O caso Benazir: uma hipótese a considerar
O que pode haver em comum entre o assassinato de John Kennedy em 1963, os atentados de 11 de setembro de 2001 e o assassinato da ex-primeira ministra paquistanesa e líder oposicionista Benazir Bhutto, no último 27 de dezembro? A pergunta não se refere aos motivos dos atentados, e sim ao que há em comum na estrutura dos atos, na seqüência de suas etapas e no desfecho de cada um. O motivo da pergunta é a fragilidade das versões oficiais e as controvérsias sobre quem de fato cometeu o crime e por qual motivo. Passaram-se já 44 anos e persiste a dúvida: a quem interessava o assassinato de JFK? Desde 11/9/2001, os norte-americanos repetem a mesma indagação: quem derrubou as torres de Nova York? Quem atacou o Pentágono e por qual motivo? Nos dias atuais, é legítimo que surja a mesma pergunta sobre o assassinato da Benazir Bhutto. Qual versão que devemos aceitar: a do governo paquistanês ou a das testemunhas oculares? O governo alega que a líder da oposição morreu ao bater a cabeça em uma barra de ferro no teto do carro, quanto tentava fugir dos disparos do atirador, que em seguida detonou os explosivos presos a seu corpo. A oposição, convicta de que a Benazir foi atingida na cabeça por um tiro, rejeita essa versão e acusa o governo de esconder a verdade. Nos três atentados, algumas questões são idênticas. Limpeza imediata da área do crime, revelação do nome do criminoso antes de qualquer investigação e a morte do suspeito antes de qualquer confissão. De fato, no caso paquistanês, duas equipes de bombeiros lavaram intensamente a área do crime tão logo se consumou o assassinato, antecipando-se a qualquer investigação. Quase ao mesmo tempo, o governo apressou-se em denunciar o grupo Al-Qaeda, que por sua vez negou qualquer participação no atentado. Quanto ao atirador, morreu no local com a detonação de explosivos ligados ao corpo. A mesma seqüência ocorreu nos atentados de 2001, seja no WTC ou no Pentágono: imediata limpeza do local e pronta acusação à Al-Qaeda, que negou o crime. As duas torres gêmeas, atingidas por dois aviões, caíram misteriosamente logo em seguida. O prédio sete, um pouco distante das duas torres, cai também misteriosamente oito horas após, sem ser atingido por nenhum avião. Em 15 dias toda a área já estava limpa, milhares de toneladas de aço e entulhos foram tirados do local, apagando todo o cenário do crime e não permitindo investigações técnicas e coleta de material para análise. O lado atingido do Pentágono foi reconstruído em velocidade recorde e também sem uma investigação técnica qualificada. Os assassinos de Benazir e de Kennedy morreram logo após os atentados, embora de maneiras distintas. Lee Oswald foi morto a tiros e o paquistanês, como já foi dito, “explodiu-se”. É muito difícil acreditar que um atirador profissional de elite tenha resolvido explodir-se por conta própria, após cumprir sua missão. Em cenários políticos, o atirador, após terminar sua tarefa, se entrega à polícia ou tenta escapar – possivelmente de cabeça erguida, sentindo-se, na sua lógica, um herói. Operações suicidas são, nesses casos, praticadas apenas quando não há meio de usar o tiro. O “guerreiro” infiltra-se na multidão, aproxima-se do alvo e detona o explosivo, atingindo o alvo e a si próprio, além do público circundante. Partindo desse princípio, cabe então perguntar o que aconteceu realmente no Paquistão. A resposta leva a imaginar uma situação parecida com a que ocorreu no caso John Kennedy, em 1963, quando uma fonte de informação valiosa, o suposto assassino, foi eliminada. No caso paquistanês, bastaria que ao assassino, um “matador de aluguel”, fosse oferecido um colete à prova de balas para supostamente protegê-lo da reação dos agentes de segurança da candidata de oposição. Aos interessados no assassínio de Benazir pouco interessaria a sobrevivência do matador, bastando-lhes, suponhamos, prover seu colete com carga explosiva a ser detonada por controle remoto. E eis o crime com todas as características de um atentado seguido de suicídio. Não se trata de fato provado, naturalmente, mas de uma hipótese a ser pensada. Resta saber se ao governo paquistanês interessa apurar o assunto por este ângulo, tratando-se de um crime que afinal resultou tão absolutamente profilático, a começar pela morte do assassino e, em seguida, concluindo com o desrespeito a uma regra básica das investigações periciais sérias, que é a de isolar e preservar pelo tempo necessário todo o cenário do crime. Por que, nos três casos mencionados neste artigo, repetiu-se o mesmo esquema? A pergunta deve ser dirigida aos senhores que, nos três casos, ordenaram semelhante faxina. Material e humana.