Novo livro de Igor Fuser aborda os principais temas da geopolítica global da energia
Fuser, cientista político e jornalista, ressalta que a principal consequência da política agressiva dos Estados Unidos e demais países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Oriente Médio, sobretudo contra a Síria e o Irã, é imediata e refere-se ao reforço à disposição de aumento dos custos do petróleo. “Se as gestões diplomáticas da Rússia fracassarem e os EUA concretizarem a ameaça do presidente Obama de um ataque militar à Síria, a tensão política na região deverá se intensificar muito, elevando ainda mais os preços dos combustíveis.”
Ele explica ainda que essa tendência de alta dos valores do petróleo gera mais instabilidade nos mercados mundiais. “Esses aumentos deverão agravar a crise econômica na Europa e em outras partes do mundo, prejudicando também as perspectivas de desenvolvimento dos países periféricos dependentes da importação de recursos energéticos.”
O autor destaca uma expressiva transformação no papel que os EUA e outras potências mundiais exerciam no cenário petrolífero dos países árabes produtores, a partir da década de 1970. Na época, “todos os países produtores de petróleo no Oriente Médio nacionalizaram as empresas petroleiras instaladas em seus territórios”. A partir de 1990, afirma ele, os países árabes começaram a ser pressionados pelos governos dos EUA e da Europa Ocidental, que insistiam na volta das transnacionais àquela área. No Iraque, segundo Fuser, a ação se consumou. Com a invasão, o controle do setor petroleiro do país passou às mãos de empresas estrangeiras. Na Líbia aconteceu algo parecido. “O reflexo desses acontecimentos na cena internacional é uma desconfiança cada vez maior em relação às intenções dos Estados Unidos e seus aliados, quando alegam a defesa dos direitos humanos para justificar suas ações intervencionistas.”
Já a relação com os países do BRICS, que também são grandes produtores de petróleo, apresenta mais aspectos positivos. O professor acredita que os emergentes são mais bem recebidos nos mercados mundiais, em comparação com as tradicionais potências imperialistas. “Muitos países, especialmente na África e na América Latina, preferem fazer negócios com a China, a Rússia e o Brasil do que com as empresas dos EUA e da Europa.”
Fuser ressalta que isso acontece, principalmente, porque eles sabem que os BRICS não veem vantagens em interferir na política interna dos países que investem. “Assim, a opção por esses novos atores é vista como garantia de maior independência, de respeito à soberania.”
Sobre a influência no comércio do petróleo entre os países após a Primavera Árabe, o autor afirma que a guerra civil na Líbia afetou gravemente o país, um grande exportador do produto, gerando enormes prejuízos. “O resultado foi a queda drástica das exportações de petróleo, em consequência da situação de caos que reina até hoje naquele país, e a transferência do controle das valiosas reservas de petróleo líbio para as empresas transnacionais.”
De acordo com Fuser, os países mais ricos, como Arábia Saudita e as monarquias do Golfo Pérsico, têm diversificado suas fontes de rendimento, já se preparando para um possível esgotamento das reservas de petróleo, base da economia do Oriente Médio. Estes países estão investindo, principalmente, em companhias estrangeiras dos EUA, China e de países da Europa. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, miram o turismo de luxo. Já países como o Irã enfrentam vários problemas nesse sentido. “Com enorme população e sérias carências sociais, o Irã se esforça para incrementar o desenvolvimento econômico, com ênfase na indústria. Mas enfrenta o bloqueio econômico aplicado pelos países do Ocidente, o que prejudica bastante a modernização tecnológica e impede o ingresso de investimentos.”