ICArabe e Câmara de Comércio Árabe Brasileira lançam o concurso de cinema “Os Árabes e a 25 de Março”
Com curadoria de Silvia Antibas, diretora de Cultura da Câmara Árabe, e Geraldo Adriano Godoy de Campos, diretor Cultural do ICArabe, a iniciativa, que integra a programação dos 10 anos do Instituto, tem como objetivo preservar e difundir a memória cultural da comunidade árabe no Brasil, por meio do incentivo à produção de curtas-metragens que abordem a presença da imigração árabe e suas manifestações culturais na Rua 25 de Março.
Além de um dos grandes centros comerciais do mundo, a 25 de Março é um dos maiores símbolos da imigração árabe no Brasil. O dia 25 de março não marca apenas o aniversário do famoso endereço no calendário oficial da cidade de São Paulo, mas também o Dia Nacional da Comunidade Árabe no Brasil, instituído desde 2008.
Silvia Alice Antibas ressalta que a ideia surgiu com a conscientização da falta de preservação da memória da região. “Há grande carência de registro sobre a história da 25 de Março e entorno. Poucos livros de pesquisa histórica, raras fotografias e vídeos que mostram basicamente o grande movimento comercial na época das grandes festas nacionais. O patrimônio arquitetônico e cultural vem sendo gradativamente engolido pelo exuberante comércio local e temo que a história e as tradições dos primeiros comerciantes árabes que lá se instalaram desapareçam inexoravelmente. A ideia do concurso, além de contar história e estórias, é formar um acervo que registre, sob diferentes pontos de vista, uma imigração de sucesso de um povo que veio ao Brasil para dar certo”.
Para Geraldo Campos de Godoy, a contribuição dos imigrantes árabes para o desenvolvimento socioeconômico da região da 25 de Março, espelho da grandiosidade da própria metrópole, foi fundamental. “Principalmente pela atividade da mascateação, que introduziu no Brasil hábitos culturais de compra e venda que permanecem até os dias de hoje, como é o caso da compra a prazo. Aos poucos, prosperaram na região e construíram casas, restaurantes e lojas de tecidos e móveis. A trajetória da imigração árabe nessa região é marcada por lembranças, medos, sonhos e conquistas que merecem ser contadas nas telas do cinema."
O concurso:
A competição será aberta a diretores de cinema e apreciadores da sétima arte. Os interessados em participar poderão se inscrever a partir de 13 de junho, quando a plataforma digital do concurso e o regulamento serão disponibilizados, até 6 de agosto. O envio do filme deverá ser feito através da plataforma digital Short Film Depot e serão aceitos curtas-metragens com duração máxima de 15 minutos, filmados em formato digital. Os competidores concorrerão a três prêmios: Prêmio Oficial do Júri (R$15.000,00), Prêmio Júri Popular (R$10.000,00) e Prêmio Jovens Realizadores (R$ 6.000,00). O regulamento será detalhado no site do concurso e, nas próximas semanas, nos sites do ICArabe, da Câmara Árabe e da ANBA – Agência de Notícias Brasil Árabe.
Uma rua, muitas histórias
Os primeiros fluxos de imigrantes árabes que chegaram a São Paulo no final do século XIX concentraram-se na região central da cidade, mais especificamente na 25 de Março e em suas adjacências, como a Ladeira Porto Geral e as ruas Cavalheiro Basílio Jafet, Comendador Abdo Schahin, Barão de Duprat, Afonso Kherlakhian, Senador Queiróz, Carlos de Souza Nazaré.
Essa concentração, que fez com que a 25 de Março fosse identificada na cidade como a “rua dos árabes”, ocorreu devido à forte presença do comércio, que foi o setor da economia no qual os árabes majoritariamente se estabeleceram e em que se destacaram, atuando na atividade da mascateação e no comércio popular e varejista, ligado ao setor de armarinhos, tecidos e confecções e, posteriormente, no setor moveleiro.
O sucesso dos primeiros imigrantes árabes no comércio resultou em ascensão social e atraiu novos fluxos dos países árabes para o Brasil. Diante desse cenário, os árabes que se estabeleceram no país durante o século XX fixaram-se não somente em outras regiões da cidade de São Paulo, como também em outros estados, como Rio de Janeiro e Paraná. Atualmente, o Brasil possui pouco mais de 10 milhões de imigrantes e descendentes árabes, constituindo uma das maiores colônias estrangeiras do país.
No entanto, apesar do êxito do processo migratório e do elemento árabe ser estruturante do que hoje conhecemos como “cultura brasileira”, a produção cinematográfica de temática árabe tem pouco espaço nas salas de cinema da cidade de São Paulo. No circuito comercial, mais de 50% da programação é preenchida pelo cinema norte-americano e sobra pouco espaço para produções de outros países. No caso do circuito cultural, que engloba mostras e festivais, os filmes de temática árabe também não possuem representatividade significativa. A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2013, por exemplo, tinha em sua programação de 350 filmes, apenas cinco de temática árabe, ou seja, somente 1,4%.
É a Mostra Mundo Árabe de Cinema, promovida pelo ICArabe, que tem destacado a produção dos países árabes no Brasil. Desde sua primeira edição, realizada em 2005, o evento busca preencher essa lacuna na programação da cidade de São Paulo ao possibilitar o acesso a filmes que retratam a diversidade política, social e cultural dos países árabes, bem como produções brasileiras e latino-americanas com temática relacionada à imigração árabe, aos países árabes e sua relação com o Brasil e a América Latina. Nesse contexto, foram apresentados em caráter inédito filmes de temática árabe produzidos no Brasil e na América Latina, como por exemplo: a coprodução líbano-brasileira “A Última Estação”, de Márcio Curi; o argentino “1001 Noites na Patagônia”, de Javier Áctis, e o brasileiro “Constantino”, de Otávio Cury. Na última edição, foi criada a “Sessão Diálogos Árabe-Latinos”, destinada a abrigar filmes com esta característica, que contou com bom público em suas exibições. Porém, mesmo com esse espaço aberto pela Mostra, a quantidade de produções brasileiras e latino-americanas de temática árabe ainda é escassa.
Com o concurso de cinema “Os Árabes e a 25 de Março”, o ICArabe e a Câmara Árabe promovem mais uma importante iniciativa para estimular a produção de filmes de temática árabe e aprofundar o debate sobre essa cultura, que possui papel central na formação do processo identitário de nosso país.