Artistas arrecadam fundos para se apresentar a refugiados no deserto do Saara
A ideia da expedição, segundo a coordenadora do projeto “Cromossomos no Saara”, Aline Moreno, surgiu quando duas integrantes do grupo viajaram para o Marrocos e para o deserto. Na volta, pensaram que seria interessante realizar algum projeto por lá. Ao fazer uma pesquisa sobre a região, Aline encontrou o povo saarauí, que desde 1975 vive isolado devido ao conflito militar entre Marrocos e RASD (República Árabe Saharauí Democrática). “O que queremos é que eles possam ter as mesmas coisas que temos numa cidade, vivendo sem estar exilado, que é assistir a um espetáculo, se divertir e passar bons momentos”, afirma Aline. Acrescenta que o objetivo maior é “levar o riso, que faz bem e é de graça, como uma ferramenta de transformação social.”
A Expedição
O grupo partirá de Barcelona, na Espanha, e chegará a Tindouf, Argélia (África), onde estão os saarauís. Lá, três espetáculos diferentes serão apresentados. A expedição beneficiará diretamente cerca de seis mil crianças e indiretamente quase cento e cinquenta mil pessoas que se dividem por quatro acampamentos. “Vamos fazer um cortejo”, diz ela, que conheceu o local no mês de maio. “Eles estão tão estagnados, que quando veem algo diferente dá um brilho nos olhos”. Segundo Aline, será realizado também um workshop para um grupo de teatro local. “Com isso queremos instiga-los para que encontrem seus próprios palhaços e façam seus próprios espetáculos.”
Parceria
O Cromossomos foi formado em 2013 a partir do encontro de artistas do Brasil, Espanha, Itália e Chile, que desejam usar o humor, o teatro e a linguagem poética do palhaço como base de pesquisas, espetáculos e ações. Todos os integrantes são artistas profissionais. A ONG Palhaços sem Fronteiras, que apadrinha o grupo, existe há 20 anos e atua na Espanha e em outros 12 países. A ONG trabalha em zonas de conflito e em áreas que sofrem desastres ecológicos, como secas ou tsunamis. Conforme explica Aline, a ideia, quando voltarem da expedição, é levar esse grupo para o Brasil para continuar o projeto “do deserto do Saara ao deserto do Ceará”. “Trabalhar no sertão com as populações que acabam ficando automaticamente isoladas por causa da seca, sem ter acesso a muitas coisas.”
Financiamento coletivo
O valor mínimo da arrecadação colocada pelo grupo foi de 27 mil reais, que já foi alcançado, faltando ainda alguns dias para esgotar o prazo. Mas, de acordo com Aline, o valor real da expedição é de 35 mil reais. Houve um receio em colocar esse valor, já que financiamento coletivo não é muito conhecido no Brasil. “Estamos muito felizes”, comemora.
Estima-se que cerca de 168 mil saarauís - mulheres e crianças são a maioria – vivem na região. A língua nativa é um dialeto chamado Hassaniya, proveniente do árabe clássico, além do espanhol. É um povo que depende quase 100% de ajuda humanitária para sua subsistência.
As doações vão R$ 20,00 a R$ 1000,00 e podem ser feitas no site http://www.catarse.me/pt/cromossomos2014 até o dia 15 de outubro. Todas as pessoas que colaborarem com a campanha ganharão uma contrapartida, que podem ser fotos digitais da expedição ou a apresentação de workshop do Cromossomos (para um grupo fechado de 20 pessoas). Além disso, ao retornar para o Brasil, os artistas do grupo farão um bate-papo aberto ao público, em São Paulo, em local ainda não definido. Na ocasião será apresentado também o documentário com os registros da expedição. No site, é possível assistir ao vídeo da campanha.