Acervo egípcio e registros da viagem de D. Pedro II ao Oriente são parte da História que se perdeu com o incêndio do Museu Nacional

Seg, 03/09/2018 - 09:24
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O Museu Nacional, na Quinta da boa Vista, Rio de Janeiro, destruído por um incêndio neste domingo, 2 de setembro, guardava um riquíssimo acervo da cultura árabe e das ligações entre árabes e brasileiros.  “Conheci bem o Museu. Frequentei por vários anos, pesquisando tudo sobre as viagens de D. Pedro II no Oriente. Pensar que agora tudo é cinzas! O acervo egípcio, uma raridade”, lamenta em seu perfil no Facebook o professor Roberto Khatlab, autor do livro “As viagens de D. Pedro II”, que teve lançamento no Museu e 2015. “Não é a perda somente dos acervos da história do Brasil, mas também dos acervos da história da Humanidade.”

Em seu acervo, o museu abrigava peças como o Caixão de Sha-Amun-en-su. Em 1876, quando de sua segunda visita ao Egito, Dom Pedro II foi presenteado pelo Quediva Ismail com o belo esquife pintado da “Cantora de Amon”, Sha- Amun-en-su, que veio a manter em seu gabinete até a Proclamação da República, em 1889 quando o esquife passou a ser incluído na coleção do Museu Nacional. Posteriormente, a coleção egípcia foi acrescida de outros objetos por meio de doações ou compras de particulares, chegando a cerca de 700 objetos. O exame tomográfico realizado na múmia de Sha Amun en su revelou a presença de amuletos no interior do caixão, entre eles um escaravelho-coração (veja mais aqui http://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/arqueologia/egito-antigo/arqegit009.html)

caixão
Caixão de Sha-Amun-en-su

 

O Museu Nacional/UFRJ é a mais antiga instituição científica e o maior museu de História Natural e Antropologia do Brasil. Inicialmente sediado no Campo de Santana, como Museu Real, só veio a ocupar o Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro, a partir de 1892, três anos após a Proclamação da República. Em 1946 foi incorporado à Universidade do Brasil e hoje integra a estrutura acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As peças que compunham as exposições do Museu Nacional/UFRJ são parte dos 20 milhões de itens das coleções científicas conservadas e estudadas pelos Departamentos de Antropologia, Botânica, Entomologia, Invertebrados, Vertebrados e Geologia e Paleontologia.

Viagens de D.Pedro II

As viagens do imperador Dom Pedro II ao Oriente Médio e Norte da África entre os anos 1871 e 1876 tiveram seu itinerário refeito pelo pesquisador. A obra do brasileiro, que mora em Beirute, no Líbano, tem como base principal o diário que o imperador fez durante o percorrido e mostra estudos e impressões de Dom Pedro II sobre aqueles povos, seu idioma e cultura.

Paranaense nascido na cidade de Maringá, Khatlab é ganhador do prêmio libanês de literatura Said Akl e no país árabe é atualmente diretor do Centro de Estudos e Culturas da América Latina da Universidade Saint-Esprit de Kaslik (Cecal-Usek). Ele é autor de vários livros publicados sobre história, religião, relação Brasil-Oriente Médio e imigração, nos idiomas português, árabe, francês e espanhol.

Durante o reinado de Dom Pedro II ele fez três grandes viagens internacionais e duas delas incluíram Oriente Médio e Norte da África, onde ficam países árabes. Foram visitados Líbano, Síria, Palestina e Egito. Nas viagens, o monarca fez  diários registrando suas experiências em escritos e desenhos de próprio punho. Os diários fazem parte do Arquivo Histórico do Museu Imperial de Petrópolis, que fica na cidade do mesmo nome no estado do Rio de Janeiro.