Série de verbetes informativos sobre os árabes: Terrorismo, por Rashmi Singh

Qui, 03/07/2025 - 16:13
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Confira mais um verbete da série especial do ICArabe, uma iniciativa que busca ampliar o entendimento sobre o mundo árabe com responsabilidade e precisão. O projeto reforça o compromisso da instituição com a promoção de informação de qualidade e o combate a estereótipos, contribuindo para a construção de uma sociedade mais consciente e bem informada.

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Terrorismo

Terrorismo é um dos termos mais complexos e contestados nas ciências políticas e sociais. Em sua essência, trata-se de uma forma de violência política cujo objetivo é gerar medo não apenas nas vítimas diretas, mas também em um público mais amplo. O impacto psicológico — criando uma sensação exagerada de ameaça e ansiedade — é central para sua função. Ao contrário da violência convencional, o terrorismo é simbólico e comunicativo, visando influenciar resultados políticos ou comportamentos sociais por meio do medo.

Seus métodos, objetivos e escopo podem variar, pois o terrorismo pode ser doméstico, internacional ou transnacional, além de carregar consigo elementos nacionalistas, ideológicos, econômicos e/ou religiosos, podendo até mesmo assumir a forma de terrorismo cibernético.

Um dos principais desafios no estudo do terrorismo é a sua definição. Como argumenta Louise Richardson, o termo é frequentemente usado de forma pejorativa, e poucos indivíduos ou grupos se autodenominam “terroristas”. Em vez disso, preferem ser identificados como “combatentes da liberdade”, “exércitos de resistência” ou “guerrilheiros”.

Estudiosos como Walter Laqueur e Bruce Hoffman debatem se o terrorismo deve ser definido pela natureza do ato, pela identidade do perpetrador ou por seus objetivos estratégicos. Alguns limitam o termo a atores não estatais, argumentando que os Estados seguem as regras da guerra, enquanto outros apontam que os próprios Estados também podem praticar o terror, direta ou indiretamente, por meio de intermediários.

Apesar desses debates, pesquisadores como Alex Schmid identificaram elementos comuns em muitas definições: atos repetidos de violência, motivações políticas e o direcionamento deliberado contra civis para influenciar um público mais amplo. Ainda assim, não há uma definição universalmente aceita, e a sobreposição com outras formas de violência política — como guerrilha, insurgência ou repressão estatal — complica ainda mais o estudo acadêmico e a formulação de políticas públicas.

As percepções sobre terrorismo mudam com o tempo. Figuras como Nelson Mandela, Yasser Arafat e Dilma Rousseff já foram rotuladas como terroristas e, mais tarde, tornaram-se líderes nacionais internacionalmente legitimados. Essa fluidez dá sentido à expressão: “o terrorista de um é o herói de outro”.

Compreender o terrorismo exige reconhecer sua natureza em constante transformação. Em última análise, o terrorismo não é um fenômeno homogêneo, devendo ser analisado em suas formas diversas, historicamente situadas e contextualmente específicas.

 Rashmi

Rashmi Singh é professora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da PUC Minas, Brasil. Ela possui doutorado em Relações Internacionais pela London School of Economics and Political Science, Reino Unido. É cofundadora e codiretora da Rede de Pesquisa sobre Terrorismo, Radicalização e Crime Transnacional (TRAC) e Coordenadora do Laboratório de Pesquisas e Projetos em Relações Internacionais da PUC Minas. Singh foi bolsista de aniversário do Centro para o Estudo do Terrorismo e da Violência Política da Universidade de St. Andrews, Escócia, de 2019 a 2020, e mentora do Programa Internacional de Mentoria da Rede Juvenil Contra o Terrorismo (ICTYN), também de 2019-2020. Atualmente é membro da equipe de pesquisa do projeto liderado pela TraCCC (George Mason University), “Hubs of Illicit Trade”, no qual co-lidera a pesquisa na Área da Tríplice Fronteira. Ela também é a pesquisadora principal do projeto patrocinado pelo CnPQ, ‘Mapeando Caminhos de Aprendizagem e Inovação em Organizações Criminosas e Terroristas Transnacionais Modernas’. Ela foi a investigadora principal do projeto START (Universidade de Maryland), ‘In the Eyes of the Beholder’. Foi premiada com a cátedra visitante estrangeira CAPES pela Agência Federal de Apoio e Avaliação da Pós-Graduação no período 2013-14. Singh foi professora de Estudos sobre Terrorismo no Centro Handa para o Estudo do Terrorismo e da Violência Política (CSTPV) da Universidade de St. Andrews (Escócia) de 2008 a 2016. É especialista na área com experiência em terrorismo, contraterrorismo e crime organizado no Oriente Médio, Sul da Ásia e América Latina. @Atumlite (X) e @rashmi00000 (Instagram). Linkedin