“Palestina: vida e sangue” divulga cultura palestina em Campinas

Sex, 06/05/2011 - 08:59
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Entre 16 de maio e 10 de junho, o Espaço Cultural Casa do Lago, ligado à Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), será sede de ampla programação cultural sobre a Palestina. A atividade é organizada em parceria com o ICArabe (Instituto da Cultura Árabe). 

A mostra intitulada “Palestina: vida e sangue”, contará com exibição de diversos filmes (veja sinopses abaixo), duas mostras fotográficas, que juntas contam cerca de 60 imagens sobre a vida do povo palestino nos territórios ocupados por Israel, e um debate sobre o tema "Palestina no contexto das revoluções no mundo árabe", no dia 1º de junho. 

“Retratos da vida palestina” reúne fotografias feitas pela palestino-brasileira Aline Baker em 2008, na região da Cisjordânia, as quais abrangem desde perfis dos seus habitantes até seu cotidiano de trabalho na colheita de azeitonas e de estudos, bem como suas expressões artísticas. Um dia a dia, como as imagens não deixam dúvidas, cercado por dezenas de assentamentos, soldados e postos de controle – atmosfera sob a qual a população local persiste e resiste, inclusive mediante manifestações culturais. 

Já “A eloquência do sangue”, do brasileiro Rogério Ferrari, abrange fotografias feitas entre janeiro e abril de 2002 e  mostra a realidade nua e crua da Palestina sob ocupação. Também retrata a resistência, sobretudo das pedras contra tanques. Parte das fotos é feita na Cisjordânia e parte em Gaza. Conhecido como o lugar mais densamente povoado do mundo, Gaza possui pouco mais de 300 quilômetros e 1,5 milhão de habitantes, a maioria deslocados internamente de suas casas após a criação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 – para os palestinos, a nakba (catástrofe em português). A esses refugiados e a muitos outros – estima-se que seriam no total 8 milhões, incluindo seus descendentes, em todo o mundo –, são 63 anos de espera por uma solução justa.  

Para a diretora cultural e científica do ICArabe, Soraya Smaili, as exposições retratam “aspectos importantes da vida do povo palestino, o seu cotidiano com toda a delicadeza e o humanismo, mas também com a tenacidade, a coragem e a resistência desses mais de 60 anos de ocupação. Um povo que já teve sua terra e luta com dignidade por sua vida".

A historiadora Arlene Clemesha destaca que, a despeito do olhar diverso, as duas mostram a realidade comum a esses cidadãos, um dia a dia em que não apenas a luta usando pedras na intifada ante o exército de ocupação, mas também a insistência na colheita de azeitonas são atos de resistência. Na sua visão, a iniciativa dos fotógrafos é a maneira que encontraram de se somar a essa ação, por intermédio da cultura. 

O pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp, Mohamed Habib, conclui: “Essa universidade, através do Espaço Cultural Casa do Lago, em parceria com o ICArabe, já vem atuando no tema ‘cultura pela paz’. Nesse sentido, no ano passado, tivemos a mostra e a exposição de fotografias da sociedade israelense, além dessa sobre o povo palestino. Quero me congratular com a instituição e com o público que vem compartilhar conosco desses momentos de pluralidade cultural pela paz. Convido a todos.”   

Sinopses dos filmes

A TERRA FALA ÁRABE
País: França
Ano: 2007
Título original: La Terre Parle Arabe
Direção e roteiro: Maryse Gargour
Produção: Bad Movies
Duração: 61’
Formato: BetaCam, Colorido
Legendas: Português (por Isabel Cristina Meleiro e Said Bichara)
No final do século XIX, irrompe no cenário europeu o sionismo, movimento político ainda minoritário entre os judeus. Conforme foi teorizado por seus líderes, tratava-se do desejo de se criar um Estado judeu em algum lugar do mundo, particularmente na Palestina. O subsequente movimento de imigração em massa de judeus para a região teve efeitos devastadores sobre a população local, que passou a ser progressiva e paulatinamente desenraizada e expulsa da terra. Mais que tentar provar um ponto de vista, o filme dá voz a um dos principais historiadores palestinos da atualidade. Trata-se de Nur Masalha, que explica a história de seu país antes da criação do estado de Israel de maneira clara, ponderada, baseada tanto na vivência de seus antepassados como em arquivos israelenses recentemente abertos.

