Uma guerra em Ghaza

Qui, 22/01/2009 - 22:00

A guerra de Ghaza começou com os ataques israelenses no dia 27 de dezembro e evoluiu para uma invasão terrestre no amanhecer deste novo ano de 2009. Apesar das tentativas de se chegar a uma trégua, inclusive por parte do governo brasileiro, os esforços seguiram. Houve até uma resolução do Conselho de Segurança com uma raríssima abstenção dos Estados Unidos...A guerra de Ghaza começou com os ataques israelenses no dia 27 de dezembro e evoluiu para uma invasão terrestre no amanhecer deste novo ano de 2009. Apesar das tentativas de se chegar a uma trégua, inclusive por parte do governo brasileiro, os esforços seguiram. Houve até uma resolução do Conselho de Segurança com uma raríssima abstenção dos Estados Unidos, recuando de seu agressivo apoio a Israel e contrariando a sustentação habitual, decênios a fio, ao Estado hebreu, pelo exercício cínico e abusivo do poder de veto. De nada serviu, pois Israel insistiu que estava exercendo seu direito de continuar protegendo os seus interesses. Discussões e palpites abundam sobre como a trégua precária de seis meses entre Israel e o Hamas foi quebrada. De seu lado, o Estado sionista culpa os inúmeros foguetes lançados contra o sul de Israel e a suspeita de que o Hamas está contrabandeando através da fronteira egípcia foguetes de maior alcance. Já o Hamas dá inúmeros exemplos de quebra do cessar-fogo por Israel em diversas ocasiões, como no envio de um comando, em 4 de novembro de 2008, dentro de Ghaza para assassinar seis de seus membros e bloqueou quase totalmente suas fronteiras. Tudo isto não teve grande divulgação já que a imprensa mundial estava ocupada com as eleições presidências estadunidenses e o Hamas também aproveitou para intensificar o lançamento de foguetes. Vale a pena apontar duas verdades que ilustram bem a situação. A primeira é que o Hamas dirigia boa parte de seus foguetes sobre ‘Ashkalan, cidade de onde a maioria dos habitantes de Ghaza foi expulsa, em 1948, apesar da célebre afirmação de Israel Zangwill, um sionista de primeira hora, de 1897: “[A Palestina é] a terra sem povo – para o povo [judeu] sem terra”; e apesar da declaração de David Ben-Gurion, outro sionista histórico, em 1915, afirmando que “Nós não pretendemos empurrar os árabes para o lado, para tomar sua terra, ou deserdá-los”. A segunda é que as forças armadas do Estado hebreu, de seu lado, há muito tempo estavam entregues ao detalhamento do plano de invasão e ao treinamento para a invasão de Ghaza, inclusive a zona urbana. A maior parte deste treinamento era feito no Centro Nacional de Treinamento Urbano, uma reprodução da cidade árabe de Baladia, construída do deserto de Nukub (Negev), completa, com campo de refugiados. Quem construiu o modelo foi o Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos, com financiamento quase total da ajuda militar estadunidense. A imitação estava em operação há dezoito meses antes da atual agressão. Como sabemos, a guerra começou com uma operação aérea envolvendo 88 bombardeiros atacando 100 alvos previamente escolhidos. Durante a primeira semana, mais 400 alvos foram atingidos e o Hamas certamente sofreu abalos e grande número de mortes. Apesar disto, todos os dias mais de 30 foguetes eram lançados além da fronteira fictícia, em território ocupado. Na segunda semana, mais de 10.000 soldados sionistas se dirigiram para o território de Ghaza, apoiados por aviões, helicópteros de combate e tanques. No final da segunda semana, toda a área rural tinha sido ocupada e só na terceira os sionistas penetraram nos subúrbios da cidade principal e, a esta altura, os combatentes palestinos já haviam se reagrupado e aguardavam o avanço dos invasores. Estes, aparentemente, estavam e continuam temendo se engajar em batalhas de guerrilhas. O lançamento de foguetes não se interrompeu. Se a guerra foi iniciada apenas para silenciar os foguetes, nesta semana o que se pode ter certeza é que a intenção é terminar com o regime do Hamas e fechar as rotas de chegada de armas através da fronteira egípcia. Trata-se do mesmo Hamas eleito por maioria dos palestinos, em eleições democráticas e supervisionadas por entidades insuspeitas internacionais. No entanto, para sionistas e gringos, a democracia tem que servir a seus interesses. Em suma, Israel usa de força total, na certeza de que conta com o apoio dos Estados Unidos e o faz agora por suspeitar que poderá haver uma alteração radical na política dos Estados Unidos para o Oriente Médio sob Barack Obama. O Estado hebreu vê o Hamas como um daqueles que compõem a sua própria versão de “eixo do mal” junto com o Hizbullah, o Irã e a Síria. O medo é que o Hamas ganhe maior apoio popular e vença com galhardia as próximas eleições. Com o ataque sobre o Hamas, aplicam o mesmo golpe de Shimon Peres quando queria ganhar as eleições em 1996 e atacou a sede da Unifil (Forças das Nações Unidas para o Líbano), onde só estavam refugiados civis; matou 106 pessoas, a metade das quais crianças. E hoje, como o partido Kadima, no poder, estava perdendo nas pesquisas para o Likud, de ultradireita, inventou esta guerra para melhorar nas pesquisas. O lamentável, o vergonhoso, e mais que isto, é que o Egito se coloca como um dos agentes da paz e da negociação, porém colabora com Israel, ajudando a sufocar Ghaza, fechando as suas fronteiras. No entanto, em minha opinião, Israel dificilmente destruirá completamente o Hamas como querem regimes árabes traidores da causa árabe. O ataque, por maior que seja o número de mortos e mais arrasadora seja a destruição, trará apoio ao Hamas e mais ódio a Israel e Estados Unidos. Tudo indica que o alegado cessar-fogo unilateral por parte do Estado sionista veio por um recado indiretamente dado pela equipe de Barack Obama, através da convocação de Tzipi Livni, Ministra do Exterior, por parte de Condolleeza Rice, para que assinassem um acordo onde, na realidade, a outra parte interessada não foi convocada. Se este é um indício do que vem por aí, logo mais saberemos.