Os Cristãos do Iraque

Dom, 06/01/2008 - 22:00
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No Brasil, um dos maiores países católicos do mundo, na hora de se mencionar o povo árabe, são poucos os que se lembram das minorias religiosas, entre elas os católicos árabes que vivem no mundo árabe há muitos séculos. Os cristãos árabes estão principalmente no Iraque (antiga Mesopotâmia), Síria, Jordânia, Palestina, Líbano e Egito...No Brasil, um dos maiores países católicos do mundo, na hora de se mencionar o povo árabe, são poucos os que se lembram das minorias religiosas, entre elas os católicos árabes que vivem no mundo árabe há muitos séculos. Os cristãos árabes estão principalmente no Iraque (antiga Mesopotâmia), Síria, Jordânia, Palestina, Líbano e Egito, países esses que foram os primeiros do mundo a adotar o cristianismo ainda quando seus habitantes não eram considerados árabes. No século I e a partir do ano 33 d.C., o apóstolo São Tomé levou o cristianismo para a Mesopotâmia, onde hoje se localiza uma das mais antigas igrejas do mundo. Os cristãos do Iraque incluem os Caldeus, que são católicos, e os Assírios, que pertencem a Igreja Nestoriana. Os Caldeus ainda falam o aramaico, a língua de Jesus Cristo. Além desses dois grupos há também os católicos, os ortodoxos Siríacos, os armênios e os católico-romanos, de rito latino além de outros em números menores. Embora não haja um recenseamento preciso dos cristãos do Iraque, mas estima-se que sejam de um milhão de pessoas, sendo católicos 650.000 aproximadamente. No dia 17 de outubro de 2007, o Papa Bento XVI nomeou 23 novos cardeais. Um deles foi o iraquiano Arcebispo da Patriarca de Babilônia dos Caldeus Emmanuel III Delly, com 80 anos de idade. Esta escolha tem sua importância tanto para a igreja católica no mundo árabe em geral, quanto para o Iraque, mostrando a importância dos cristãos neste país devastado pela guerra. De acordo com o artigo 39 da nova constituição iraquiana, todos os iraquianos são livres para seguir as regras da suas próprias religiões e crenças. Os cristãos e os mulçumanos conviveram pacificamente por séculos, mas, recentemente, os sinos de perigo estão alertando que a população cristã iraquiana está diminuindo. Do total de um milhão de cristãos antes de guerra de 2003, hoje cerca de 400 mil apenas ainda residem no Iraque. A confusão e a falta de segurança que dominaram o país nesses quatro anos, abriram espaço para que alguns grupos radicais se manifestassem e assim mulheres são obrigadas a usar o hijab (o véu) e, caso não usarem, podem ser atacadas pelos militantes radicais. Muitas igrejas foram saqueadas, destruídas e ficaram quase vazias ou abandonadas mesmo na época do Natal que particularmente este ano passou sem ser celebrado no Iraque, pois a população cristã não se sente feliz com tudo que está acontecendo. A Igreja Caldeia Católica no Iraque mostrou suas preocupações no caso da aplicação da shari’a (a lei religiosa muçulmana) que se tornou a única fonte de legislação no Iraque; o que pode causar graves problemas em relação à liberdade religiosa, transformando as minorias do país em cidadãos de segunda categoria. As autoridades da igreja iraquiana estão pedindo a separação entre o estado e a religião para que todos os iraquianos possam cumprir suas tarefas de cidadania e satisfazer a Deus. O assassinato do padre Raghid Aziz Kanni junto com três diáconos depois a missa na cidade de Mosul no dia 02/06/2007 num carro dirigido por ele, foi chocante e acabou sendo condenado tanto pelas autoridades religiosas quanto a civil. Três dias depois a Associação dos Eruditos Muçulmanos do Iraque, e na sua declaração sob o numero 422, condenou o crime e responsabilizou o governo e as forças da ocupação pela situação precária de segurança que esta dominando o país entre “terror, assassinato e destruição”. Mesmo com a diminuição de 60% da violência, de acordo com as recentes pesquisas, o perigo que atinge a população desde a queda do ex-regime em 2003, está ainda em alta. Os cristãos do Iraque sofrem mais, justamente por serem um grupo minoritário pacífico, tornando-os vulneráveis no meio de um caos de alguns grupos armados, sofrendo ameaças, atentados, seqüestros e chantagens com o objetivo de obrigá-los a deixar o país. “Hoje os cristãos estão sendo perseguidos num país onde cada um está lutando por seus interesses pessoais. Eles viviam no Iraque e durante anos faziam o possível contribuindo com o desenvolvimento junto com seus irmãos muçulmanos”(1), diz o cardeal Delly. Ao mesmo tempo, o cardeal critica as tropas de ocupação, dizendo que Deus não deseja o que está acontecendo no Iraque, pois todos os iraquianos sofrem com isto. No Iraque de hoje, muitos cristãos resolvem fugir da perseguição religiosa, indo para outros países árabes, principalmente Síria e Jordânia. Muitos deles tentam chegar à Europa. Quase cem mil iraquianos hoje moram na Síria e, entre vinte e cinco e trinta mil moram na Jordânia. Os refugiados cristãos não têm saída e nem perspectiva. Por um lado, não têm condições em permanecer nos países árabes vizinhos e, por outro, enfrentam grandes dificuldades em obter vistos para viajar aonde poderiam retomar suas vidas. Mesmo aqueles que contaram com o apoio das Nações Unidas decepcionaram-se com o pouco reconhecimento de sua situação. O novo cardeal, Emmanuel III Delly, fez um apelo na véspera do Natal através a mídia internacional para que os cristãos iraquianos que fugiram do Iraque, voltassem e participassem da reconstrução de seu país devastado pela guerra, apesar da situação atual de perigo. O Cardeal Delly não perde a esperança de uma situação melhor. E, mesmo assim, se a situação não se reverter, os cristãos iraquianos serão obrigados a seguir deixando o país. As promessas do governo iraquiano em proteger e reconhecer os direitos da população cristã do Iraque devem ser colocadas em prática, não somente assegurando-lhes seus direitos como cidadãos iraquianos, mas também, ter o reconhecimento junto às autoridades religiosas para que esses possam orientar a população sobre a importância de proteger, manter e valorizar as minorias iraquianas como um modelo de um estado árabe civilizado e democrático, que abre seus braços para todos, independente de suas crenças ou etnias. 1 Veja o link: http://www.st-adday.com/