Palestra no Clube Sírio discute panorama do Oriente Médio após guerra na Síria

Qua, 18/05/2016 - 17:24
​​​O especialista em estudos do Oriente Médio, ​​Assad Frangieh, proferiu a palestra "Os ​​cinco anos que mudarão o Oriente Médio nos próximos 50 anos”, no último sábado (14), para cerca de 50 pessoas no Esporte Clube Sírio, em São Paulo. Fragieh apresentou um panorama político do Oriente Médio, em especial em relação à Síria, e buscou fazer previsões.

“A intervenção turca no norte da Síria provocou uma série de mudanças. A principal foi a reativação política dos curdos. Estamos falando de um território do tamanho da França”, afirmou o especialista sobre a etnia que busca hoje a independência. “O grande problema de a Turquia ter invadido a área foi que não a conseguiu controlar, o que dividiu a Síria em três, que eu acredito que vai se separar”, defendeu. “O grande problema é a ingerência externa. A Turquia ocupa o norte por meio de apoio a grupos. Se não fosse isso, o problema teria sido resolvido em duas semanas.”

Fragieh também afirmou que pode ocorrer na Síria o mesmo que aconteceu no Líbano, após o fim da guerra civil libanesa nos anos 1990. “Haverá zonas de influências, mas ainda se terá uma nação”, falou em referência à ideia de um território nacional.

Migração e imigração

O especialista tratou dos povos e etnias que têm se deslocado para fora do Oriente Médio ou do continente. “Boa parte dos sírios refugiados é cristã. Os cristãos têm buscado o Líbano ou o caminho da Europa. Os do Líbano também têm tendência a imigrar. Trata-se de uma questão econômica”, disse em relação à economia libanesa. Segundo Fragieh, enquanto os conflitos na Síria e Palestina resultam em refugiados, no Líbano há um estímulo para deixar o país para tentar melhores condições de vida.

Questionado pela plateia, o estudioso pontuou que a questão no Oriente Médio não é apenas a religião, mas a política. “Aparentemente, parece uma divisão religiosa (entre grupos), mas se puxa para o lado que lhe interessa”. Ele explicou à plateia que a diferença entre grupos muçulmanos é como existe dentro do cristianismo. “Você tem cristãos no Oriente Médio que rezam o Pai Nosso diferente. Tem curdos com ritos diferentes e isso faz com que haja perseguição dos maiores grupos. É um terreno fértil”. Entretanto, frisou, o elemento da religião não significa necessariamente maior dificuldade de resolução de conflitos. “Às vezes é mais fácil grupos se entenderem em governos com a ideologia religiosa do que em um governo laico como o da Síria.”

Ainda para Fragieh, a História tende a se repetir em algumas regiões do Oriente Médio. “Agora estamos na Era Sissi e, se acompanharmos a história, ela vai durar muito. Se a Irmandade Muçulmana assumir o poder, há um contra-golpe de novo”, disse em relação ao Egito. O atual presidente Abdul Fattah al-Sissi assumiu o poder após as Forças Armadas terem deposto o presidente eleito Mohamed Morsi, acusado de forçar uma “islamização” do país e hoje preso e condenado à morte.

O diretor cultural do Clube Sírio e também membro da Diretoria do ICArabe, Gabriel Sayegh, comentou sobre a palestra: “Eu achei muito boa, Fragieh é uma pessoa que tem conhecimento da política atual. É importante esclarecer o cenário. A mídia não dá conta de explicar com a profundidade de quem está dentro.”

Para a intérprete de língua árabe Heloisa Tuma, é importante discutir o tema. “Leva tempo para se aprofundar, mas deu para pegar alguns pontos de interpretação”, afirmou ela, que fez a pergunta ao palestrante sobre a diferença entre grupos religiosos.