Mais espaço à temática árabe na América Latina

Qui, 28/11/2013 - 22:58
Publicado em:
Convidado para integrar o corpo de jurados da terceira edição do LatinArab International Film Festival (LAIFF), o Diretor Cultural do ICArabe, professor de Relações Internacionais e curador da 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, promovida pelo Instituto, reafirmou a importância desses festivais como forma de fortalecimento do diálogo entre as culturas árabe e latino-americana. Ele destacou os momentos mais marcantes da Mostra realizada pela Cine Fértil, que apresentou e premiou obras de profissionais consagrados e novos nomes do cinema.

Para Godoy de Campos, a existência do ICArabe, do Cine Fértil, da Mostra Mundo Árabe de Cinema e do LAIFF representa uma parte essencial, tanto para materializar essa união como para a obtenção de um reconhecimento dentro do panorama cultural. “São exemplos de iniciativas que caminham numa direção que tende a fortalecer esses laços que já existem. Do ponto de vista da produção cinematográfica, hoje, há um aumento significativo da temática árabe na América Latina, o que aponta para um cenário promissor”, pontua.

Presidente do júri, o diretor do ICArabe dividiu a mesa com os diretores de cinema Javier López Actis, de “1001 noites na Patagônia”, exibido este ano na 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, Octávio Cury e Gabriel Lahaye. “Fiquei impressionando com a receptividade, a curadoria e a qualidade do festival. A experiência de participar do júri foi muito rica”. Além disso, segundo ele, o interesse do público argentino pelo cinema árabe, assim como o do brasileiro, cresce a cada edição.

Ele reforça a característica primeira e particular deste diálogo, que não se resume apenas a uma composição que resulta em uma terceira identidade. “Há outra possibilidade de apreender a força que esta palavra revela. Como? Ocupando o espaço que se cria entre as terminações que lhe dão origem: latino e árabe, sentindo o que acontece entre esses dois polos, que características tem o espaço aberto por este encontro. Viver esse espaço sem a preocupação de definir a priori os contornos de uma síntese de identidade latino-árabe. Procurar o “entre”, o que passa pelo meio, reconhecendo que não é um espaço vazio. Ao contrário, é pleno de sentidos, tem cores, sons, olhares e surpresas, desalento e esperança”.

O professor aponta ainda que o papel dos dois espaços de produção e circulação cinematográfica é fundamental, a partir do momento em que ampliam as relações entre os países latino-americanos e o mundo árabe, tanto sob uma perspectiva econômica como política. No âmbito cultural, explica, é essencial porque não só cria laços, mas os evidencia e fortalece, além de ajudar a derrubar o conjunto de estereótipos, de visões preconcebidas, informações e imagens dos países árabes que o público da América Latina recebe por via da grande mídia. “São informações que vêm sempre atreladas a aspectos negativos, a guerras. As iniciativas ajudam a mostrar essa complexidade e a problematizar o assunto, porque mostra a diversidade, a riqueza e a quantidade de culturas que há nesses países."

Godoy de Campos destaca a cinematografia palestina e reflete sobre o seu sentido mais profundo.  "É um cinema que cada vez mais mostra um vigor impressionante, com qualidade técnica e estética. Uma produção cada vez mais significativa e que nos faz pensar na própria questão de representação e em como o cinema territorializa uma ideia de pertencimento de um povo que ainda se vê sob ocupação”, ressalta.

A edição 2013 do LatinArab promoveu, segundo ele, debates muito interessantes sobre o cinema palestino, que conta hoje com nomes como Kamal Aljafari, que apresentou recentemente no Brasil seu filme “The Roof”, e Emad Burnat,  de “5 Câmeras Quebradas”, que abriu a 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. O filme de Burnat foi premiado esta semana com o 41º Emmy Internacional, considerado o Oscar da televisão mundial, na categoria de melhor documentário.

Quanto às produções apresentadas durante o LatinArab, o diretor do ICArabe destaca os três filmes que representaram o Brasil. “A Última Estação”, de Marcio Curi e roteiro de Di Moretti, que teve pré-estreia nacional na 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, foi premiado com voto do público. Coproduzido por Brasil e Líbano, o longa narra a história de libaneses e sírios que vieram tentar a sorte no Brasil na década de 50.

O documentário “Sobre Futebol e Barreiras”, de Arturo Hartmann, Lucas Justiniano, José Menezes e João Carlos Assumpção, foi premiado com menção honrosa. O filme, que esteve na 7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema do ICArabe, em São Paulo e Rio de Janeiro, em 2012, apresenta um olhar sobre o conflito palestino-israelense, tendo como cenário a Copa do Mundo da África do Sul de 2010.

“Sleepless Nights" de Eliane Raheb, coprodução ente Líbano, Palestina, EUA, França e Qatar, foi premiado como melhor longa metragem árabe e “Round Trip", de Meyrar Al-Roumi (Siria/França), ganhou menção especial do júri.

Na categoria “Work In Progress”, que premia produções ainda não finalizadas como forma de  apoio para a concretização, o vencedor foi o brasileiro “The revolution of the year”, de Diogo Faggiano, que aborda a Primavera Árabe no Egito.

Além desses, “Habi, a estrangeira”, da diretora María Florencia Alvarez, levou o troféu Ninawa Daher de melhor longa latinoamericano envolvendo a temática árabe, uma produção que reflete a proximidade entre Argentina e Brasil.

Na sessão de curtas-metragens, o destaque foi “Abu Rami”, de Sabah Haider, do Líbano.

Conheça mais sobre o festival em http://cinefertil.org/latinarab/