Os alimentos podem preservar a cultura? A influência árabe na culinária brasileira
A migração dos árabes para o Brasil a partir de meados do século 19 trouxe um rico legado cultural ao país: a culinária. A culinária árabe é muito difundida na sociedade brasileira, pelos sabores distintos e únicos de seus temperos e pela qualidade e variedade dos ingredientes utilizados. Você provavelmente já comeu maqluba ou falafel, e até homus, mas já ouviu falar do tabule? Ou quibe?
Falah é um restaurante árabe de Florianópolis criado por Falah Twassi, um jordaniano que mora no Brasil. Serve deliciosa comida regional em meio a impressionantes decorações árabes. À primeira vista, você pensaria que está em um país árabe. É famosa não só pela comida árabe, doces e chás em oferta, mas também pelos itens de coleção árabes, como anéis, acessórios, lustres, pinturas, desenhos e muito mais itens que estão à venda.
Twassi chegou ao Brasil vindo do jordaniano Wadi Musa em 2012, e abriu seu restaurante homônimo dois anos depois. Ele me contou que a ideia do restaurante surgiu depois de estudar como o Brasil aceita a cultura e a culinária árabe.
“Minha ideia era coletar pratos de diversos países árabes e oferecer esses pratos em um só lugar com um caráter especial”, explica. “A maioria dos brasileiros adora aprender sobre outras culturas, principalmente a cultura árabe. Esse é um dos motivos pelos quais eles vêm ao meu restaurante e experimentam a comida árabe.” A culinária árabe, ele me disse, ganhou espaço no coração do brasileiro.
“O que distingue os restaurantes árabes aqui é a qualidade da comida e os métodos de preparo. Tive muita vontade de apresentar a cara autêntica da comida árabe e da cultura árabe e convidar a comunidade brasileira a conhecer mais.”
Muitos pratos antes estranhos, principalmente do Oriente Médio e Norte da África, agora fazem parte da culinária brasileira graças aos restaurantes e fast-foods de todo o país. Nas grandes cidades brasileiras, hoje é fácil encontrar pão árabe, falafel, homus, tortas de carne e vegetais e tabule.
“Eu preparo alguns pratos especiais em dias específicos”, disse Falah. “Maqluba, kebab, kibbe e falafel estão todos no cardápio, mas dedico um dia específico para cozinhar mansaf, por exemplo.”
A forma como comemos aqui no Brasil também é influenciada pela culinária do Oriente Médio. A comida é apresentada em travessas coloridas com padrões intrincados. De acordo com Falah, a beleza do ambiente tem um papel importante no incentivo ao consumidor brasileiro a experimentar a culinária árabe que ele oferece.
“Todo restaurante árabe que eles vão basicamente os transporta para outro país. Meu restaurante representa o caráter oriental da civilização árabe, com o bônus da comida de boa qualidade”.
Além de considerações históricas e culturais, a culinária árabe se espalhou no Brasil porque a maioria das pessoas tem a mente aberta e aceita os recém-chegados. Essa abertura se estende a experimentar uma nova culinária.
Isso é ajudado, é claro, pelo fato de que a maioria das cidades brasileiras têm comunidades árabes consideráveis. Segundo a Organização Internacional para as Migrações, existem 13 milhões de árabes vivendo no Brasil. Existem fortes laços familiares e culturais entre o Brasil e o mundo árabe, bem como conexões comerciais crescentes. Essa influência remonta aos tempos do Império Otomano, o que se reflete na natureza cosmopolita da culinária.
Muitas pessoas migram e levam consigo o sabor da sua terra natal, e os árabes no Brasil não são diferentes. A hospitalidade árabe é conhecida em todo o mundo porque eles acreditam que a comida é uma forma de expressar quem são.
Falah Twassi sabe que ele e os demais árabes-brasileiros têm o dever de preservar sua cultura. Ele está fazendo isso por meio da culinária árabe em seu restaurante, “com cada prato e cada mordida que sirvo”. Com sua cultura vem sua identidade, o que é importante para ele e para as próximas gerações que podem ser brasileiras são todos os sentidos que a cidadania confere, mas também saberão que são árabes com uma rica cultura e história.
Fonte: Monitor do Oriente