuir para a islamofobia e os estereótipos que já existem. “Exibir esse filme onde já há conhecimento sobre o que são os palestinos contribui para a crítica. Mas é importante discutir onde não se conhece. No Brasil, infelizmente, é importante discutir para não causar confusões”, declarou.

A Mostra Mundo Árabe de Cinema está em cartaz em São Paulo até domingo, 28 de agosto. Acompanhe a programação em http://www.mundoarabe2016.icarabe.org/inicio