“Campo da paz” emociona ao mostrar o amor dos palestinos pelo futebol
Quem não gosta de futebol? No Brasil, essa pergunta é fácil de responder: quase ninguém. Torcedores dedicados ou não, quase todo brasileiro tem um time, e, na hora de torcer pela seleção em uma Copa do Mundo, a adesão é praticamente unânime.
O que muita gente não sabe é que do outro lado do mundo, na Palestina, o povo sente pelo futebol um amor semelhante. A diferença são as dificuldades encontradas pelos palestinos para praticar o esporte de forma profissional, desenvolvê-lo e até torcer por ele. Essa é mais uma consequência da ocupação dos territórios palestinos por Israel, que impõe obstáculos cotidianos às tarefas mais simples. Nesse contexto, o futebol também é resistência.
É sobre essa paixão, e suas implicações que fala o filme “Campo da paz”. O documentário longa metragem, que está em processo de produção, teve um trecho exibido ontem (1/9), em um jantar para convidados no restaurante Proteína, em São Paulo. A atividade contou com o apoio do ICArabe e teve grande adesão. Estiveram presentes cerca de 120 pessoas, entre elas a Sra Lamia Maarouf, proprietária do Restaurante Proteína; Muna Zeyn, assessora da Deputada Luisa Erundina; Reginaldo Nasser, professor do curso de Relações Internacionais da PUC-SP;Dr. Samir Salman, presidente do Grupo Mais e Hospital Premier; Ibrahim Bechara, diretor da Câmara de Comércio Árabe Brasileira; Claudio Dib, professor da USP; Murched Taha, professor da UNIFESP; José Farhat, cientista político; Leila e Raul Fajuri, da Revista Chams; Sérgio Gomes, jornalista e diretor da Oboré; Ali El Khatib, do Instituto Jerusalém do Brasil; além de mais de 40 membros da comunidade palestina de Sao Paulo. A partir da reação do público aos cerca de 6 minutos mostrados, foi possível mesurar o impacto que o filme causará quando estiver finalizado.
Gilmar Rodrigues, diretor de “Campo da paz”, conta que a ideia inicial era produzir um documentário sobre o futebol palestino. Mas o projeto se expandiu e acabou por formar um time de garotos de 14 a 17 anos que se tornou uma seleção simbólica da Palestina, e que deve visitar o Brasil e participar de jogos paralelos à Copa de 2014. “O projeto agora é transformar esses garotos em um time de verdade, para que eles possam vir ao Brasil antes mesmo da Copa de 2014, trazendo a ideia de um país que quer ser livre e soberano”, explicou. Gil. A vinda do time já recebeu apoio do Corinthians, e os realizadores seguem buscando parceiros para viabilizar o projeto.
As filmagens foram feitas em diversas cidades palestinas entre outubro e novembro de 2010, e devem ser concluídas este ano. Segundo Gil, parte do material já está editada, e o documentário deve ser lançado no segundo semestre de 2012.
Bettine Silveira, da produtora Txucarramãe, conta que o projeto começou independente e depois foi formatado. “O que vivemos aqui foi especial, sentimos que temos mais fôlego para continuar. É uma labuta fazer um filme, mas esse tipo de atividade dá muito gás”, declarou, sobre a exibição do trailer.
“Campo da paz” tem conquistado participações importantes ao logo de sua produção. O trailer exibido ontem tem narração de Lázaro Ramos e a trilha sonora está a cargo do rapper BNegão.
“A questão da Palestina sempre me incomodou muito”, disse BNegão. “Quando me chamaram, por conta da minha música e da atitude, eu estava com muito trabalho, mas quando vi o material disse ‘vou fazer’. Toda vez que eu vejo as imagens fico emocionado. A ótica para tratar do assunto é sensacional. Tratar a partir do futebol, que tem apelo mundial e está no cotidiano, faz com que as pessoas pensem de outra forma e entendam o que está acontecendo”, completou.
Michel Sleiman, presidente do ICArabe, contou que o Instituto tem procurado apoiar a produção por meio de contatos que possam se tornar parceiros do projeto. “Temos uma aproximação com a questão Palestina, ela é ponto nevrálgico do mapa político do mundo árabe e existe aí uma questão de justiça. É um projeto muito querido pelo ICArabe, o futebol é uma paixão, e ficamos curiosos em descobrir a identificação dos palestinos com o jogo, e perceber que é uma coisa visceral”.
“A proposta de mostrar que a paixão dos palestinos pelo futebol é semelhante à dos brasileiros aproxima e mostra o quanto esses palestinos podem ser identificados com a nossa cultura”, disse Soraya Smaili, diretora cultural e científica do ICArabe. Para ela “o filme mostra, a partir do diálogo por meio do futebol, que é possível que israelenses e palestinos joguem e vivam juntos”.