A canção da chuva

Sex, 06/07/2007 - 00:00

..أنشودة المطر عَيْنَاكِ غَابَتَا نَخِيلٍ سَاعَةَ السَّحَرْ ، أو شُرْفَتَانِ رَاحَ يَنْأَى عَنْهُمَا القَمَرْ . عَيْنَاكِ حِينَ تَبْسُمَانِ تُورِقُ الكُرُومْ وَتَرْقُصُ الأَضْوَاءُ ...كَالأَقْمَارِ في نَهَرْ يَرُجُّهُ المِجْدَافُ وَهْنَاً سَاعَةَ السَّحَرْ كَأَنَّمَا تَنْبُضُ في غَوْرَيْهِمَا ، النُّجُومْ ... وَتَغْرَقَانِ في ضَبَابٍ مِنْ أَسَىً شَفِيفْ كَالبَحْرِ سَرَّحَ اليَدَيْنِ فَوْقَـهُ المَسَاء ، دِفءُ الشِّتَاءِ فِيـهِ وَارْتِعَاشَةُ الخَرِيف ، وَالمَوْتُ ، وَالميلادُ ، والظلامُ ، وَالضِّيَاء ؛ فَتَسْتَفِيق مِلء رُوحِي ، رَعْشَةُ البُكَاء كنشوةِ الطفلِ إذا خَافَ مِنَ القَمَر ! كَأَنَّ أَقْوَاسَ السَّحَابِ تَشْرَبُ الغُيُومْ وَقَطْرَةً فَقَطْرَةً تَذُوبُ في المَطَر ... وَكَرْكَرَ الأَطْفَالُ في عَرَائِشِ الكُرُوم ، وَدَغْدَغَتْ صَمْتَ العَصَافِيرِ عَلَى الشَّجَر أُنْشُودَةُ المَطَر ... ... مَطَر ... مَطَر ... مَطَر تَثَاءَبَ الْمَسَاءُ ، وَالغُيُومُ مَا تَزَال تَسِحُّ مَا تَسِحّ من دُمُوعِهَا الثِّقَالْ .

por Bader Shaker Al-Sayyab, tradução de Khalid Tailche

Seus olhos são dois bosques de palmeiras na aurora ou duas varandas de onde a lua se afasta. Quando seus olhos sorriem, as folhas de uva brotam e as luzes dançam como as estrelas num rio encrespado pelo remo no despertar da aurora, brilhando nas profundidades dos seus olhos e se afogando em tristeza e ternura, como o mar dominado pelas mãos da noite, com seu calor de inverno, tremor de verão, a morte, o nascimento, e as trevas e a luz desperta dentro da minha alma o tremor do pranto é um êxtase selvagem que abraça o céu como o delírio de uma criança que teme a lua! Como se o arco-íris fosse bebendo as nuvens e gota a gotaas vertessem em água da chuva O riso dos meninos gorjeia nas parreiras e quebra o silêncio dos pássaros nas árvores A canção da chuva Chuva... Chuva... Chuva... A tarde bocejou e as nuvens ainda derramam suas lágrimas pesadas. Como um menino a balbuciar antes de dormir, querendo sua mãe Há um ano, quando acordou, não a encontrou e insistiu Diziam-lhe: “voltará depois de amanhã, Sem falta voltará” e sussurrará aos amigos que ela está lá ao pé da colina dorme num sonho eterno servindo-se da terra e água da chuva, como um pescador tristonho a recolher a rede amaldiçoando as águas e o destino, espalhando o canto onde se eclipsa a lua Chuva... Chuva... Você sabe que tristeza provoca a chuva? e como as calhas soluçam quando ela cai? e como faz o solitário se sentir perdido? Sem fim, como o sangue vertido, como os famintos, como o amor, como os meninos, como os mortos... Isto é a chuva! Suas pupilas me levam com a chuva, e através das ondas do golfo, os relâmpagos banham a costa do Iraque com estrelas e conchas, querendo nascer igual ao sol, mas vem a noite e as cobrem com um manto de sangue. Grito ao golfo : “ Oh! golfo, Oh doador das pérolas, de conchas e ruínas!” E me volta o eco como um soluço “Oh! golfo Oh doador das pérolas, de conchas e ruínas ..!” Quase ouço o Iraque guardando os trovões armazenando os relâmpagos nas planícies e nas montanhas, e quando se afastam, os homens acabam com o resto. O vento de Thumod não deixou qualquer resto no vale. Quase posso escutar as palmeiras bebendo a chuva, as aldeias gemem, e os imigrantes lutam com os remos e as velas, os temporais do golfo e os trovões, cantando: Chuva... Chuva... Chuva... No Iraque há medo e fome Os grãos são espalhados na época da colheita para satisfazer os corvos e os gafanhotos, esmagando os celeiros e as pedras uma moenda que gira nos campos... e ao redor dela, homens/ Chuva... Chuva... Chuva... Quantas lágrimas derramamos na noite da partida E percebemoscom medo Que seriamos acusados de provocar a chuva. Chuva... Chuva... Desde que éramos pequenos, o céu se cobria com as nuvens no inverno e caíam os cântaros da chuva, e a cada ano,/ quando a terra se cobria de ervas,/ sentíamos fome, nunca passou um ano que o Iraque estivesse sem fome, Chuva... Chuva... Chuva... E em cada gota de chuva vermelha ou amarela da cor das rosas, cada lágrima dos famintos e dos nus e cada gota derramada de sangue dos escravos é um sorriso que espera uma nova boca ou um mamilo que floresce na boca do recém-nascido no jovem mundo do amanhã, o doador da vida! Chuva... Chuva... Chuva... o Iraque será coberto de ervas com a chuva... Grito ao golfo : “ Oh! golfo, Oh! doador das pérolas, de conchas e ruínas!” e me volta o eco como um soluço “Oh! golfo Oh! doador de pérolas, de conchas e ruínas!” O golfo espalha seus grandes tesouros sobre as areias: espuma de sal, e as conchas, e os restos de um miserável afogado do imigrante que bebeu a morte do fundo das águas do golfo,/ quando no Iraquehá mil víboras que bebem o néctar de uma florque o Eufrates alimenta com orvalho. Ouço o eco Que se repete no golfo “Chuva... Chuva... Chuva...” Em cada gota de chuva vermelha ou amarela da cor das rosas, cada lágrima dos famintos e dos nus e cada gota derramada de sangue dos escravos é um sorriso que espera uma nova boca ou um mamilo que floresce na boca do recém nascido no jovem mundo do amanhã, o doador da vida E caem os cântaros da chuva.