Artigo: Xeque-mate à libanesa
O Líbano passou a ter, para a Arábia Saudita, mais preocupada atualmente alhures, principalmente no Iêmen e na Síria, importancia relativa. Esta foi uma jogada decisiva no tabuleiro de xadrez da política libanesa; não foi única, mas a mais importante.
A eleição de Michel Aoun para a presidência do País do Cedro, no último dia de outubro de 2016, foi uma vitória do Hizbullah, da Síria e do Irã. A eleição do velho General Aoun enfatiza o equilíbrio das correntes regionais favoráveis, no momento, ao Irã e seus aliados. O grande vitorioso, no entanto, foi o povo libanês que merecia uma solução de um problema que se arrastava meses a fio.
Se o relativo desinteresse da Arábia Saudita favoreceu a eleição pelo Parlamento libanês não é surpresa que isto tenha acontecido quando as forças leais ao presidente Bachar al-Assad obtêm sucesso diante das brigadas rebeldes recheadas de combatentes mercenários dos cafundós deste planeta e de ‘jihadistas’ que em nome do Islã traem os próprios princípios básicos da religião do Corão.
Outra importante observação, na atualidade, é que poucos ainda falam no que insistiam ser absolutamente necessário, nos idos de 2012 e 2013, quando alardeavam que Bachar era dado como politicamente um defunto.
Sendo o Líbano o único país onde a oposição faz parte do governo, sem que este se constitua num poder de união nacional, a vitória de Aoun é compartilhada também por Saad al-Hariri, chefe do setor oposto ao próprio Eixo da Resistência formado pelo eleito presidente, apoiado pelo Hizbullah que luta na Síria contra a tentativa de desestabilizar o vizinho país irmão e o campo iraniano.
O Eixo da Resistência, no íntimo, preferiria que o eleito fosse Sleiman Frangié, neto do chefe de estado, de mesmo nome, nos anos 1970, e íntimo de Bachar.
Há também uma surpresa em Saad aceitar a chefia de um governo que atuará ao lado de Damasco, pois ele declaradamente suspeita, como querem os verdadeiros perpetradores do atentado contra seu pai, Rafik al-Hariri, em 2005, Israel e Estados Unidos, através de Mosad e CIA.
O que moveu Saad não foi o seu patriotismo e sim o fato de que seus principais negócios na Arábia Saudita estarem submetidos a pressão política e, em segundo lugar, estarem os ditos negócios, também no Líbano, cercanias e alhures, necessitando de maior atenção e soluções que os tire da crise que já dura dois anos e meio, desde quando ele próprio impediu uma solução para a crise presidencial libanesa.
O ‘massari’ falou mais alto nas contradições da politicagem libanesa.
Jose Farhat é cientista político, arabista e diretor de Relações Internacionais do Instituto da Cultura Árabe .
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