ZIGZIGLAND
(Driving to Zigzigland – EUA / Palestina, 2006, cor, 92 min, DVD)
Direção: Nicole Ballivian
Elenco: Bashar Da’ar
Crônica bem humorada de um dia na vida de Bashar, ator palestino e taxista em Hollywood. O constante fluxo de passageiros traz estórias de atentados suicidas, Cat Stevens, Bush e a guerra do Iraque; lembranças do teatro Al Kasaba, em Ramallah, Palestina, em meio a sérios problemas com o departamento de imigração e o Homeland Security. Baseado em histórias verídicas. Prêmios de Melhor filme e Melhor Ator Amal Film Festival, Espanha; Prêmio do Público Arabian Sights Film Festival, entre outros. 

A PORTA DO SOL – Partes 1 e 2
(Bab El Chams, La Porte du Soleil)
260 min, cores, Egito-Palestina-França, 2006, DVD
Árabe com legendas em português
Direção: Yousry Nasrallah
Baseado no livro homônimo de Elias Khoury 
Elenco: Rim Turki, Orwa Nyrabeya, Hiam Abbass, Bassel Khay y at, Nadira Omran (Om-Hassan), Hala Omran (Chams), Mohtasseb Aref, Hanan El-Haj-Aly, Fady Abou-Samra
Filme retratado em dois episódios, conta a história de Yunis, um velho palestino da resistência que está em coma em hospital nos arredores de Beirute. Sua trajetória é narrada por Khalil, enfermeiro que fica a seu lado dia e noite, recusando-se a admitir que seu herói jamais ganhe consciência novamente. Vemos sua infância, seu casamento com Nahila, sua ausência no momento em que sua vila é destruída em 1948. Na segunda parte, Khalil fala de sua própria vida, sobre a guerra civil libanesa. Trata-se de um filme de ficção, mas que tem como pano de fundo a história palestina e mostra, com clareza e beleza, imagens difusas ao longo dos anos de ocupação. Mostra a humanidade e, com delicadeza, o enorme sofrimento de um povo que perde o seu lar e a sua pátria.

FILMES RUINS, ÁRABES MALVADOS. COMO HOLLYWOOD VILIFICOU UM POVO 
(Reel Bad Arabs)
60 min, documentário, cores, Estados Unidos, DVD
Inglês com legendas em português
Direção: Sut Jhally
Baseado no livro “Reel Bad Arabs”, de Jack Shaheen
Com Dr. Jack Shaheen
Documentário que expõe de maneira detalhada como o cinema de Hollywood, desde o início da sua história até os mais recentes blockbusters, mostrou os árabes de forma distorcida e preconceituosa. O filme tem como apresentador o aclamado autor do livro “Reel Bad Arabs”, Dr. Jack Shaheen, Professor da Universidade de Illinois e estudioso do assunto. O filme faz uma análise, baseado em uma longa lista de imagens de filmes, de como os árabes são apresentados como beduínos bandidos, mulheres submissas, homens violentos, sheiks sinistros ou idiotas perdulários, ou ainda como terroristas armados e prestes a explodir pessoas e lugares. Uma maneira brilhante de mostrar em uma narrativa bem construída, como as imagens contribuíram e contribuem para formar os estereótipos em torno dos árabes, suas origens e sua cultura. Para escrever o livro, o autor analisou mais de 900 filmes, o que possibilitou formar esta contranarrativa, reforçando a necessidade de mostrar a realidade e a riqueza da Cultura e da História Árabes. O filme foi exibido em diversos festivais nos EUA, Europa e Mundo Árabe e recebeu o apoio do Comite Antidiscriminação dos Árabes Americanos.

NÓS E OS OUTROS: UM RETRATO DE EDWARD SAID 
(Selves and Others: a portrait of Edward Said) 
Diretor: Emmanuel Hamon 
Inglês com legendas em português. 
Duração: 54 min
Ano: 2003
O reconhecido e renomado intelectual palestino foi retratado pela cineasta francesa Emmanuel Hamon que passou vários dias em contato com Said e sua família um pouco antes de sua morte em 2003. Documento sensível que oferece um olhar especial dos momentos finais da vida deste grande intelectual. 

CRIANÇAS DE IBDAA 
(Children of Ibdaa)
(Palestina-EUA, 2002, cor, 30min) – documentário
Direção: Sarah Smith Patrick
Inglês e árabe, com legendas em português.
Ibdaa, que em árabe significa “criar algo do nada”, é a história, de luta e aspirações, de um grupo de dança de crianças palestinas.

