10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema: debate reflete sobre contribuição árabe para a identidade brasileira por meio da obra de Jorge Amado

Seg, 31/08/2015 - 14:39
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A presença árabe na obra de Jorge Amado foi tema de encontro de quinta-feira, 27, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo (CCBB-SP). O sociólogo e historiador Jair Marcatti conversou com o público após a exibição de “Paraíso dos anjos caídos”, filme egípcio baseado no livro do escritor baiano “A morte e a morte de Quincas Berro D’água” – que fala da morte social e física de um homem por volta dos 50 anos, com traços de realismo fantástico - e dirigido por Oussama Fawzi. No Brasil, a história se passa na Bahia, na produção egípcia, no Cairo. A mesa de debate também contou com a participação do músico Sidnei de Oliveira e foi mediada pelo curador da Mostra, Geraldo Adriano Godoy de Campos.

Para Marcatti, que também é professor de relações Internacionais da ESPM, por meio do trabalho de Jorge Amado, que já foi traduzido em 55 países e em 49 idiomas, é possível compreender melhor a cultura do Brasil. “Jorge Amado é um intérprete de um jeito de entender o Brasil, nos fornecendo uma chave de interpretações para entender as identidades brasileiras, contemplando a questão árabe, que é por demais evidente nos personagens e em toda a obra dele”.

Segundo o sociólogo, o grande problema da compreensão do Brasil está na forma de enxergá-lo, não sob um ponto de vista de uma “unidade Latino-Americana superficial” nem americano nem europeu. “Há questões que precisam ser entendidas de dentro”, pontuou.

Os grandes sujeitos que deram pistas para pensarmos a questão brasileira, ressaltou, são aqueles vindos da música, da literatura, do cinema. “Em todas essas produções há sempre a questão: o que é o Brasil? O que nos monta como sociedade?”. Ainda nas palavras de Marcatti, que estuda a cultura brasileira em suas manifestações diversas, com destaque para as expressões literárias e musicais do país, “há uma constelação complexa de possibilidades de mestiçagem e muitas vezes deixamos de lado a importância que as contribuições árabes têm na formação da identidade brasileira”.

Geraldo Adriano Godoy de Campos também salientou que os aspectos da cultura árabe na obra de Jorge Amado são muito marcantes e que o filme egípcio em questão permite um duplo espaço do encontro e reflexão: “o do cinema com a literatura, que é sempre um espaço muito singular, uma transposição para outra linguagem que vai trazer um conjunto de elementos muito particulares para a nova obra que surge, e, ao mesmo tempo, o encontro de dois universos culturais aparentemente distantes, mas muito mais próximos do que imaginamos”.

Presença árabe na música brasileira e a Mostra

Sidnei de Oliveira, que apresentou aspectos rítmicos da influência árabe na música nordestina e na gaúcha, disse que a influência árabe está imersa na cultura brasileira e que as pessoas acabam resgatando-as, às vezes, sem perceber.” Esta, segundo o músico, é a grande importância da 10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema e do diálogo entre as várias artes. “É possível ver algo que está velado. Por meio da literatura, da música - a base da nossa cultura popular. Vemos que tem tanto a questão indígena, como a negra e muito mais forte a questão árabe, que foi esquecida”, explicou. “Agora está havendo um resgate para mostrar o que é realmente essa miscigenação física e cultural brasileira”.

A presença da música no âmbito do evento também foi motivo de elogios de Jair Marcatti. “A mostra ganhou essa dimensão de um grande festival da cultura árabe”, destacou. “E talvez a música seja a expressão cultural com mais facilidade para fazer pontes interculturais, promover diálogos entre povos, no m mundo diplomático, estados, caminhos formais e institucionais da política”. O Brasil, segundo ele, sempre se destaca neste cenário. “A Mostra, nesta dimensão maior, também contempla essas questões”, acrescentou.  

Para conhecer a programação completa da Mostra, acesse 

http://www.mundoarabe2015.icarabe.org/inicio