14ª Mostra Mundo Árabe de Cinema: entrevista com a diretora Joy Ernanny

Sex, 02/08/2019 - 10:12
Publicado em:
diretora Joy Ernanny

Na próxima quarta-feira, 7 de agosto, no CineSesc, em São Paulo, o Instituto da Cultura Árabe abrirá a 14ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, que este ano traz 12 filmes, sete deles dirigidos por mulheres. A brasileira Joy Ernanny é uma dessas diretoras. Seu filme, “Além do Véu” é um dos destaques desta edição. Jornalista e documentarista, Joy Ernanny produz documentários e programas de TV premiados sobre imigração, direitos humanos e desenvolvimento social. Tendo passado a última década entre Nova York e seu nativo Rio de Janeiro, ela acredita no poder das histórias que ressoam transnacionalmente e transcendem as fronteiras territoriais. Leia a seguir a entrevista com Joy Ernanny.

ICArabe - Seu filme fala de mulheres corajosas e empreendedoras em um momento de crescente islamofobia nos EUA. Como foi seu contato com este salão e como esta trajetória te inspirou a fazer um filme?

Joy Ernanny - Quando ganhei uma bolsa de estudos em 2017 para fazer uma pós-graduação em filme documentário em Nova York, a proibição de viagem de cidadãos de diversos países de maioria muçulmana tinha acabado de ser anunciada pelo Presidente Trump. Eu logo seria uma estrangeira morando nos Estados Unidos, e eu não conseguia parar de me perguntar: e se meu país estivesse na lista de Trump? E se todos os meus compatriotas fossem punidos pelo comportamento de alguns? Só de pensar no número de vidas que foram afetadas por esse movimento prematuro e no número de famílias que foram separadas, decidi buscar um projeto de documentário a ser realizado durante o meu período de estudos no país que de alguma forma abordasse esse tópico. Quando descobri o cabeleireiro de Huda, ficou claro para mim que contar a história do Le'Jemalik era uma maneira de lançar luz em um microcosmo de resistência, resiliência e empoderamento na comunidade muçulmana americana. 

Não foi fácil conseguir autorização para passar três meses filmando dentro do Le'Jemalik (que em árabe significa: para a sua beleza). Afinal de contas, não sou americana, nem árabe, nem muçulmana. Mas sou mulher. Depois de um tempo, Huda (a dona) entendeu o meu objetivo e foram criados laços de sororidade que permanecem fortes até hoje. 


ICArabe - Qual sua percepção sobre a islamofobia no Brasil?

Joy Ernanny - Moro no Rio de Janeiro, estado que tem percentual mínimo de muçulmanos. Não vejo a islamofobia no meu dia a dia. Mas imagino que em São Paulo e Paraná, a realidade possa ser diferente. 

ICArabe - Como o cinema, especialmente no momento em que vivemos mundialmente, com o racismo, a xenofobia e o fascismo crescentes, pode ajudar as conexões entre povos e culturas? 

Joy Ernanny - Eu acredito muito no poder catalisador do cinema. Sou especialmente fã da não-ficção e acho que ela tem verdadeiro poder em criar conexões entre povos e culturas. No caso do “Além do véu”, por exemplo, meu objetivo foi mostrar as  diferentes faces do Islã e como ainda é possível que os muçulmanos nos EUA busquem o sonho americano - mesmo na Era Trump.

ICArabe - As mulheres árabes têm sido protagonistas nos grandes movimentos políticos em seus países, como pudemos ver nas diversas primaveras árabes. De 2010 pra cá, como você tem observado essas mudanças? Acredita que tenham beneficiado as mulheres árabes aqui e em outros países?

Joy Ernanny - Sou jornalista e atualmente edito um programa semanal na GloboNews chamado “Sem Fronteiras” sobre assuntos internacionais e geopolítica. Acompanho de perto o noticiário internacional e vejo que infelizmente ainda acho que o caminho para as mulheres árabes é longo. Claro que já houve muito progresso. Mas, imagina que ontem - ontem!- as sauditas maiores de 21 anos “ganharam permissão” de viajar sem autorização de um tutor...

ICArabe - Pode comentar sobre a participação de seu filme na Mostra Mundo Árabe de Cinema e suas expectativas sobre o evento?

Joy Ernanny - Depois de ser exibido no Festival de Curtas de Barcelona, no Festival de Mulheres no Cinema de Dubai e no Festival Arte de Brooklyn, “Além do véu” finalmente chega ao Brasil! É a maior alegria poder trazer “para casa” um trabalho que fiz lá fora e poder compartilhar com o público brasileiro. E não poderia existir melhor lugar para essa estreia nacional do que a Mostra Mundo Árabe de Cinema! Fiquei extremamente honrada - e tocada!- com o convite dos organizadores. 

 

Saiba mais sobre a mostra: acesse aqui

Leia o artigo escrito por Joy Ernnanny para a Revista Piauí Mechas Soltas

 

Serviço:

14ª Mostra Mundo Árabe de Cinema de 2017

De 7 a 14 de agosto de 2019

Local: CineSesc – Rua Augusta, 2075, Cerqueira César São Paulo | CEP: 01413-000 | telefone: (11) 3087-0500 - email@cinesesc.sescsp.org.br

Programação no site: mundoarabe2019.icarabe.org

Realização: Instituto da Cultura Árabe, com copatrocínio da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e em parceria com a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil – Fambras, o Instituto do Sono e a Aliança Francesa.  

Ingressos

Segunda a domingo R$ 12 (inteira); R$ 6 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo, com credencial plena do Sesc e seus dependentes); R$ 3,50 (Aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor de escola pública com comprovante).

Formas de pagamento: dinheiro, cartões de crédito e débito.
Acessibilidade para cadeirantes e obesos.
Capacidade: 244 lugares