A catástrofe e a vitória
*O artigo abaixo é um relato elaborado pelo Núcleo Edward Said de estudos, do Instituto da Cultura Árabe, presente ao Parlamento Europeu em Bruxelas, onde aconteceu, nos dias 30 e 31 de agosto, a Conferência Internacional da
ONU para a Sociedade Civil em Apoio à Paz Israelo-Palestina.
O próprio evento acontece no momento em que estamos prestes
a lembrar os 60 anos da nakba, a catástrofe que a criação de Israel significou para os palestinos. Mas ainda que a memória dos palestinos esteja recheada de tristezas e derrotas, agora em setembro testemunhamos uma importante vitória conseguida pela população civil que quer o fim do conflito, de ambos os lados. Para a população de Bil´in, a vitória foi a decisão da Corte Suprema de Israel que ordenou que a “cerca de separação” fosse movida para oeste, devolvendo à cidade parte da terra que lhe fora roubada. Ainda falta para termos uma Palestina, mas a vitória, também celebrada por ativistas israelenses, foi mais um passo em sua direção.
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60 anos sem esquecer a nakba
Nakba, ou catástrofe, termo que invoca a expulsão de 750.000 palestinos de suas casas em 1948, por ação direta ou temor aos massacres do exército israelense, foi um dos temas discutidos durante os dois dias (30-31 de agosto) em que centenas de pessoas lotaram os anfiteatros do Parlamento Europeu em Bruxelas, para participar da Conferência Internacional da ONU para a Sociedade Civil em Apoio à Paz Israelo-Palestina.
Com mais de 400 representantes inscritos da sociedade civil, essa foi uma das mais promissoras de uma série de Conferências do tipo, realizas pela ONU todos os anos. Termos, e idéias, que na Conferência de 2002 não se podiam mencionar, como o apartheid israelense, o direito ao retorno ou a iniciativa de realizar boicotes contra Israel (como maneira de pressioná-lo a acatar a Lei Internacional e realizar as principais resoluções da ONU) ganharam os debates.
O médico e líder palestino Mustafa Barghouti demonstrou que uma forma de apartheid, semelhante ao que vigorou na África do Sul, é precisamente o que existe hoje na Palestina. O Embaixador Paul Badji lembrou a todos que o direito de retorno (resolução 194 da ONU) não invoca a destruição do Estado israelense, e que ninguém está autorizado a abrir mão desse direito inalienável do povo palestino. Muitos foram aqueles que lembraram as ações não-violentas de boicotes contra a África do Sul, cheias de criatividade, inovadoras e bem-humoradas, como a prática de encher o carrinho de supermercado e logo se recusar a pagar pelos produtos sul-africanos porque se tratava de um Estado em franca violação da Lei Internacional. Não menos contundente, a fala de Clare Short, Membro do Parlamento Britânico: 'Estamos permitindo que este minúsculo pedacinho de terra esvazie toda a Lei Internacional, minando os acordos internacionais que o mundo necessitaria para fazer face a ameaças reais e urgentes como o aquecimento global”.
Os ativistas, lideranças de movimentos sociais, acadêmicos e parlamentares, reunidos no Parlamento Europeu clamaram por ações concretas. 'Chamamos a que a sociedade civil global se una a nós e às comunidades palestinas no exílio, em Israel e nos Territórios Palestinos Ocupados, para mobilizar por um ano de educação e campanhas, começando em 29 de novembro de 2007 e culminando em 15 de Maio de 2008, que deverá marcar um dia internacional de manifestação contra a nakba e a continuada negação dos direitos palestinos'.
Sem se perder em debates sobre as divisões internas da representação política palestina - e condenando o fato do governo de união nacional, que vigorou por cerca dois meses, simplesmente não ter recebido reconhecimento internacional - ficou evidente que o movimento pela palestina está atingindo uma importante consciência do seu papel de ator internacional.