Mona Hatoum faz sua primeira exposição no Brasil
Nascida em Beirute, no Líbano, Hatoum não gosta de definir seu trabalho. Segundo ela, sua vida inteira serve de influência para suas obras. “Eu tendo a trabalhar com ideias. As ideias podem se manifestar de diferentes maneiras. Nos anos 80, eu fazia performances e vídeos, depois mudei para instalações e esculturas, que é o que estou fazendo agora desde a década de 90. Não há uma visão geral sobre o meu trabalho”, afirma.
O que o público pode esperar, então, da exibição? Trabalhos variados com diferentes inspirações. São 30 obras no total. Algumas usam elementos domésticos como cadeiras e garrafas. Outras trazem elementos mais políticos, como o painel Over My Dead Body.
“O soldado é um brinquedo, sentado no nariz da mulher. Obviamente, em termos de escala, a mulher tem a vantagem, ela é maior, mais poderosa. O soldado se tornou um brinquedo, quase uma mosca que você pode espantar do nariz. O balanço de poder está completamente rompido e isso dá um tom de humor à imagem”, diz Hatoum. “Geralmente, eu uso o humor em meu trabalho para reduzir um pouco a intensidade dos assuntos, criando contradições”, explica.
A instalação Sonhando Acordado é composta por 33 fronhas bordadas por mães de crianças atendidas pela Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração (ACTC). Hatoum conheceu o trabalho destas mulheres em 2010, quando veio pela primeira vez ao Brasil.
A artista conta que se comoveu com os bordados feitos pelas mães das crianças em tratamento. “Eles as abrigam e as ensinam como fazer bordado de modo a manter suas mentes fora de seus problemas e também como modo de ganhar dinheiro enquanto elas esperam que a operação aconteça”, diz.
Foi aí que Hatoum decidiu que queria produzir uma obra com estas mulheres. “Eu pedi a elas que desenhassem e bordassem seus sonhos e seus desejos. O que elas sentiam que poderia tornar sua vida melhor e bordassem isso em uma fronha, que está relacionada ao sonho”, conta.
Em Janela, o público vê, em tempo real, a projeção da rua em frente à Estação Pinacoteca, localizada na região conhecida como Cracolândia, em São Paulo.
“Eu, geralmente, gosto de trazer a rua, o lado de fora, para o espaço [da exposição]. O espaço da galeria é sempre um lugar neutro onde você está tentando sair da vida real. De fato, eu gosto de trazer a vida real para dentro dele. É claro que este é um tipo de área bem específico e eu queria ter a rua, trazer a vida aqui dentro”, afirma.
Com obras de diferentes temáticas, o que ela espera que o público sinta ao ver seus trabalhos? “É muito difícil prever o que as pessoas vão ler no trabalho. Lógico que eu coloco coisas neles e eu espero que as pessoas leiam algumas destas coisas. Cada trabalho reverbera com muitos significados, pode ser interpretado diferentemente por diferentes pessoas de acordo com suas próprias experiências. De muitas maneiras, o público completa o trabalho, porque traz suas próprias histórias, suas próprias interpretações, sonhos e referências para o trabalho. É um sistema aberto porque pode ser interpretado de diferentes maneiras e eu gosto de manter desse jeito”, completa.
Serviço
Exposição de obras de Mona Hatoum
Estação Pinacoteca
Largo General Osório,66 - Centro - São Paulo
Telefone: (11) 3335-4990
Terça a domingo das 10h às 17h30 com permanência até as 18h
Ingresso combinado (Pinacoteca e Estação Pinacoteca): R$ 6 e R$ 3
Grátis aos sábados.
Estudantes com carteirinha pagam meia entrada.
Crianças com até 10 anos e idosos maiores de 60 anos não pagam.
Estacionamento conveniado. R$ 10 as três primeiras horas.