O Icarabe realiza a partir da semana que vem, dia 29 de maio, o curso “Reflexões sobre o Mundo Árabe Contemporâneo”, uma série de aulas que se debruçará na análise, como diz seu título, de um tema complexo mas fascinante. Após realizar os cursos “Panorama da Cultura Árabe” e “História do Mundo Árabe”, o Icarabe atende a uma demanda detectada, a falta de base de conhecimento para poder interpretar o noticiário que chegam até nós mas pouco esclarecem os problemas políticos e sociais pelos quais passam os países árabes. O coordenador do curso, o jornalista e doutor em História pela USP, José Arbex Jr. afirma que pensar o Mundo Contemporâneo em relação aos árabes envolve questões conceituais complicadas dentro da formação das sociedades médio-orientais. “Não conheço nenhum tema nesse corpo de estudos que seja tão complicado quanto esse. Por quê? Porque discutimos duas coisas problemáticas. Uma coisa é o conceito de nação em si. A outra é o conceito de nação árabe”. Como diz a apresentação do Programa do Curso, há um paradoxo que marca a presença dos árabe no mundo contemporâneo: “povos que existem há milênios no Oriente Médio vivem, hoje, em fronteiras traçadas há menos de oito décadas, e por imposição de potências externas que, ao desenhá-las, não levaram em consideração os seus anseios, suas histórias, suas vidas. A história dos povos árabes, portanto, tem pouco a ver com o mapa geopolítico do século XXI. Por outro lado, seria um equívoco imaginar um passado homogêneo e glorioso, um suposto tempo mítico, quando a identidade árabe era plena entre todos os povos que, de alguma forma, fizeram parte dessa história”. As formas que tomaram as nações árabes constituem o fundamento do problema, pois sua unidade e coesão social foi imposta de fora, por potências colonialistas. Esse é um dos aspectos que será analisado pelo cientista político José Farhat, que ministrará a aula 2, focada principalmente nos países do Levante, Síria, Líbano, Arábia Saudita e Iraque. “As fronteiras foram traçadas pelas grandes potências para melhor dominar; não há um acidente geográfico que possa definir a transição de um para outro país. O deserto que começa perto de Damasco vai até perto de Bagdá” Trata-se de um debate fascinante, que concentra a história do século XX, ao colocar em primeiro plano uma crítica da relação das potências ocidentais com o resto do mundo, assim como o jogo de interesses que desembocou nas duas grandes guerras, expõe cruamente a crise de valores tão característica do nosso tempo, ao demonstrar a quase impossibilidade de diálogo entre diferentes culturas e povos, e lança uma indagação sobre os limites da civilização, por incidir sobre conflitos que agitam e promovem todos os fundamentalismos.