A ESPERA 
(L’Attente)
(França-Palestina, cor, 90min) – ficção
Árabe com legendas em português
Direção: Rashid Masharawi
Elenco: Areen Omari, Mahmoud Al Massad, e Youssef Baroud
Entre ironia e desalento, uma evocação dos impasses do povo palestino, através de uma viagem caótica e fragmentada, de um diretor em busca de atores para a inauguração do teatro palestino em Gaza.

ESCRITORES NAS FRONTEIRAS 
Ano: 2004
Direção: Samir Abdallah e José Reynes
Produção: vários países
Duração: 80 min
Em cores
Legendas: Português (V.O. francês, inglês, árabe, espanhol, chinês, portugues)
DVD
Documentário aborda a viagem de oito escritores do Parlamento Internacional de Escritores (José Saramago, entre outros) que visitam o renomado poeta palestino Mahmud Darwish na Palestina, durante o seu exílio em sua terra. 

AL NAKBA (a catástrofe) – Partes 1 e 2
País: Catar
Ano: 2007
Título original: Al Nakba (the Catastrophe)
Elenco: Sem elenco (Documentário)
Direção: Rawan Damen
Produção: Aljazeera Network
Duração: 240’
Formato: BetaCam, Colorido
Legendas: Português (por Said Bichara e Felipe Benjamin Francisco)
Sinopse: Al Nakba é um filme em série que mostra como ocorreu a chamada catástrofe palestina. A história começa no ano de 1799 e segue até os dias atuais. Para isso, utiliza um raro material, composto por documentos oficiais liberados após 50 anos de sigilo. Há ainda depoimentos de vários historiadores proeminentes e testemunhas que contam suas histórias.  
Al Nakba é um filme em série que mostra como ocorreu a chamada catástrofe palestina. A história começa no ano de 1799 e segue até os dias atuais. Para isso, utiliza um raro material, composto por documentos oficiais liberados após 50 anos de sigilo. Há ainda depoimentos de vários historiadores proeminentes e testemunhas que contam suas histórias.

FLOTILHA DA PAZ (Gaza We are Coming, 2010, Grécia, cor, 48’) 
Direção: Yorgos Avgeropoulos e Yiannis Karipidis
Gênero: Documentário
Sinopse: Em agosto de 2008, dois pequenos barcos gregos de pescaria conseguiram furar um cerco naval imposto à região de Gaza pelo estado de Israel. O filme mostra a primeira de uma série de viagens, que reuniu 44 ativistas de todo o mundo. Juntos, conseguem quebrar o embargo, provando que a histórias é feita por aqueles que sonham e têm coragem de fazer o que parece irreal. 

O ICArabe 

Fundado em outubro de 2004, o Instituto da Cultura Árabe visa promover e difundir a cultura árabe no Brasil. Com esse objetivo princípio, tem realizado inúmeras iniciativas, tais como mostras de cinema, exposições de arte e fotográficas, cursos, seminários e debates, inclusive com instituições parceiras. Com a iniciativa “Palestina: vida e sangue”, visa contribuir para ampliar o conhecimento sobre a questão palestina, apresentar ao público o cotidiano dos cidadãos que vivem sob ocupação militar e desmistificar, por intermédio da cultura, estereótipos amplamente difundidos pela grande mídia.   

O Espaço Cultural Casa do Lago 
Vinculado ao programa da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o Espaço Cultural Casa do Lago foi inaugurado em 18 de abril de 2002. Em área construída de aproximadamente 900m2, disponibiliza salas de cinema, multiuso e de exposições. Sua dinâmica é fomentar o diálogo artístico e cultural entre a comunidade acadêmica e os diversos segmentos da sociedade, com a compreensão de que isso é fundamental à formação dos estudantes da Unicamp.   

Serviço: “Palestina: vida e sangue” – Mostra de filmes e exposições fotográficas 
Organização: Instituto da Cultura Árabe e Universidade Estadual de Campinas 
Quando: 16 de maio a 10 de junho de 2011 
Exposições podem ser visitadas das 8h30 às 22h 
Sessões cinematográficas diariamente às 16h e às 19h 
Onde: Espaço Cultural Casa do Lago (Rua Érico Veríssimo, s/nº, Cidade Universitária Zeferino Vaz, Barão Geraldo, Campinas/SP – ao lado do Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão Filho, no campus da Unicamp), telefone (19) 3521-7851. 
A programação completa e horários de exibição dos filmes estão disponíveis aqui.