Pesquisa mostra aceitação dos descendentes árabes entre brasileiros

Sex, 02/10/2015 - 16:07
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Uma pesquisa encomendada pela embaixada de Omã em Brasília mostra que os brasileiros têm visões positivas dos árabes e descendentes que vivem no Brasil, e dos países árabes. O levantamento realizado pela empresa H2R Pesquisas Avançadas foi apresentado na noite de segunda-feira (28), em São Paulo, na FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), por Rubens Hannun, vice-presidente de comércio exterior da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e cônsul honorário da Tunísia em São Paulo.

A pesquisa “Omã Laços de Amizade Brasil” entrevistou 741 homens e mulheres de diversas idades, diferentes perfis socioeconômicos e de todas as regiões do País. Outras 129 pessoas falaram mais detalhadamente a respeito de suas percepções sobre as nações árabes.

Segundo a pesquisa, a maioria dos entrevistados qualificou os árabes que vivem no Brasil como trabalhadores (97%), respeitadores (93%), criteriosos (92%), empreendedores (91%), cultos (91%), estudiosos (90%), inteligentes (89%), éticos (89%), boa gente (88%), alegres (86%), amigos (85%), honestos (85%), confiáveis (80%), mão fechada (72%), extrovertidos (57%), modernos (57%) e emotivos (54%).

“É uma vitória da comunidade árabe ter conseguido essa imagem com o tempo”, afirmou Hannun. “(A pesquisa) mostra um brasileiro acolhedor, pelo menos com o árabe. Essas coisas de integração, aceitar na família. Braços aberto, sem restrições”, disse.

Hannun se disse surpreendido com o resultado do estudo pois, como árabe, esperava menos aceitação dos brasileiros. Para ele, a visão da mídia sobre a cultura influencia a imagem dos árabes sobre sua integração no país. “Os árabes veem a mídia falando e se influenciam muito por isso, achando que tem mais ataque, muita propaganda contrária, enquanto essa propaganda não está influenciando o brasileiro”, opinou.

Ainda segundo o cônsul, o número menor relacionado a envolvimento afetivo reflete uma intenção dos brasileiros de se relacionaram como quem é mais parecido culturalmente. “Há os hábitos, são diferentes, prefiro alguém mais igual a mim.”

Na opinião da professora de Política e Relações Internacionais da Faculdade, Suhayla Khalil, o estudo mostra que os árabes se integraram bem à sociedade. “Houve uma preocupação muito forte de assimilação da cultura árabe”, afirmou a acadêmica, que organizou a palestra e é neta de sírios. “Eu me defino como brasileira, é a minha identidade, que minha família e meus avós construíram com a assimilação (da cultura brasileira).

O libânes Reda Soulid, 52, que está há 35 anos no Brasil, também fez críticas, assim como Hannun, a como a mídia no país divulga a cultura árabe. “É isso mesmo”, afirmou em relação ao estudo refletir a realidade, em sua opinião. “Os números poderiam até ser melhores se houvesse uma melhor divulgação do árabe. Essa pequena porcentagem negativa se deve a dois fatores: o currículo escolar é deficiente em relação a outras culturas e você tem uma mídia que é a principal formadora de opinião, que passa boa parte das informações sobre os árabes, em geral, de forma negativa. Temas ligados à cultura árabe são distorcidos, são produzidos por pessoas que não conhecem de fato a cultura.”

Soulid criticou, por exemplo, a novela “O Clone”, exibida em 2002 pela TV Globo, que relacionou a cultura árabe somente ao Marrocos, quando a maioria dos árabes que estão no Brasil vieram do norte da Síria. 

Para o músico brasileiro André Santos, 48, que também assistiu à palestra, a pesquisa foi importante para combater preconceitos. “Somos um povo miscigenado e essa migração é antiga. Apagar um pouco da ignorância e entender mais os hábitos e acultura deles é imprescindível”, refletiu.