A Poesia árabe no Brasil

Seg, 03/09/2007 - 21:00
Fora dos limites dos países árabes, dois foram os grandes centros de produção literária no início do século XX: os Estados Unidos, no hemisfério Norte, e o Brasil, no hemisfério sul. A primeira fase começa na América do Norte com Rihani, Gibran, Naaime, Abu Madi , entre outros. A segunda tem início 10 anos mais tarde, em São Paulo. As obras escritas no Brasil tiveram ótima receptividade no Oriente Médio, principalmente por apresentar um novo formato, sofrendo nítida influência dos modernistas brasileiros. Em 1931, com a morte de Gibran, a produção na América Setentrional cai consideravelmente, em contrapartida, no Brasil toma um novo impulso com o surgimento, em 1933, da Liga Andaluza, cujo nome sugere as glórias de um passado jamais recuperado. O primeiro presidente da Liga foi Michel Neman Maluf, eleito dois anos após a fundação, e dela fizeram parte Nazir Zaitun, Nasr Samaan, Daud Chaccur, Husni Gurab, Iskandar Kerbej , Chicrala El-Jurr, entre outros notáveis. Segundo o escritor argelino, Slimane Zèghidour a escola nova-iorquina não exercerá a mesma influência que a brasileira na poesia árabe moderna. Em primeiro lugar, devido, no Brasil, a vida comunitária ser mais intensa (jornais, revistas, clubes) e os imigrantes serem mais numerosos, espalhados por várias cidades, daí a criação de veículos de propagação das novas idéias, surgidas, a partir do contato direto com a intelectualidade brasileira, que vivia um momento de efervescência político-cultural. Se nos primeiros instantes de vida no Brasil, os escritores árabes forjavam versos nostálgicos, rememorando o paraíso perdido, na fase posterior demonstravam uma total adaptação ao novo habitat, enaltecendo valores da terra que os acolheu. Belos exemplos são os seguintes trechos: Será que retornaremos? Riad Maluf Será que retornaremos a ti, ó Líbano? As promessas serão cumpridas com a permissão do tempo? Colheremos os cachos coloridos de uvas variadas? Será que retornaremos a ti, ó Líbano? Como é gostoso passar a noite na solidão dos parreirais. Entre nós, somente a lua, perto de nós, somente as estrelas. Essas imagens são fugazes como as nuvens. Será que retornaremos a ti, ó Líbano? O canto dos passarinhos e a vibração dos galhos... Vejo até as pedras, orvalhadas e multicores Até mesmo o negrume das trevas é transparente para os olhos. Será que retornaremos a ti, ó Líbano? Viajei mundo afora e nada me atraiu Meu País abandonado e meu casebre verde Valem mais que os palácios dourados Será que retornaremos a ti, ó Líbano? Como é doce a lembrança nos olhos do imigrante. Ao recordar a Pátria querida Os olhos tremem e se apagam. Será que retornaremos a ti, ó Líbano? Iara Elias Farhat Cantou Iara ... Os olhos viraram Nas trevas perscrutando seu esconderijo A água formou espuma Que se sublevou ...e os remos ficaram indecisos Toda a beleza reunida da noite Envolta pelas trevas Isso é Iara.