Mais de 300 mil refugiados e migrantes cruzaram o Mediterrâneo em 2016
O número de pessoas que cruzou o mar rumo à Europa nos primeiros nove meses de 2016 é menor se comparado ao mesmo período no último ano. Porém, é maior do que o total contabilizado em 2014.
Mais de 300.000 refugiados e migrantes fizeram a perigosa travessia pelo mar Mediterrâneo este ano, de acordo com números divulgados pela Agência da ONU para Refugiados, o ACNUR.
"Embora esse número seja consideravelmente inferior ao das 520.000 chegadas marítimas registradas durante os nove primeiros meses de 2015, já é maior do que as 216.054 chegadas registradas durante todo ano de 2014", disse o porta-voz do ACNUR, Willian Spindler, em uma coletiva de imprensa realizada em Genebra.
Ele acrescentou que significativas diferenças foram percebidas em relação aos dois principais países de chegada, Grécia e Itália. Porém, esta continua sendo uma rota propensa à fatalidades.
Apesar do número de travessias ter diminuído 42% se comparado com o mesmo período do ano passado, o número de pessoas registradas como mortas ou desaparecidas até agora (3.211) é apenas 15% menor do que o número total de vítimas durante todo o ano de 2015 (3.771).
"Neste ritmo, 2016 será o ano mais letal já registrado no Mar Mediterrâneo", alertou Spindler.
Ele explicou que uma análise mais detalhada sobre os dados mostrou que as chegadas atuais na Itália seguiram o mesmo padrão do ano passado. Em 2016, 130.411 refugiados e migrantes chegaram pelo Mediterrâneo, nos primeiros nove meses de 2015, foram 132.071.
"Em ambos anos, as chegadas aumentaram em maio e atingiram um pico em julho. Entretanto, mais pessoas que estão chegando pela Itália estão permanecendo por lá. Até o presente momento as solicitações de refúgio praticamente dobraram em comparação ao mesmo período no ano passado", acrescentou. Mais de 158.000 pessoas estão atualmente acomodadas em centros de recepção na Itália.
Por outro lado, a Grécia testemunhou um grande aumento de chegadas marítimas no último ano, totalizando 385.069 até o final de setembro. O aumento teve início em agosto, com 107.843 chegadas, e atingiu o maior número de chegadas em outubro (211.663).
"Neste ano houve uma queda brusca de 67.415 chegadas registradas durante o mês de janeiro para apenas 2.000 neste mês até agora, elevando o total deste ano para 165.750, uma queda de 57% em relação às 385.069 chegadas registadas na Grécia durante os primeiros nove meses do ano passado", disse Spindler.
A maior parte das pessoas que chegam à Grécia vêm da Síria (48%) e do Afeganistão (25%), mas há também um grande fluxo de pessoas do Iraque, Paquistão e Irã. Os que chegam pela Itália, vêm principalmente da África (Nigéria 20%, Eritréia de 12%, Gâmbia, Guiné, Sudão e Costa do Marfim, 7% cada).
No Mediterrâneo como um todo, cinco nacionalidades - Síria, Afeganistão, Iraque, Nigéria e Eritréia - correspondem por 68% de todas as chegadas.
A situação evidencia a necessidade urgente dos países aumentarem suas as vias de admissão de refugiados, como o reassentamento, financiamento privado, reunião familiar, sistemas de bolsas estudantis, entre outros, para que os refugiados não tenham que recorrer às viagens perigosas e aos contrabandistas.
Paralelamente, o plano acordado pela União Europeia (UE) e pelos Estados-Membros há um ano para realocar 160.000 solicitantes de refúgio, principalmente da Grécia e da Itália para outros países europeus, deve ser plenamente implementado. Até agora, menos de 5.000 solicitantes de refúgio foram realocados da Grécia (3.791) e da Itália (1.156), o que corresponde a apenas 3% da meta original.
"Temos solicitado que os Estados-Membros da UE reforcem suas promessas, inclusive para crianças desacompanhadas e separadas, acelerarem o registro e a transferências de candidatos, e que pessoas de outras nacionalidades que também fogem da guerra e de perseguição tenham acesso ao plano", explicou Spindler.
Enquanto isso, na última segunda-feira, ocorreu um incêndio no centro de recepção de Moria, na ilha grega de Lesbos, depois de confrontos entre os residentes.
Um grande número de refugiados e migrantes foram obrigados a deixar o local administrado pelo governo. Cerca de 4.400 pessoas estavam acomodadas na unidade no momento. Aproximadamente 95 crianças desacompanhadas foram transferidas para a comunidade de Pikpa, localizada nas proximidades.
Com base em relatórios iniciais, o incêndio não causou vítimas, mas pelo menos 30 pessoas foram registradas com ferimentos leves e foram levadas para o hospital. Mais de 50 unidades habitacionais do ACNUR para refugiados, que acomodavam cerca de 800 pessoas, ficaram completamente destruídas. Outros danos materiais ocorreram no local, como a destruição de tendas.
O ACNUR está presente em Moria e em outros centros de acolhimento nas ilhas gregas.
"Temos uma equipe avaliando os danos e hoje vamos arrumar tendas familiares como uma medida de alojamento de emergência aos afetados. Organizações não-governamentais irão fornecer tendas, colchões, cobertores e água", Spindler declarou.
Más condições de vida, combinadas com um sentimento prevalecente de incerteza, frequentemente trazem desespero e frustração aos solicitantes de refúgio na Grécia. Em ilhas como Lesbos, a capacidade para acolher refugiados e migrantes está sobrecarregada. Lesbos acolhe mais de 5.300 pessoas e tem capacidade de apenas 3.500.
Para reduzir a tensão e a superlotação, o ACNUR está trabalhando com as autoridades para concretizar a transferência urgente de crianças desacompanhadas e separadas, um dos grupos mais vulneráveis, para a parte continental, para que períodos mais curtos de espera das solicitações de refúgio sejam implementados, para que o registro de todas as nacionalidades seja mais ágil, e para que o processo de retorno daqueles que não têm necessidade de proteção internacional seja acelerado.
Fonte: https://goo.gl/UXrS4c