Cineasta Julian Schnabel retoma discussão sobre o Estado palestino em "Miral"

Sex, 03/09/2010 - 12:43
Do Cineweb, em Veneza

A política do Oriente Médio entrou na pauta no segundo dia do Festival de Veneza, com a passagem do drama “Miral”, concorrente ao Leão de Ouro. Dirigido pelo cineasta norte-americano Julian Schnabel (“O Escafandro e a Borboleta”), esta coprodução entre EUA, Israel, França e Itália botou o dedo na ferida do interminável conflito entre judeus e palestinos ao criticar o não-cumprimento de um acordo em Oslo, em 1993, que previa a criação de um Estado palestino – o que, como lembram os créditos finais, não foi cumprido até hoje.

Fazendo parte da comunidade judaico-americana, como frisou na concorrida coletiva desta tarde de quinta, Schnabel destacou que seu interesse ao filmar esta espécie de cinebiografia da pioneira palestina da educação, Hind Husseini (Hiam Abbas), é apenas um: “Este conflito (entre árabes e judeus) tem que acabar. Qualquer razão para isso não é boa o bastante”.

A repercussão de “Miral” lembra, em termos temáticos, a edição 2009 do Festival de Veneza, em que o Leão de Ouro acabou nas mãos do israelense Samuel Maoz, por outro drama sobre um episódio da guerra no Oriente Médio, “Lebanon” – ainda inédito no circuito comercial brasileiro.

Vítimas femininas


Indagado porque hoje em dia estúdios e diretores tentam evitar filmes políticos, o cineasta respondeu: “Não sei. Porque acho que tudo o que fazemos é político. O jornal ‘The New York Times’ tem uma seção que se chama ‘Arte e Lazer’. Não sei o que uma coisa tem a ver com a outra. Faço filmes que são entretenimento mas a razão para realizá-los é porque sinto responsabilidade em relação ao que filmo”.

Ao seu lado, a roteirista e escritora palestina Rula Jebreal – que trata aqui da própria história e de sua relação com Hind Husseini, de quem foi aluna, tudo isso objeto de um livro – fez questão de especificar a questão feminina nas guerras. “As primeiras vítimas de todos os conflitos são sempre as mulheres e as crianças. Isto acontece não só na Palestina. Vejam o caso dos estupros étnicos nos Bálcãs”, acusou.

Intérprete de Hind, a atriz israelense de origem palestina Hiam Abbas, também elevou o tom ao comentar que, atualmente, “muitos jornalistas perguntam se sou uma atriz engajada. Não sei porque alguns parecem pensar que isso se tornou negativo. Eu não. Esta mulher (Hind Husseini) decidiu mudar a face da História com o que fez”.

O produtor Tarak Ben Ammar – o grande financiador do filme, segundo Schnabel -, por sua vez, destacou: “Não queremos dar lições aos políticos, mas gostaria muito que (Barack) Obama e (Beniamin) Netanyahu tivessem assistido ao filme”.

O produtor se irritou, porém, quando um jornalista questionou o fato de os personagens, tanto árabes quanto israelenses, de “Miral”, falarem quase sempre inglês. “Você assistiu ‘Amadeus?’. O personagem não é alemão? Mas é falado em inglês e isso não te incomodou. Você assistiu ‘Gandhi?’O personagem é indiano, mas o filme é falado em inglês. Da mesma forma, o nosso, porque queremos que o filme seja visto em todo o mundo”. O diretor Schnabel, por sua vez, opinou que “em Israel, todos, israelenses e árabes, falam inglês”.