Entidades se reúnem na Alesp em Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino
Fotos: Aline Baker
Na noite de ontem, 29 de novembro, a Assembleia Legislativa de São Paulo sediou uma importante solenidade para celebrar e refletir sobre o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino – data estabelecida conforme resolução da ONU (Organização das Nações Unidas) nº 32/40 de 1977.
Participaram da atividade diversos parlamentares e representantes de entidades ligadas à defesa da causa palestina no Brasil, como o deputado estadual Simão Pedro, que convocou a atividade; o deputado federal Ivan Valente; o vereador Jamil Murad; a jornalista Soraya Misleh, em nome do Movimento Palestina Para Todos (Mopat), do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe) e da Ciranda; e representantes do movimento Stop the Wall, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), Federação de Entidades Árabe-Brasileiras (Fearab), Instituto Jerusalém, Centro de Divulgação do Islã para a América Latina (Islam BR) e Central Única dos Trabalhadores (CUT). O encontro integrou a Semana de Solidariedade ao Povo Palestino que reúne ações em todo o país até o dia 4 de dezembro. (Veja a programação aqui)
De acordo com Jamil Murad, David Ben-Gurion (o primeiro chefe de governo de Israel) errou quando achou que passadas duas gerações o povo palestino se dispersaria. “Pelo contrário, estão mais fortes, mais organizados”, avaliou. Ele lembrou que a situação vivida por aqueles árabes atualmente é infame e dramática e que o Estado sionista não conseguiria sustentá-la sem a ajuda estadunidense. “Sabemos que o apoio do Estados Unidos a Israel está ligado ao interesse pelo petróleo e à localização geográfica estratégica, pois é um ponto de acesso a três continentes”. Ele clamou ainda pelo fim dos assentamentos judaicos em terras palestinas, pela volta dos refugiados e pelo fim do muro que está sendo construído por Israel desde 2002.
“Precisamos refletir sobre o motivo pelo qual a questão do território palestino até hoje não foi solucionada e o massacre desse povo continua ocorrendo”, questionou Ivan Valente. Segundo o deputado, a resposta está no significado do Estado de Israel, que só se consolidou por ter suas bases sustentadas pelo capital financeiro dos Estados Unidos. “Outro ponto importante é o controle que os norte-americanos exercem sobre os meios de comunicação. Eles mostram apenas uma versão dos fatos, a que interessa a eles”, alertou.
A italiana Maren Mantovani, analista política, diretora de Relações Internacionais da Campanha Palestina contra o Muro do Apartheid e representante para a América Latina do Comitê Nacional Palestino por Boicotes, Sanções e Desinvestimento (BNC), lembrou que a ONU já criou diversas resoluções em defesa da questão palestina, mas que não tiveram êxito. “Por isso precisamos pressionar de outra forma e uma dela é dificultar as políticas israelenses por meio de boicotes, sanções e desinvestimentos naquele Estado”, explica a ativista. Segundo ela, o movimento já obteve grandes conquistas, principalmente nos países do hemisfério norte. “Agora precisamos trabalhar isso no Sul e na América Latina. Hoje o Brasil é o segundo maior importador de armas israelenses do mundo, entre outros produtos. Isso implica em uma enorme responsabilidade”, disse.
Marcelo Buzetto, do MST, esteve em julho desse ano na Palestina e relatou algumas histórias que presenciou naquele período. “Em uma manifestação pacífica em defesa dos direitos dos palestinos, que incluía judeus, fomos xingados e conhecemos a agressividade da juventude sionista. Encontrei ainda uma criança árabe, de 10 anos, que já havia sido presa três vezes por Israel. Outro caso revoltante foi o de uma família despejada de sua casa, em Jerusalém Oriental, que havia sido levantada em 1857, muito antes de Israel existir. Segundo os soldados, a residência seria destruída por ter sido construída de forma irregular e no seu lugar será estabelecido o Parque Rei Davi”, relatou.
Para Dirceu Travesso, dirigente da Conlutas que participou em outubro do Fórum Mundial de Educação que aconteceu na Palestina, a atitude da juventude sionista não se diferencia em nada da nazista. “Vi provocações, soberba, arrogância, o desejo de humilhar”, contou. Segundo ele o Brasil precisa rever o Tratado de Livre Comércio Mercosul-Israel. “Não podemos ver os crimes praticados por Israel como algo natural, não podemos sustentar, com o dinheiro brasileiro, o massacre do povo palestino”, declarou.
Por fim, Soraya Misleh, que é brasileira filha de palestinos, contou a história de sua família. “A vila onde meu pai vivia foi destruída em 1948, sua família foi expulsa, ele tinha apenas 13 anos e é proibido de retornar. Hoje o local é um parque nacional”, contou emocionada. Segundo ela, sua homenagem foi para os milhares de refugiados palestinos que até hoje resistem em diversos lugares do mundo, que não se deixaram calar. “Nunca vamos parar de contar a história das nossas aldeias e, um dia, nós vamos voltar!”, garantiu.
A catástrofe
Em 29 de novembro de 1947, portanto há 63 anos, em Assembleia-Geral da ONU , foi aprovada a Resolução nº 181, que decidiu pela partilha do território da Palestina histórica para o estabelecimento de um estado judeu e um árabe, sem qualquer consulta aos habitantes locais. Como consequência, o Estado de Israel foi implementado em 15 de maio de 1948 e o da Palestina não foi assegurado, culminando na nakba (catástrofe), em que foram expulsos mais de 700 mil palestinos de suas casas e centenas de vilas foram destruídas. O resultado é a ocupação mais longa do período contemporâneo, que tem sido aprofundada, ao arrepio das leis e convenções internacionais. Uma das maiores injustiças de que se tem notícia.
Consequentemente, todos os direitos inalienáveis do povo palestino têm sido desrespeitados, como à autodeterminação, à saúde, à educação, a transitar livremente. Um muro em construção desde 2002, que corta a Cisjordânia ao meio – projetado para ter 720 metros de extensão e 9 metros de altura –, e centenas de checkpoints e assentamentos sionistas, além de estradas exclusivas proibidas a palestinos, são símbolos do apartheid que se configura no território ocupado. Em Gaza, o lugar mais densamente povoado do mundo, com 1,5 milhão de pessoas que se espremem em cerca de 360km2, um bloqueio criminoso tem feito com que grasse a fome e a miséria, numa punição coletiva que deveria ser ainda mais impensável em pleno século XXI. O território palestino, mediante esses aparatos, é mantido sob a forma de bantustões à la África do Sul. É hoje impossível, por exemplo, ir da Cisjordânia a Gaza.
A semana de solidariedade pretende contribuir para dar visibilidade a essa questão e lembrar que, dia após dia, famílias são separadas, plantações são destruídas, crianças são impedidas de ir à escola e mães, de dar à luz com dignidade. Mais do que isso: soma-se às iniciativas em que a comunidade internacional é chamada à responsabilidade pela drástica situação na Palestina e cobrada a dar continuidade a ações concretas que pressionem e levem à mudança dessa realidade.