Em palestra no Esporte Clube Sírio, Jamil Iskandar, diretor do ICArabe, destaca a importância do filósofo Avicena

Seg, 12/06/2017 - 13:40

 

O público que compareceu ao Esporte Clube Sírio, em São Paulo, no último sábado, 10 de junho, para a palestra “Influência de Avicena”, ministrada pelo diretor do ICArabe e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Jamil Iskandar, teve uma excelente oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a importância do filósofo do século XI para a filosofia e a medicina.

O persa Ibn Sina (ou Avicena)) refletiu sobre a ideia do “eu” e do “ser” muito antes de filósofos como Descartes (francês do século XVI) e do surgimento da psicanálise. A maioria de seus escritos foram produzidos na língua árabe. De acordo com Iskandar, Avicena sabia os 112 capítulos do Alcorão de cor desde os dez anos idade. "Isso tem um significado muito grande. Era algo de destaque na época. A partir do entendimento do Alcorão, vamos ver surgir a filosofia. Os árabes queriam entender o Alcorão”, afirma o professor. "No mundo muçulmano, isso é muito importante. Foi do Alcorão que surgiu o direito”, explicou.

A grande influência de Avicena foi na medicina moderna, ao ponto de ele ser chamado de “príncipe dos médicos”. Avicena foi médico desde os 17 anos de idade e contribuiu para a anatomia, devido ao fato de que o islamismo não condenava a autópsia, como o cristianismo fazia à época. "Não havendo isso (a proibição), a anatomia teve um desenvolvimento extraordinário, muito particularmente por conta de Avicena. Ele foi muito a fundo nisso. A contribuição dele é inegável e perdurou 600 anos. A Idade Média não seria a mesma sem Avicena”, ressaltou o professor.

iskandar 2

Filosofia árabe e mídia

Segundo o Professor Iskandar, que ministra a única aula de Filosofia Árabe Medieval no país, o estudo da filosofia árabe no Brasil tem crescido, mas ainda é pequeno devido ao foco da academia nos autores europeus e a falta de acadêmicos especializados no tema. "É de se estranhar, é o preconceito do desconhecimento”, afirma.

Para ele, é importante difundir o conhecimento de figuras como Avicena."Há um movimento hoje de dizer que nós árabes não somos e nunca fomos nada. Isso não é a realidade. Boa parte da mídia faz isso, um movimento de desconstrução”, critica.

O encontro reuniu públicos de diversas faixas etárias. A estudante Mariana Meziara, 17, afirmou ter aprendido muito com a palestra. “Consegui aprender muita coisa que eu não sabia, a palestra foi bem informativa. Achei interessante a parte do ‘ser’”, afirmou.

Para o advogado Abdala Batich, 76, a conferência excelente para reafirmar a contribuição árabe. “Revelou muito o papel e as ideias do Avicena. Não sabia da importância dele. Os árabes divulgaram muitos conhecimentos para o acidente”, disse.

De acordo com Iskandar, o Ocidente foi muito beneficiado pelos conhecimentos do mundo árabe. “(Os árabes) jamais restringiram a cultura adquirida em suas comunidades e permitiram o acesso às suas bibliotecas e centros de estudo e de tradução, propiciando uma convivência acadêmica onde todos se beneficiaram”, declarou.