Damasco, Síria. Esta é, em 2008, a cidade escolhida pela Liga Árabe para ser o Centro Cultural do Mundo Árabe. Ali, a capital do país será palco de uma série de eventos, entre manifestações de arte e debates mais ligados a conjunturas da região, que farão da capital síria o centro de acaloraddos debates durante o ano. Desde 1996, a Liga Árabe, por meio da Organização Árabe para Educação, Cultura e Ciência (Alesco), escolhe anualmente uma cidade para sediar o evento. Argel foi a escolha de 2007. Segundo publicou a Anba, a secretária-geral do evento, Hanan Qassab Hassan, explica que as apresentações musicais serão variadas, uma forma de mostrar a riqueza cultural do mundo árabe e também do Ocidente. Entre os ritmos, pop, rock, jazz e techno. Outro resultado do evento, ainda segundo Hassan, será a publicação de diversos livros, incluindo quatro volumes sobre a poesia síria escritos por críticos, especialistas e tradutores estrangeiros. Também haverá um festival de cinema, com produções árabes e estrangeiras. A expectativa é que Damasco receba intelectuais árabes e estrangeiros, e entre os convidados ilustres estão os escritores Milan Kundera e Isabel Allende, e o lingüista Noam Chomsky. Mas nem todos os sírios enxergam com bons olhos a atividade celebrada pela Liga Árabe. Algumas vozes se levantaram: exemplo, o escritor Ibrahim Haj Abdi. “Os intelectuais sírios também poderiam acreditar nas promessas feitas pelos organizadores, se estas fossem acompanhadas por esforços para liberar um dos mais importantes intelectuais do país: Michel Kilo”, escreveu Abdi no diário árabe Al-Hayat. A história de Kilo está envolta em polêmica, e entra nas discussões sobre a estância governamental autoritária da Síria e da realidade da região, constantemente objeto da sanha e desejo das potências “ocidentais”. O intelectual foi preso em 2006, após o que seria uma reposta violenta do governo sírio ao que se chamou de Declaração Beirute-Damasco, um protesto assinado por 274 intelectuais libaneses e sírios para que fossem reguladas pacificadas as relações entre os governos dos dois países. Na verdade, a Declaração foi uma forma de colocar pressão sobre o governo da Síria. Kilo foi um dos signatários. De fato, o regime sírio persegue os signatários da Declaração Beirute-Damasco, entre os quais eminentes opositores da esquerda. Por outro lado, há um conjunto de pensadores neoliberais que coadunam com os desejos “ocidentais” no Oriente Médio. O evento cultural promovido pelo Liga suscitou os ânimos e dá uma demonstração esclarecedora da temperatura política na Síria. (com informações da Anba – Agência de Notícias Brasil-Árabe – e da Ansa)