Líbano: não haverá guerra civil
Hassan Nasrallah, Secretário Geral do Hizbullah, declarou na sexta-feira 9 de maio de 2008 através da televisão que “Fouad Siniora não passa de um pobre funcionário de Walid Joumblat, que é, este mesmo, um funcionário de Condoleezza Rice e, por isto, foi o governo de Walid Joumblat quem decidiu a confrontação”.
Um observador atento notará que todas as tentativas de solução para o impasse no qual vive o Líbano atualmente esbarra em Joumblat. Todos estão, situação e oposição, de acordo quanto à eleição do General Michel Sleiman para a presidência da república, mas – e é neste, mas, que reside o problema – a maioria situacionista não quer uma solução para a crise libanesa de acordo com o plano de três pontos adotado durante a última reunião dos ministros das relações exteriores dos países árabes, reunidos no Cairo dia 6 de janeiro deste ano de 2008, preconizando: 1) a eleição imediata de Sleiman, para a presidência da república, reconhecendo-lhe um papel de árbitro supremo entre as facções; 2) a formação de um governo de união nacional cuja composição seja tal que nenhuma das partes, as atuais situação e oposição, possa impor ou bloquear qualquer decisão e, em caso de desacordo, o Presidente da República terá a última palavra; e 3) a realização de eleições com base em nova lei eleitoral.
A maioria situacionista não aceita estas medidas e quer eleger o presidente sem qualquer outro compromisso.
Isto obviamente significa que tudo continuará como dantes, pois o presidente da república não terá outra saída a não ser convocar Saad Hariri, por ser sunita e por ser líder da maioria, para formar o novo governo, revestido de toda a legalidade que os atuais detentores do poder não têm. Hariri, todo mundo sabe, é o representante da Arábia Saudita –e por trás desta, dos Estados Unidos e de Israel, no Líbano.
Um governo de união nacional sem o poder de veto, quer do atual grupo situacionista majoritário ou da oposição liderada pelo Hizbullah, impedirá manobras da maioria para impedir o avanço na solução definitiva da crise na qual vive o Líbano e que vai além, muito além, da eleição de um presidente da república.
A nova lei eleitoral, uma das bandeiras pela qual a frente nacional lutou durante a Guerra Civil, contra os aliados de Israel que governavam o Líbano, prevê a eliminação da divisão do país em partidos religiosos, uma praga incentivada pelo Império Otomano em seu tempo, e pelos Impérios francês e britânico que sucederam àquele.
Enquanto isto, a Resistência oposicionista libanesa se fortalece cada vez mais e os Estados Unidos e Israel têm pressa. Estes têm fracassado em todas as iniciativas que empreendem e projetos que traçam para a região e notadamente através do governo títere do Líbano - e é através do Líbano que querem atingir a Síria e o Irã, o que irá se refletir sobre o Iraque e o Afeganistão.
Para agilizar o processo, em reunião do Conselho de Ministros do Líbano, na última segunda-feira, dia 5 de maio corrente, foram tomadas as seguintes decisões: a primeira mandando abrir um inquérito sobre a rede de comunicações do Hizbullah e a segunda demitindo o chefe de segurança do Aeroporto Internacional de Beirute, brigadeiro-general Wafic Choucair.
Em circunstâncias normais, medidas administrativas rotineiras que nem mereceriam uma reunião ministerial, circunscritas aos respectivos ministérios da Defesa e das Comunicações resolveriam o problema, mas a atitude governamental gerou imediatamente uma reação da oposição, representada pelo braço armado do Hizbullah.
O governo queria tirar Choucair do caminho para permitir que no Aeroporto Internacional de Beirute se instalassem a CIA e o FBI - e com estes o Mossad, num local ideal para este tipo de operações, ao lado da pista aeroportuária para a chegada e saída de homens e materiais destinados a controlar o Líbano e a região. A rede de comunicações do Hizbullah monitorava o aeroporto e impedia as movimentações dos homens de inteligência estadunidenses e israelenses.
As medidas tomadas pela Resistência libanesa foram eficientíssimas, ocupando a parte leste de Beirute e fechando o aeroporto. Quando o partido de Joumblat, o dito Partido Progressista Socialista, reagiu, foi exemplarmente vencido pelas forças da oposição. Joumblat jogou a toalha. Os outros partidos situacionistas não ousaram ir à rua.
Como demonstração de que Hizbullah à frente da Resistência não queriam formar um governo dentro do governo, como alegaram os governistas, firmou-se acordo com o Exército libanês que revogou as duas medidas do governo e assumiu o lugar dos combatentes que se retiraram para suas bases.
Os ministros das relações exteriores dos países árabes, novamente reunidos, no Cairo, para tratar da crise libanesa, não chegaram a acordo sobre uma resolução, pois, com base em projeto de resolução patrocinado pelos maiores aliados dos Estados Unidos, Arábia Saudita e Egito, não conseguiram votos suficientes para o documento, implicitamente condenando o Hizbullah. Os que apoiaram foram: Arábia Saudita, Bahrain, Egito, Jordânia, Kuwait, Líbano e Emirados Árabes Unidos. Todos eles, ou têm forças estadunidenses estacionadas em seus territórios ou gostariam que lá estivessem.
O governo libanês fracassou, o país está pronto para seguir em frente, eleger o presidente, compor um novo governo e partir para as eleições de um novo parlamento. Para o bem do Líbano e de seus verdadeiros amigos, não haverá uma nova guerra civil.