O que ocorreria se o Trump tentasse barrar muçulmanos nos EUA?

Qua, 09/12/2015 - 22:42
Imaginem se Donald Trump fosse eleito presidente e, de alguma forma, conseguisse implementar seu plano fascista de barrar a entrada de muçulmanos nos EUA – seria impossível, pois esbarraria no Congresso e na Suprema Corte, mas vamos fazer este exercício mental.

Primeiro, seria barrada Malala, a menina prêmio Nobel da Paz. Também não entrariam os jogadores de futebol Zidane, Benzema, Ozil, Kedira e Ribery. Os chefes de Estado da Turquia, integrante da OTAN, da Indonésia, do Egito e de dezenas de países aliados dos EUA também seriam bloqueados. Os curdos, que são majoritariamente muçulmanos e lutam contra o ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh), seriam bloqueados na imigração. Escritores, como o Nobel de Literatura Orhan Pamuk. Investidores, como Mohammad El Erian. Arquitetos, como Zaha Hadid. O cientista turco Aziz Sankar, prêmio Nobel de Química neste ano. E, claro, os sócios de Trump em empreendimentos imobiliários em Dubai. (Lembro que um dos maiores atletas da história dos EUA é o muçulmano Mohammad Ali).

Em segundo lugar, não está claro como Trump determinaria quem é muçulmano. Obviamente, qualquer pessoa pode mentir e decorar o Ave Maria ou mesmo se descrever como ateu. O nome? Bom, há sobrenomes no mundo árabe, como Simon, que são comuns para muçulmanos, cristãos e judeus. Além disso, um “Abdallah”, como amigos meus no Brasil, são mais comuns em muçulmanos, embora eles sejam cristãos. E circuncisão? Muçulmanos não fazem circuncisão? Sim, mas judeus também, assim como a maioria dos bebês americanos independentemente da religião. Ah, e a comida Hallal? Muitos muçulmanos não são hallal, mas mesmo os que são podem argumentar que são vegetarianos (uma dieta que se encaixa no hallal).

Terceiro, a aparência. Sei. O maior país muçulmano do mundo é asiático, a Indonésia. O perfil “moreninho árabe” erroneamente associado aos muçulmanos não se encaixa. Há dezenas de milhões de muçulmanos negros. Há muçulmanos loiros de olhos azuis. Há muçulmanos bem claros, como o próprio Bashar al Assad. Há também, claro, muçulmanos “moreninhos”, ou “mouros”. Aliás, dizem que o Bin Laden se parecia com o Caetano Veloso. Como diferenciar?

No fim, o Partido Republicano tende a ter um candidato sério, como Marco Rubio, senador pela Florida. Caso Trump vença as primárias republicanas, os democratas celebrarão porque Hillary Clinton será a futura presidente dos EUA.

 

Publicado originalmente em http://internacional.estadao.com.br/blogs/gustavo-chacra/o-que-ocorreria-se-o-fascista-trump-tentasse-barrar-muculmanos-nos-eua/