Uma oportunidade para o Líbano
Os confrontos ocorridos no Líbano na última semana, que provocaram entre muitos analistas o temor de uma nova guerra civil no país, podem, ao contrário, levar à solução do impasse político que há meses vem paralizando o governo e exacerbando os ânimos dos partidos e facções rivais.
A crise política iniciou-se em novembro de 2006, quando seis ministros xiitas abandonaram o gabinete; no ano seguinte, o impasse entre o governo sunita-cristão e a oposição xiita persistiu, e ao término do mandato do presidente Lahoud, em novembro de 2007, não houve consenso para a eleição de um novo nome.
Na quinta-feira, dia 8 de maio, a aliança sunita-cristã no governo (apoiada pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita) decidiu atuar contra o Hizbollah (apoiado pelo Irã e pela Síria), proibindo as atividades de sua rede de comunicações e destituindo o chefe de segurança do aeroporto. A resposta foi imediata. Em menos de um dia, as áreas sunitas e cristãs foram controladas pelas milícias xiitas do Hizbollah (e suas milícias foram neutralizadas por esta), mostrando um novo balanço de poder no país.
OPORTUNIDADE
O espectro de uma nova guerra civil levou as facções discordantes a amenizar o tom dos discursos, defendendo uma solução política para os problemas. O Hizbollah, logo no sábado, entregou ao Exército os edifícios públicos que havia tomado ao governo, que por sua vez absteve-se de recorrer à força e solicitou a retirada de todas as milícias das ruas, ficando estas entregues ao controle do Exército – visto como única instituição capaz de angariar o respeito de todas as facções libanesas. Outros partidos e alianças logo se uniram aos esforços para encontrar uma solução negociada, o que aparentemente deve ocorrer com a nomeação do chefe do exército, Michael Suleiman, para a presidência, e uma reforma na lei eleitoral antes da convocação de novas eleições para 2009.
Surge assim uma oportunidade única, e que reflete a possibilidade de um novo Oriente Médio: um governo de coalizão entre grupos vinculados ideologicamente, treinados e armados, respectivamente, pelos Estados Unidos e pelo Irã. Isto evidenciaria, sobretudo, a inutilidade de se procurar a solução das diferenças entre xiitas, sunitas, cristãos e judeus por meio da força – o que reforçaria o fracasso da “diplomacia” estadunidense na área. E talvez voltasse à existência o antigo modelo médio-oriental – e especificamente libanês – de convivência inter-sectária e superação das diferenças por meio da negociação e do dialogo.