"É o que mais vende", diz a dona da lanchonete, Antonia Maria Rodrigues Pereira, a Toinha, numa demonstração da popularidade que tem o quitute em Rio Branco. A acreana Karla Martins, que é atriz, mas prepara um livro sobre culinária, explica que os dois quibes, de arroz e macaxeira, são uma adaptação do quibe árabe, feito com triguilho, aos ingredientes mais disponíveis no estado. Ela explica que o Acre tem forte imigração árabe.
O quibe acreano é preparado da mesma maneira que o tradicional, mas no lugar do triguilho são postos macaxeira, conhecida em outras regiões do país como mandioca ou aipim, ou arroz de quinta. Quando leva estes ingredientes, os acreanos costumam chamá-lo de “quebe”, explica Karla Martins. A atriz não sabe exatamente quando ele foi introduzido na culinária do Acre, mas Toinha, 53 anos, come o quibe de macaxeira e arroz desde criança.
Segundo Karla, existem mais de cem sobrenomes árabes entre os moradores do estado, o que vai desde o Saad até o Yuni. A rua onde fica a Fundação Elias Mansur, na qual Karla é coordenadora do Departamento de Incentivo à Cultura, em Rio Branco, por exemplo, era repleta de comércio árabe. Em Xapuris, outra cidade acreana, grande parte do comércio ainda está nas mãos dos descendentes. E em Juruá uma das histórias mais contadas, sobre os primórdios da cidade, é de um árabe que se casou com uma índia.
Karla, que é solteira, costuma chamar os amigos e pessoas da família para comer em sua casa nos finais de semana. Na cozinha, então, ela faz seus experimentos, misturando ingredientes locais e tradicionais. Um dos almoços feitos teve charuto da culinária árabe. Mas Karla agregou mocotó, no fundo da panela, em vez de carne, e usou tucupi, tempero extraído da raiz da mandioca, e jambu, erva típica da região Norte do Brasil. O livro da atriz, aliás, será sobre como amenizar o gosto forte dos alimentos e temperos consumidos no Acre.
No estado, a comida árabe pode ser vista principalmente na mesa das famílias, como fruto da cozinha caseira mesmo. Mas também há restaurantes que as servem, especializados ou junto com pratos de outras origens. O Café da Toinha serve muito os quibes de macaxeira e arroz para turistas. Eles também são procurados por quem sai da balada e quer fazer um lanchinho antes de chegar em casa. Eles são feitos pela dona da lanchonete e funcionários.
Como preparar:
Para fazer o quibe de macaxeira, é preciso colocá-la para cozinhar na água com sal. Não deixar que fique muito mole. Depois de bem cozida, amassá-la com um pouco de água. Fazer bolinhos com ela e colocar dentro a carne refogada, com os mesmos temperos do quibe tradicional ou a gosto. Fritar até dourar.
Para fazer o quibe de arroz, cozinhar o arroz da quinta com coloral e sal. Deixar que fique mole e amassar até que forme uma espécie de massa. Formar os bolinhos e inserir dentro a carne refogada com os temperos do quibe tradicional ou a gosto. Fritar até dourar.
Fonte: Agência de Notícias Brasil-Árabe - Isaura Daniel
O Café da Toinha é uma lanchonete, que fica no movimentado Mercado do Bosque, em Rio Branco, capital do Acre, no Norte do Brasil. Diferente do centro do país, porém, onde mistos quentes costumam reinar nas lanchonetes, no Café da Toinha os que comandam a festa são uns tais de quibe de macaxeira e quibe de arroz. O quibe, original da culinária árabe, ganhou um gosto mais brasileiro em terras acreanas.