O jogo de xadrez - A batalha

Ter, 02/01/2007 - 00:00
A palavra xadrez vem do sânscrito, “chaturanga”, passando pelo árabe, “chataranj”. O número oito, que cobre as bordas do tabuleiro, representa tanto a eternidade imutável como a auto- destruição. O jogo viajou pela Pérsia, marcou a vida culta no Alandaluz e caminhou à Provença francesa. Apesar da distante origem e deslocamento, o jogo de xadrez parece ter pouco se modificado. Contam que outrora, tratava-se o tabuleiro de um campo de batalhas cósmicas, no qual mediam forças os seres celestes como os devas, anjos e demônios. Para os árabes, que conheceram o xadrez através dos persas em plena expansão do islã, a disputa no jogo associou-se à arte bélica desenvolvida ao longo da Idade Média. No final do século XI, Ibn Ammar e Afonso VI disputaram a autonomia de Sevilha num jogo muito parecido com o que conhecemos hoje: a peça da “rainha” era o vizir, que em persa dizemos fersan, o que derivou para provençal como fierce e daí chegou à vièrge em francês, para então evoluir à rainha. Os “bispos”, no jogo original, eram elefantes. A cavalaria e os carros de combate se juntaram ao símbolo da torre, representando o armamento pesado, com movimentos mais limitados que no jogo de hoje. Os soldados da linha de frente são os peões da primeira fila no tabuleiro. O xadrez se implantou como o jogo dos príncipes e de toda a classe guerreira. O jogador, fosse o vizir ou um comerciante, deveria respeitar as leis do mundo em batalha: conhecimento e equilíbrio. Frente às diversas possibilidades de cada lance, o jogador controlaria a paixão para não fazer escolhas equivocadas. Uma jogada mal concebida o levaria à limitações futuras, tornando as estratégias cada vez mais difíceis até o encurralamento. Xeque-mate: o rei está morto! O tabuleiro em movimento é o jogo, a batalha, o mundo em ação. O guerreiro sábio tem claro o vínculo entre o conhecimento das leis e a liberdade de escolha. Só transgride quem conhece e arrisca. Superar-se é também uma escolha.