Palestinos em luta pelo direito de resistir
O público que encheu o espaço teve a oportunidade de ouvir histórias e relatos de cidadãos palestinos que vivem nos territórios ocupados por Israel e sofrem cotidianamente com as violências e dificuldades impostas por esta situação.
Jamal Juma´, coordenador do Movimento Internacional “Stop the Wall”, falou sobre o dia a dia dos palestinos impedidos de realizar tarefas simples como ir à escola, ao trabalho ou circular por suas terras. Um dos elementos que impedem a livre circulação é justamente a construção de um muro que separa a Cisjordânia de Israel. Chamado de muro racista, a construção tem 175km de extensão e 27 postos de controle militar. Segundo Jamal, seu principal objetivo é mudar a geoolítica da região, transformando as terras da Cisjordânia em três bantustões separados, com a itenção de isolar cada vez mais os palestinos para impedir sua organização, como já tem sido feito em Jerusalém Oriental.
“O projeto colonialista de Israel está em franca expansão. Foram construídas 60 mil novas unidades para abrigar colonos ilegais na Cisjordânia, 20 mil colonos foram anexados à grande Jerusalém e mais de 220 mil palestinos já foram excluídos do território original da cidade”, afirmou Jamal. “Agora estão sendo construídos túneis, pontes e estradas onde somente israelenses podem circular”, completou.
Jamal acredita que a resistência popular contra o sistema de separação racista é a única alternativa que resta. Para ele, a tentativa de controle total dos palestinos por parte de Israel explica a falência dos processos de negociação e destrói a viabilidade de um Estado Palestino. Jamal falou também sobre o esforço internacional de reconhecimento na ONU e sobre o boicote comercial a Israel como forma de solidariedade.
“A partir de 2001 Israel fortaleceu seus laços comerciais com países como Índia e Brasil, que é a porta de entrada para a América Latina. O Brasil já é o segundo maior comprador de armas de Israel e 25% dos produtos agrícolas consumidos lá vem daqui”, completou, encerrando sua fala com um apelo aos brasileiros para que pressionem as autoridades a cancelar acordos comerciais com um país que viola repetidamente os direitos humanos.
Em seguida Abla Saadat, ativista de direitos humanos, falou sobre as condições desumanas em que vivem os presos políticos palestinos nos cárceres israelenses. Segundo ela, cerca de 800 mil palestinos passaram pelas prisões desde 1967, alguns permanecendo presos por mais de 35 anos. Atualmente, mais de 200 pessoas estão presas há mais de 20 anos e há 220 presos administrativos, ou seja, sem acusação formal. “Basta o serviço de inteligência de Israel apresentar informações secretas sobre qualquer militante considerado perigoso para este ser preso sem acusação formal”, denunciou. Abla é esposa de Ahmad Saadat, secretário-geral da Frente Popular para Libertação da Palestina (FPLP), preso desde 2001.
“Os presos vivem em solitárias ou celas de duas pessoas, que não têm mais do que 2 por 2,5 metros, uma ou duas macas para dormir. Saem por uma hora por dia para tomar sol e são impedidos de receber visitas de parentes ou realizar atividades culturais”, concluiu.
Para Emir Sader, o Brasil tem uma posição contraditória em relação à questão palestina, pois apesar do reconhecimento político do Estado, assina os tratados de comércio, considerados por ele “odiosos”. Emir considerou uma vitória o a aprovação da Palestina como membro total da Unesco e declarou: “não há alternativa na ONU enquanto ela for refém dos cinco países com poder de veto. A Palestina hoje é o epicentro da luta pela liberdade no mundo, é o nosso Vietnam, e, como os vietnamitas, os palestinos vencerão”.
Leila Kahled, da União das Mulheres Palestinas e Conselho Nacional Palestino, saudou o debate que permitiu ao público conhecer a forma como palestinos são tratados em sua própria terra. “Israel pratica terrorismo de Estado e transforma medidas ilegais em legais, adotando condutas racistas contra palestinos”, declarou. No início do mês, em um julgamento simbólico na África do Sul, Israel foi condenado por promover um verdadeiro apartheid nas terras palestinas.
Leila retomou as origens históricas da ocupação e da criação do Estado de Israel em 1948, lembrando o compromisso firmado com a ONU de que aceitaria a volta dos refugiados palestinos. “Israel começou todas as guerras, expandiu a ocupação, mantém um milhão e meio de palestinos presos em Gaza enquanto o mundo assiste, mas nós continuamos lutando”, declarou. Para Leila, a resistência militar depois de 1967 devolveu a identidade palestina. “Os massacres dentro do território não foram suficientes, também destruiram campos de refugiados, e nunca foram punidos. Nós estamos no nosso direito de lutar. Queremos o direito de retorno, autodeterminação e Estado independente”, concluiu.