Marcia Dib lança livro sobre a música árabe

Seg, 12/08/2013 - 10:38

Quando Marcia Dib, bailarina, coreógrafa e professora de danças árabes, fez sua dissertação de mestrado, “A diversidade cultural da Síria através da música e da dança”, pela FFLCH/USP, em 2009, sentiu falta de material teórico sobre música árabe, sobretudo em português. Para fazer as referências necessárias no trabalho, ela precisou escrever um capítulo falando somente sobre a estrutura e principais características da música árabe. “O assunto revelou-se muito mais rico e complexo do que eu imaginava, ocupando mais de cem páginas do trabalho. Percebi que havia uma lacuna importante a ser preenchida”, conta.

Com base neste capítulo especial e em pesquisas pós-mestrado, nasceu o livro “Música árabe - expressividade e sutileza”, que Marcia lançará neste sábado, dia 17, com palestra aberta ao público sobre o tema, na feira do Livro do Esporte Clube Sírio. Esta é a 2ª edição da obra.

Parte de um conjunto de saberes, a música na cultura oriental não é vista de forma isolada, de acordo com a autora, que é descendente de sírios e estudou música e dança árabes no Brasil, nos Estados Unidos e na Síria.

"É uma arte integrada com outras áreas do conhecimento”. Ela está relacionada à matemática, à geometria, às fases da vida e da lua. As melodias eram usadas para cura nos hospitais e ainda hoje há músicos árabes que trabalham no sentido de potencializar seus efeitos.

Marcia conta que a música árabe tem por objetivo conduzir o ouvinte de um ambiente sonoro a outro, de forma a fazê-lo usufruir de seus benefícios. “Os sons têm o poder de atingir as pessoas de maneira profunda, mesmo que não consciente. É baseada em tratados muito antigos, constantemente reavaliados. Tem raízes profundas e, ao mesmo tempo, uma vitalidade contagiante”, diz. Além disso, a métrica rítmica é definida pela poética, formando “um conjunto poderoso de sons e palavras”.

De modo definitivo, a música está integrada ao dia a dia dos orientais. “Os árabes têm bastante conhecimento de música e discutem o assunto, mesmo em lugares informais, em cafés e ônibus, o que não é comum nos países ocidentais. Como a nossa sociedade é mais visual, nem sempre sabemos falar sobre algo invisível, como a música e os sons”.

A especialista explica que a música árabe trabalha sob o sistema modal. Os sons criam um ambiente sonoro em que as melodias acontecem de forma circular, em torno de uma nota central. Diferentemente do ocidente, onde a música é regida pelo sistema tonal, no qual várias notas são tocadas ao mesmo tempo, formando os acordes. “Os dois sistemas têm sua beleza própria, o modal propõe um descanso sobre uma nota central, usufruindo de seus sons; o tonal uma caminhada ao longo de tensões e relaxamento”. A autora afirma, no entanto, que há pontos em comum, em termos musicais, entre as duas culturas. Um exemplo é o modo de trabalhar a melodia, em forma de suítes, ou de perguntas e respostas, um legado deixado para o ocidente pelos músicos árabes e persas que dirigiram os primeiros conservatórios europeus. “Eles trouxeram seu conhecimento e forma de lidar com os sons”.

A música árabe na cultura brasileira

Sobre o papel da música árabe na cultura brasileira, Marcia acredita que a maior contribuição "é a possibilidade de entrar em contato com outros ambientes sonoros, uma maneira diversa de ver a música e o mundo”. Ela destaca ainda que seria interessante um diálogo entre a música árabe e a nordestina brasileira, porque em parte ela também é baseada no sistema modal.

O fato de haver muitos músicos contemporâneos estudando e praticando a música de outros países enriquece a música brasileira, ressalta: “É gratificante ver este movimento. Eu gostaria de ver mais músicos ensinando e executando a música árabe, e mais pessoas interessadas em aprender esta arte tão rica. É preciso estimular as pessoas a executarem a música árabe de forma integral, não somente como meio de incrementar a música ocidental.

Dança do ventre

Com relação à dança do ventre, a professora afirma que esta é a segunda modalidade mais praticada no Brasil e as dançarinas brasileiras são famosas em todo o mundo. O ponto positivo, segundo ela, é que isso ajudou a divulgar a dança. No entanto, há pessoas dançando com vulgaridade, pouca técnica e nenhum conhecimento sobre a sua cultura materna. “Existem diversas fantasias e estereótipos em relação à dança do ventre e eles são reforçados muitas vezes pelas próprias praticantes. É o velho problema relacionado à cultura árabe, sempre tratada como algo ‘distante’ e ‘exótico’, levando a um vale-tudo. É o lado triste desta profissão”, pontua.

Ela acredita, contudo, que há bons professores, que oferecem cursos de qualidade, assim como bailarinas que dançam com sensibilidade, profissionalismo e competência. A professora acrescenta que hoje há meios diversos de uma praticante de dança do ventre obter informação e conhecimento sobre a dança. Além das aulas práticas, também as teóricas que abordam a cultura e a música árabes, discussões sobre ética profissional e comportamento frente aos colegas e o público. “Sei que em toda profissão existem os curiosos e os oportunistas, mas sempre existe o que eu chamo de ‘turma da resistência’, que são as pessoas que buscam algo além do sucesso imediato e a todo custo”, avalia.

Dança e saúde

Recentemente, o portal G1 mostrou uma matéria sobre pesquisa desenvolvida na Unesp Botucatu em parceria com Famesp, fundação médica que apoia os serviços de saúde, comprovando que a dança do ventre tem aumentado a autoestima de mulheres em tratamento do câncer de mama. A dança é oferecida às pacientes do Hospital das Clinicas daquela cidade.

Marcia conta que conheceu e teve alunas que venceram a doença e enfatiza a importância do ato de dançar no processo de reconstrução da autoconfiança das pacientes. “A dança ajuda em muitos sentidos, auxilia a olhar todas as possibilidades de movimento e beleza e a não restringir o corpo e a alma a uma mama ou a uma parte doente”.

Segundo a professora, embora seja difícil no começo, por vários motivos, como dores e vergonha, com o tempo a aluna acaba se soltando e se entregando ao prazer do movimento, de se olhar no espelho e ver sua beleza como um todo. “Ela volta a ser uma pessoa inteira, por dentro e por fora. É muito bonito assistir este processo. Outro benefício é atenuar os efeitos físicos e emocionais da menopausa súbita que pode ocorrer em pessoas que passam pela quimioterapia”, destaca.

Serviço:

Lançamento e sessão de autógrafos do livro "Música árabe - expressividade e sutileza" e palestra com Marcia Dib

Dia 17 de agosto, das 10h às 18h - palestra às 16h

Esporte Clube Sírio - Av. Indianópolis, 1192
tel.: 11 2189 8500