Série de verbetes informativos sobre os árabes: Ramadã, por Sheikh Ali Momade

Qua, 21/05/2025 - 19:36
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Confira mais um verbete da série especial do ICArabe, dedicada a ampliar o conhecimento sobre o mundo árabe com profundidade e responsabilidade. A iniciativa reforça o compromisso da instituição com a promoção de informação qualificada e o combate a estereótipos, contribuindo para uma sociedade mais consciente e bem informada.

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Ramadã

O jejum durante o mês do Ramadã (em árabe رَمَضَان, Ramaḍān, nono mês do calendário lunar islâmico) é um dos Cinco Pilares do Islã, que são os fundamentos da fé e prática islâmicas. Nele foi revelado em 610d.c. o livro sagrado islâmico, Alcorão, através da aparição do Arcanjo Gabriel ao Profeta Mohammad em uma caverna, no monte Hira - atual Arábia Saudita. O jejum do Ramadã, restabelecido por Deus (Alcorão, 2:183) tornou-se, desde então, um fenômeno religioso e histórico no seio das sociedades orientais e muçulmanas. Trata-se de um ciclo lunar que determina a dinamicidade do calendário islâmico, possibilitando que seja praticado em qualquer estação do ano. É um dos períodos mais sagrados para os muçulmanos e tem como público-alvo todo muçulmano púbere, sadio e sensato.

A constitucionalidade do Ramadã, cujas regras estão impressas no Alcorão e na tradição do Profeta Muhammad, é reconhecida, reafirmada e vivenciada por quase 2 bilhões de muçulmanos ao redor do mundo. O Ramadã governa toda a vida social de um muçulmano ao impor uma gama de regras que regulam seus comportamentos, estilo de vida e hábitos alimentares. O valor de seu jejum diante de Deus é determinado pela manutenção da moralidade, da ética, do equilíbrio espiritual e da observância dos mandamentos de Deus na vida pública e doméstica, a fim de gerar a paz interna e externa.

Para a concretização da paz interna o Ramadã investe, compulsoriamente, na pedagogia do corpo, potencializando ao máximo as práticas religiosas, tais como: as orações em congregação, a socialização da leitura do Alcorão, os momentos especiais de reflexão espiritual e a luta, sem trégua, em busca do perdão e misericórdia de Deus. Já o jejum, além de propiciar o aprimoramento espiritual do crente, se encarrega da restauração das propriedades biológicas do corpo e na eliminação sistemática de uma série de enfermidades, sendo uma prática recomendada, também, pela biomedicina.

O Ramadã é um fenômeno social com poder espiritual incalculável, que tem mobilizado o muçulmano a resgatar os valores relativos à sua responsabilidade social e de promoção da paz externa, primando pela coletividade e suprimindo qualquer viés político, étnico, racial e regional. Pelas razões mencionadas, nesse mês é possível testemunhar o fluxo anormal de diferentes ações sociais filantrópicas, que servem para restaurar a deterioração do tecido social e mitigar as desigualdades sociais. Nesse sentido, o Ramadã preconiza que todo o muçulmano seja embaixador da paz.


Sheikh Ali Momade

Sheikh Ali Momade

Doutor em sociologia política pela Universidade Estadual Norte Fluminense/RJ, é professor da International Halal Academy e auditor religioso da FAMBRAS Halal. Estudou no instituto islâmico de Al-azhar e se formou em letras e literatura na Universidade de Al-azhar, mestre em ciências sociais e pós-graduado em saúde pública. Tem várias traduções de obras e artigos publicados.