A política não faz mais heróis

Qui, 13/03/2008 - 21:00

Por que os árabes estão à procura de um herói popular? Por que os jornais e a mídia, as elites culturais e políticas, e as massas celebram um cidadão árabe se ele ousa opor-se à corrente antiárabe? Como um jogador de futebol egípcio tornou-se um “símbolo político” apenas por, ao marcar um gol na Copa das Nações Africanas, levantar seu uniforme e revelar uma camiseta por baixo, na qual podia ser lido “Solidarize-se com Gaza”, em árabe e inglês? A imagem de Mohammed Abu Treika, transmitida ao mundo por estações de satélites e emitida por agências de notícias, tornou-se uma obra de arte, com todos orgulhosos em obter uma cópia. Sem consideração pelo debate levantado nas comunidades de esportes árabes sobre o direito de um jogador expressar sua opinião política ou seus sentimentos humanos durante uma disputa esportiva, ao largo do aviso de punição da Federação da Copa Africana no caso de ele ou outro jogador agir dessa forma novamente, a comoção política que se seguiu refletiu o grau ao qual as massas árabes tornaram-se puramente emocionais. Isso ocorre por causa de políticos que lhes causaram a perda da esperança quando se fala de qualquer solução para os vários problema árabes, soluções que não mais estão nas mãos dos árabes. O legado cultural dos árabes os vê regozijar as glórias e heróis do passado, assim como o logo da rádio egípcia Sawt al-Arab diz. No entanto, as repercussões da causa palestina, da crise no Iraque, e uma série de falhas árabes no Sudão e Somália e das condições sócio-econômicas que golpeiam árabes de todos os cantos veio a causar à nova geração a perda de esperança em ter uma vida normal, uma que lhes garanta o mínimo nível de direitos, emprego, alimento e abrigo. Você pode esquecer do luxo de escolher um governo que vá governar-lhe, ou ter um Parlamento que faça leis e regule as relações entre os vários membros da sociedade egípcia. Tudo isso levou as massas árabes à felicidade, e talvez a dançar de alegria, à imagem de uma pessoa desafiando as maiores potências, mesmo que essa pessoa não quisesse desafiar ninguém, mas somente expressar sentimentos humanos. A coisa mais interessante nos círculos políticos do Egito é que a maioria daqueles que apoiaram as ações de Abu Treika não são fãs amadores que não sabem muito sobre as regras do jogo e suas estrelas. No entanto, todos ouviram e leram sobre o que o jogador fez, o que atraiu suas atenções e tomou seus corações. O público correu para acompanhar a cobertura por satélite do torneio africano de Gana – talvez eles possam ver a cena uma vez mais, e sentir o orgulho que foi perdido, agradeça a seus políticos. O jogador não tem qualquer conexão com o “Hamas” ou a Autoridade Palestina. Ele nunca foi membro da “Irmandade Muçulmana” ou do partido de esquerda Tagammo egípcio. Ele jamais fez parte de um encontro partidário ou de um protesto do Sindicato dos Jornalistas Egípcios, ou de qualquer outro. Ele não protestou com centenas de outros, em vários lugares, por várias razões. No entanto, ele teve um impacto maior, já que escolheu um momento e lugar, e evento, onde as câmeras estariam clicando, e ele sendo observado por fãs e mídia. Ele revelou sua surpresa, a qual ele havia discretamente preparado, e na qual não havia objetivos políticos. Ele constrangeu políticos que não estão sujeitos à Confederação Africana de Futebol ou à Fifa, mas aos cálculos políticos, que talvez sejam lógicos, mas que não fazem heróis. *Mohammed Salah, em artigo publicado no site do Al Hayat. (Tradução de Arturo Hartmann)