Dança aproxima brasileiros da cultura árabe

Qui, 06/10/2016 - 11:43

O Portal ICArabe conversou com três referências no tema: Márcia Dib, Cristina Antoniadis e Fadua Chuffi.
 
Por Arthur Gandini


A dança árabe é uma forma de conhecer a cultura do Mundo Árabe já difundida no Brasil. Entretanto, este conjunto de estilos ainda é conhecido por muitos por meio de estereótipos e não compreendida em sua totalidade, explicam especialistas no tema. O Portal ICArabe conversou com três bailarinas que são referência em danças orientais no Brasil.
 

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“Há muitos estereótipos. Cria-se a fantasia dos haréns, mistérios, odaliscas, princesas etc. Tanto é que a dança árabe mais conhecida no Ocidente é a chamada Dança do Ventre ou Dança Oriental Árabe”, afirma Marcia Dib, diretora da Mabruk! Companhia de Danças Folclóricas e Árabes, mestre em Cultura Árabe e autora do livro "Música Árabe: expressividade e sutileza.

pessoal


Esta é a mesma opinião de Cristina Antoniadis, bailarina e coordenadora da Pandora Danças. “Precisamos esclarecer uma coisa: bailarina de danças árabes é diferente de bailarina de dança do ventre que é diferente de odalisca”. Segundo Cristina, há uma visão errada em relação ao papel das chamadas “odaliscas”. “Devido ao cinema e algumas pinturas e literaturas consideradas orientalistas, criou-se um imaginário do mundo árabe de haréns com mulheres exóticas que dançavam e estavam disponíveis para os desejos masculinos”, explica. “Essas mulheres na verdade eram escravas que desempenhavam nos palácios diversas funções como limpar, cozinhar, prestar favores sexuais, e as que possuíam talentos artísticos para música e dança, eram solicitadas para tocar e dançar. Uma odalisca é uma escrava. Já a dança do ventre é um produto derivado da dança oriental solo feminina improvisada.”
 
Mas o que é uma bailarina de danças árabes?
 
“Quando falamos em danças árabes, o universo é bem mais amplo, e no caso da dança feminina solo improvisada, eu prefiro chamar de dança oriental, pois quando falamos em música e dança oriental englobamos um universo um pouco mais amplo que somente o mundo árabe”, define Cristina. “A bailarina de dança oriental tem conhecimento mais amplo também, conhecendo não só as danças femininas solo, mas também os folclores e outras danças. Esta pesquisa absorve também os aspectos musicais”, ressalta.
 
Para a bailarina e coreógrafa Esther Fadua, o estilo também pode ser reconhecido por um jeito diferente de dançar. “Quando se trata de bailarinas nativas, podemos identificar os detalhes na interpretação da música, ritmos, instrumentos e entendimento das canções (letras)”, explica. “Podemos dizer que existe um ‘gingado’, uma ‘pegada’ que as bailarinas nativas possuem com muita naturalidade e graciosidade”, diz.
 
Cristina Antoniadis chama a atenção para as distorções que se faz\em no Ocidente em torno dessas danças. “O que é mais conhecido no Brasil é a dança do ventre, mas também há uma visão bastante equivocada desta arte, relacionando-a sempre com fetiches sexuais. Já quanto aos folclores árabes também há uma grande confusão entre o que é egípcio e o que é libanês. Por exemplo: na novela ‘O Clone’, que era no Marrocos, diversas vezes apareceram em cena bailarinos de dabke (folclore da região do Levante que não pertence ao Marrocos).”
 
Marcia Dib concorda que a dança árabe, de forma geral, ainda é pouco difundida no Brasil. “As danças folclóricas são pouco conhecidas, com exceção do Dabke, uma dança do Oriente Próximo que é apresentada em festas e casamentos. Esta dança aparece dentro e fora da comunidade árabe, principalmente o Dabke popular”, afirma.
 
Cultura e contato
 
Os estereótipos e o desconhecimento quanto à dança árabe, entretanto, não fazem a tarefa de dar aulas algo menos prazeroso. “O processo de aprendizado envolve não apenas a técnica dos movimentos mas, por se tratar de uma dança étnica, é preciso estudar a música árabe. Acredito que o papel das pessoas que tiveram acesso à cultura árabe é divulgar, esclarecer, levar informação. Existe uma grande demanda por conhecimento!”, afirma Marcia em relação ao contato com a cultura e a falta de escolas de formação.
 
“Particularmente eu gosto muito. Sendo brasileira, descendente de libaneses, pelo meu lado paterno, fico orgulhosa em poder dar continuidade as minhas raízes”, diz Esther, por sua vez, sobre dar aulas. “É muito interessante como muitas brasileiras, com descendências distintas, se identificam com as músicas, as canções, comidas etc”, afirma.
 
Para Cristina Antoniadis, os brasileiros também levam jeito para a dança árabe. “Uma das características fundamentais que o povo brasileiro tem e que facilita no aprendizado desta arte é a criatividade, a curiosidade e a abertura ao novo e ao diferente. O brasileiro não é um povo travado”, afirma. “Em minhas aulas, as alunas estão sempre com os olhos brilhando quando eu explico sobre as origens desta dança. Outra coisa que facilita é a ginga própria da brasileira.”
 
Esther Fadua lembra, ainda, sobre os benefícios para a vida de fazer a dança árabe. “Traz beleza, saúde, conscientização corporal, socialização, desbloqueio tanto físico quanto emocional”, conta ela.  “Seja no âmbito profissional, social, terapêutico ou cultural, ela acompanha nossa história por milhares de anos, revelando as múltiplas e surpreendentes manifestações do feminino e da ‘deusa interior’", afirmou.