Milton Hatoum aborda literatura e política no ciclo sobre cultura árabe e islâmica

Sex, 10/06/2016 - 11:29
O escritor descendente de libanês Milton Hatoum participou na última quarta-feira (9) da terceira palestra do Ciclo de Conversas sobre Cultura Árabe e Islâmica, parceria entre o Instituto da Cultura Árabe – ICArabe e a Livraria Martins Fontes.  

A mesa redonda aconteceu na livraria da Avenida Paulista e foi mediada pelos historiadores da USP (Universidade de São Paulo) Júlio Pimentel e Francine Iegelki. Hatoum falou sobre suas obras, aa relação destas com os temas da história e da memória e comentou o cenário político do país. 

“Os personagens agem em um sentido da existência, com paixão, impostura, são ouvidos por uma angústia – como o Nael, de “Dois Irmãos” – para entender o passado, que é fundamental para entender o presente”, disse Hatoum, sobre o livro que conta a relação conflituosa dos irmãos Omar e Yaqub e que ganhará versão em minissérie pra televisão. “Todos os meus narradores são no passado. O romance é uma narrativa sobre a passagem do tempo”, afirmou.

Hatoum também falou sobre a obra “Cinzas do Norte”, romance que aborda a época da ditadura militar (1964-1985). “Acredito que é um romance pessimista por todos os lados. São cinzas do norte, é um título literal”, brincou. “Não existe romance bom em que tudo dê certo. Não conheço nenhum.” O escritor disse que o livro tem caráter autobiográfico, o que já não acontece em “Dois Irmãos”. “Se eu escavar muito, é melhor sair correndo”, brincou em relação a pontos em comum com sua história de vida. “Dois Irmãos”, ressaltou, foi uma construção com o que foi lendo e escrevendo.”

Visão política

O escritor utilizou a palestra para comentar o cenário político do país e criticou o projeto “Escola Sem Partido”, que proíbe manifestações políticas na sala de aula. “É possível que não se fale na matança de indígenas, que ocorre até hoje? Que (o ex-ministro) Romero Jucá foi presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) e deixou milhares de índios morrerem proibindo auxílio médico? Que a República Velha começou com um massacre em Canudos?”, questionou sobre aplausos do público. “Não se trata de doutrinação, trata-se de leitura crítica da história.”

O pesquisador Felipe Benjamin, 28, afirmou ter gostado da palestra. “Gostei dele trazer as questões apresentadas para o momento político que vivemos hoje, de fazer essa ponte”, afirmou. A médica Sandra Chain, 58, também gostou da discussão. “Achei maravilhoso. É um respiro que traz esperança no atual momento político”, disse.

Em entrevista ao site do ICArabe, Hatoum elogiou a iniciativa do evento. “O ciclo é importantíssimo porque analisa a fundo a cultura árabe, sendo a literatura, a música, a dança, e sem recair em clichês e em estereótipos”, disse. “Você só rompe o clichê e entende essa cultura quando se aprofunda nela, e uma das vias é a literatura para conhecer a sociedade e a história de um país”, declarou.

A próxima palestra do ciclo será realizada dia 21 de junho, com a professora da USP, Safa Jubran. O ciclo tem coordenação de Heloisa Abreu Dib Julien, secretária geral do ICArabe, com apoio de Yasmin Fahs, Natalia Nahas Carneiro Maia Calfat e Jamile Abou Nouh, membros da diretoria do Instituto.

 

Veja a programação dos próximos encontros:

21/06, terça-feira, das 19 às 21h30

Literatura Árabe e suas traduções no Brasil - Safa Jubran

18/07, segunda-feira, das 19h30 às 21h30

Cinema Árabe na atualidade - Geraldo Adriano Godoy de Campos

22/07, sexta-feira, das 19h30 às 21h30

O véu e o conflito da visibilidade - Plinio Freire

 

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