El Cid - a morte
Contam que houve mensagens atravessadas, ressentimentos e revanches, antes da queda de Valência. O Cid não teria sido socorrido à altura, talvez porque no Alandaluz, a convivência entre lideranças fosse análoga à relação política entre as taifas (*): complicadas e imprevisíveis. Porém, ainda que de forma frágil e desordenada, reinos inimigos se defenderam do invasor comum: depois de Yusuf, veio seu sobrinho com 150 mil cavaleiros península a dentro. Valência foi conquistada depois da morte do Cid no verão de 1099, aos 55 anos. No aguardo de socorro, sua esposa Ximena resistiu à pressão dos almorávides por três anos, mas Afonso VI não moveu empenho para acudir a família de Rodrigo Diaz.
Esgotados, os castelhanos incendiaram a cidade e fugiram com o corpo embalsamado do guerreiro. O cadáver do Cid atravessou campos e aldeias, passando por castelos e fortalezas até chegar à Castela. Contam que depois de morto o Cid foi posto em seu cavalo e o aspecto temível de sua figura afugentou os inimigos. Os restos mortais de Rodrigo Diaz e Ximena repousam no centro da catedral de Burgos.
Contam que foi assim. Mais uma vez, e agora para sempre, os feitos do Cid permaneceram, ano após ano, no imaginário da gente alandaluza, parte da semente do futuro povo espanhol. A lembrança encantada do guerreiro nos versos de trovadores fomentou uma lenda alimentada tanto pela história como pela impressão deixada no rastro do Campeador:
“O cego sol, a sede e a fadiga.
Ao desterro, com doze dos seus
pela terrível estepe castelhana
- pó, suor e ferro – o Cid cavalga”
M.Machado
(*) taifa: pequenos reinos, variados em extensão e recursos, que se formaram em torno das principais cidades do Alandaluz depois do esfacelamento do califado de Córdoba, no início do século XI. As mais poderosas foram Toledo, Sevilha e Granada.