Muçulmanos brasileiros sofrem de preconceito importado
Uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha e divulgada pela Folha de S. Paulo em 6 de maio passado demonstra que no Brasil existe de fato preconceito contra muçulmanos. Para 49% dos entrevistados, a frase “os muçulmanos defendem o terrorismo” é verdadeira. A pesquisa entrevistou 5.700 pessoas entre os dias 19 e 20 de março de 2007, em 236 municípios de 25 unidades da federação. A margem de erro é de 2% para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.
Esse fato não é novidade para a comunidade. Após 11 de setembro de 2001, até mesmo quem fazia curso de língua árabe na Universidade de São Paulo passou a ser visto com olhar de espanto pelos colegas. Para as mulheres muçulmanas, o preconceito é ainda mais evidente. Não é raro ver pessoas na rua apontando para uma passante que veste o hijab. Também não é raro ouvir pessoas comentando sobre a “burca” de uma muçulmana. Se nem mesmo o nome da vestimenta é conhecido, imagine o resto.
O preconceito é algo que homossexuais e negros sofrem diariamente neste país que se gaba pela tolerância. Mas, de todos os preconceitos, me parece que o contra os muçulmanos é o único “importado”. Explico: não temos uma história própria de intolerância contra a comunidade muçulmana. Ao contrário. Em lugares como Foz do Iguaçu, no Paraná, e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, onde se encontram grandes contingentes de fiéis, jamais se registrou algum problema que pudesse gerar conflitos.
E não é apenas a maioria da comunidade muçulmana brasileira que vive em paz. Isso acontece no mundo inteiro. Outra pesquisa recente, realizada do Marrocos à Indonésia pelo Instituto Gallup, “The Gallup World Poll of Muslims from North Africa to Southeast Asia, Listening to a Billion Muslims”, demonstra que a maioria dos muçulmanos admira o Ocidente, em particular a tecnologia, o sistema democrático e a liberdade de expressão. A mesma pesquisa indicou que dos entrevistados, somente 7% eram favoráveis aos ataques que ocorreram em 11 de setembro de 2001.
Então, de onde vem essa desconfiança? Por um lado, acredito que a preferência de jornais, revistas e canais de televisão brasileiros em publicar assuntos associados a atos de violência é maior do que aos relativos a cultura. A cobertura é feita com base em reportagens enviadas de agências de notícias, jornais e revistas norte-americanos e europeus. Importamos a idéia de que há uma guerra de civilizações, em que muçulmanos estão querendo tomar o mundo e implantar uma visão radical de sua própria religião.
O que esquecemos, porém, é que esses meios de comunicação internacionais se coadunam com a velha visão de potências hegemônicas. Trazem a visão de que devemos dominar os bárbaros, sejam eles quem for, mas principalmente aqueles que vivem em cima do petróleo. Essas mesmas potências pretendem continuar hegemônicas e, por isso, tudo que as ameaça está em sua mira. E os meios de comunicação acompanham, sem ao menos duvidar das intenções de seus governos. O apoio em massa da mídia norte-americana à Guerra do Iraque é o exemplo mais notório.
O que fazer então? Talvez exercermos o direito que qualquer cidadão tem de duvidar e, principalmente, exigir coberturas mais justas e menos dependentes de visões importadas dos veículos de comunicação brasileiros. Independência de opinião nos faria muito bem.